terça-feira, 17 de junho de 2008

O culto de Che, por Paul Berman

"O culto de Che Guevara é algo digno de nota na frieza moral do nosso tempo. Che foi um totalitário. Não conseguiu nada mais do que o desastre. Muitos dos primeiros lideres da revolução Cubana favoreciam uma direcção democrática ou social democrática para a nova Cuba. Mas Che era um defensor da facção dura pro-soviética e a sua facção ganhou. Che presidiu aos primeiros esquadrões da morte da revolução Cubana. Ele fundou o sistema dos "campos de trabalho" em Cuba - o mesmo sistema que, por fim, serviu para encarcerar homossexuais, dissidentes e vítimas do SIDA. Conseguir matar-se e matar muitas outras pessoas era algo central na imaginação de Che. No famoso ensaio onde apelou para "dois, três, muitos Vietnames", também falou de martírio e conseguiu escrever uma série de frases arrepiantes: "O ódio como um elemento de luta; ódio inquebrável pelo inimigo que transporta um ser humano para lá das suas limitações naturais tornando-o numa máquina de espalhar a morte que seja efectiva, violenta, selectiva e de sangue frio. É nisto que os nossos soldados se devem tornar..." - e por aí adiante. Che foi morto na Bolívia em 1967, liderando um movimento de guerrilha que não conseguiu recrutar um único camponês boliviano. Mesmo assim conseguiu inspirar dezenas de milhar de latino-americanos de classe média a sair das universidades e a organizar movimentos de guerrilha insurgentes. Estas insurgências também não conduziram a nada, a não ser à morte de dezenas de milhar de pessoas e ao atraso da causa democrática na américa latina - uma tragédia em grande escala.

O presente culto de Che - as t-shirts, os bares, os posters - conseguiu obscurecer essa terrível realidade. (...) Che foi um inimigo da liberdade e, mesmo assim, foi erigido como um símbolo da liberdade. Ajudou a estabelecer, em Cuba, um sistema social injusto e foi erigido como um símbolo de justiça social. Defendeu a antiga rigidez do pensamento latino-americano, numa versão marxista-leninista, e tem sido celebrado como um livre-pensador e como um rebelde. (...)

Berman, Paul, The Cult of Che Don't applaud The Motorcycle Diaries, (2004) in http://www.slate.com/ (tr. de LFB, Junho de 2008)


PS: Este obscuro culto a Che nas palavras de Hugo Chavés é assim: "Che viveu como Cristo e morreu como Cristo".

Tudo muito recentemente numa entrevista (rtp1) onde discursos inacreditáveis e algumas falsidades foram proferidas perante a passividade do entrevistador Mário Soares (um 'espiritualista laico', nas palavras do próprio).


(LFB)

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