domingo, 3 de maio de 2020

"Sou um homem ridículo. Agora quase me tomam por louco. O que significaria ter ganho em consideração, se não continuasse a ser um homem ridículo. Mas eu já não me aborreço por causa disto, agora já não guardo rancor a ninguém e gosto de toda a gente, ainda que se riam de mim... sim, senhor; agora, não sei porquê, sinto por todos os meus semelhantes uma ternura especial. Teria muito gosto em acompanhá-los no vosso riso... não, precisamente, nesse riso à minha custa, mas pelo carinho que me inspiram, se não me fizesse tanta pena ver-vos. É pena que não saibam a verdade. Oh, meu Deus! como é doloroso ser um só a saber a verdade! Mas isto não o compreendem eles. Não, nunca o compreenderiam."

Dostoiévski, O Sonho de Um Homem Ridículo, quasi, 2008, p.9