segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

A estranheza de uma experiência interior

"A ideia de uma experiência interior era tão estranha para os gregos que viviam até mesmo os seus sonhos como se tivessem lugar no mundo. (...) Sonhos, sentimentos e, especialmente, estados de espírito não eram experimentados pelos gregos homéricos como tendo lugar no espírito dos indivíduos. Pelo contrário, os estados de espírito eram públicos e partilhados e as pessoas sentiam-se arrastadas num estado de espírito partilhado como gotas de chuva num furacão.

Um deus é, na terminologia de Homero, um estado de espírito ou disposição que nos coloca em sintonia com o que mais importa numa dada situação, permitindo-nos responder de forma adequada sem pensar.
Esta concepção homérica dos deuses coloca outras exigências à vida bem vivida. Porque se o melhor tipo de vida humana requer a presença dos deuses, então, os melhores tipos de seres humanos têm de convidar os deuses exprimindo gratidão e admiração na sua presença. Assim sendo, fomentar uma apreciação por aquelas situações da vida em que acontecem coisas favoráveis fora do nosso controlo, e desenvolver um sentido de gratidão e admiração ante tais situações - também isso é necessário a uma vida bem vivida. Quando criamos em nós mesmos a capacidade para este tipo de admiração e gratidão tornamo-nos um convite vivo aos deuses."
Um mundo iluminado, de H. Dreyfus e S. D. Kelly (99-100)

Sem comentários: