segunda-feira, 13 de março de 2006

A serpente que morde a cauda

Agora que Nuno Crato expôs as fragilidades e o ridículo das concepções que orientaram, nos últimos trinta anos, as ciências de educação em Portugal; agora que os quadros de professores estão praticamente cheios, o governo nacional quer implementar um exame aos candidatos a professores do ensino público. Deu-se conta de que afinal nem toda a gente pode ser professor e deu-se conta de que as escolas estão repletas de professores que não sabem o suficiente para poder ensinar alguém a ler, escrever ou falar acerca do que quer que seja. A medida é gratuita e risível. Em vez de atacar as causas – como foi possível chegar a este estado de coisas? –, ataca os efeitos – como remendar os buracos criados por tal situação?
Partindo da hipótese altamente improvável de que haverá em Portugal alguém capaz de conceber um exame que realmente separe o trigo do joio, não se percebe por que razão não se há-de realizar um exame também a candidatos a professores do ensino superior? Não está também o ensino superior cheio de professores que não deveriam sê-lo? E não é este ensino directamente responsável pela ignorância que preenche as escolas dos outros níveis de ensino? E o que fazer com os estágios pedagógicos que, como toda a gente reconhece, não servem para nada de pedagogicamente útil e são orientados por ideias descabidas? E o que fazer com os quadros existentes? Enviá-los outra vez para a Universidade?

(LFB)

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