segunda-feira, 8 de julho de 2013

Narciso

"É, talvez, o mais típico representante do indivíduo "ultracontemporâneo": exibicionista e espectador de exibicionismos, em perpétua contemplação de si próprio - como se estivesse "enfim só" com a sua imagem - mas desesperado, porque não pode fundir-se nela. Apaixonado pela sua imagem: a preocupação por si próprio (mas despojada da sua componente essencial, que era, para Sócrates, a preocupação pelo outro) invadiu  a vida íntima de cada um provocando imediatamente esta geral depressão que supomos poder apaziguar com substâncias diversas ou outorgando-nos uma quantidade de direitos totalmente novos e aparentemente sem limites: para se "realizar", o "ultracontemporâneo" tem direito a tudo e o direito de tudo. Mas, uma vez adquirido, esse novo direito de ser "ele próprio" deixa-o insatisfeito e ansioso por nova "realização".

Françoise Parot, Cem palavras para conhecer a Psicologia, (tr. M.R.) Teorema, 2004, p.162.                   

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