sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Primo Levi sobre a coexistência da piedade e da brutalidade

“A piedade e a brutalidade podem coexistir, no mesmo indivíduo e no mesmo momento, contra toda a lógica; e, de resto, a própria piedade escapa à lógica. Não existe proporcionalidade entre a piedade que sentimos e a extensão da dor pela qual é suscitada a piedade; uma única Anna Frank desperta mais comoção que as miríades que sofreram como ela, mas cuja imagem ficou na sombra. É necessário talvez que assim seja; se devêssemos e pudéssemos passar pelos sofrimentos de todos, não poderíamos viver. Talvez só aos santos seja concedido o dom da piedade para com os muitos; aos monatos, aos da Equipa Especial e a todos nós, só resta, no melhor dos casos, a instável piedade dirigida ao individual, ao Mitmensch, ao co-homem; ao ser humano de carne e sangue que está à nossa frente, ao alcance dos nossos sentidos providencialmente míopes.” 

(Levi, Primo, Os que Sucumbem e os que se Salvam, (Tr. J.C.B) Teorema, 2008, p. 54.)

Szpliman descreve a saída de Korczak do gueto de Varsóvia

“Num dos primeiros dias de Agosto – enquanto fazia uma pausa do trabalho e fui dar uma volta pela rua Gesia - vi Janusz Korczak com os seus órfãos a sair do gueto. Haviam ordenado, para aquela manhã, a evacuação do orfanato que dirigia. Era suposto as crianças terem sido levadas sozinhas. Ele teve a oportunidade de se salvar e foi com dificuldade que convenceu os alemães a levá-lo também. Tinha passado muitos anos da sua vida com as crianças e agora, nessa última viagem, não poderia deixá-las sozinhas. Queria facilitar-lhes as coisas. Disse aos órfãos que iam num passeio ao campo e que, por isso, deveriam estar alegres. Finalmente poderiam trocar os sufocantes muros da cidade por prados de flores, riachos onde poderiam banhar-se e bosques repletos de bagas e cogumelos. Disse-lhes que vestissem as suas melhores roupas e assim saíram para o pátio, dois a dois, aprimorados e felizes. 

(…) Quando as encontrei na rua Gesia, as crianças sorriam e cantavam em coro acompanhadas por um pequeno violinista que tocava para elas e Korczak trazia ao colo duas das crianças mais pequenas, que estavam radiantes enquanto ele lhes contava uma história divertida. Estou certo de que, mesmo na câmara de gás, enquanto o Ziklon B sufocava a garganta das crianças, espalhando nos seus corações o terror em vez da esperança, o Velho Doutor terá, num derradeiro esforço, sussurrado: ‘Está tudo bem meninos, vai ficar tudo bem.’ Assim, ele poderia, pelo menos, poupá-las do medo de passar da vida para a morte.” 

Szpliman, W., The pianist, Phoenix, 2000, p.96 (tr. de LFB)

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Janusz Korczak e os direitos das crianças

Janusz Korczak defendeu a necessidade de uma declaração dos direitos das crianças muito antes de esse documento ser concebido pela Convenção de Genebra (1924) ou pela Assembleia Geral das Nações Unidas (1959). A declaração que ele imaginou – não como um fundamento para a boa vontade mas como uma exigência para a acção – ficou, aquando da sua morte, incompleta. Recolhi das suas principais obras – Como Amar Uma Criança e O Direito Da Criança Ao Respeito – a seguinte lista com os direitos que Korczak considerava essenciais:
 
A criança tem o direito a ser amada.
A criança tem o direito a ser respeitada.
A criança tem o direito a viver em condições óptimas onde possa crescer e desenvolver-se.
A criança tem o direito a viver no presente.
A criança tem o direito a ser ela própria.
A criança tem o direito a cometer erros. 
A criança tem o direito a ser levada a sério.
A criança tem o direito a ser apreciada por aquilo que é.
A criança tem o direito a desejar, a afirmar e a perguntar.
A criança tem direito a ter segredos.
A criança tem o direito a que respeitem as suas coisas.
A criança tem o direito a resistir a uma educação que entra em conflito com as suas crenças.
A criança tem direito a protestar por uma injustiça.
A criança tem direito a um tribunal de crianças onde possa julgar e ser julgado pelos seus pares.
A criança tem o direito a ser defendida perante o sistema de justiça juvenil.
A criança tem direito ao respeito pela sua dor.
A criança tem direito a comungar com Deus.
A criança tem direito a morrer prematuramente.
(“O amor profundo de uma mãe pela seu filho tem de incluir o direito a uma morte prematura, terminar o seu ciclo de vida em apenas uma ou duas primaveras… Nem todo o rebento pode transformar-se numa árvore”).
(Lifton, Betty Jean, The King Of Children – The Life And Death Of Janusz Korczak, AAP, 2005, pp.361-362. Tradução adaptada de LFB.)

10 anos passados sobre o 11 de Setembro - textos essenciais (3)

"Os guerreiros suicidas que atacaram Washington e Nova Iorque a 11 de Setembro de 2011 fizeram mais do que matar milhares de civis e demolir o World Trade Center. Destruíram o mito dominante do Ocidente.
As sociedades ocidentais regem-se pela crença de que a modernidade é uma condição única, idêntica em todo o lado e sempre benigna. À medida que as sociedades se tornam mais modernas, mais parecidas se tornam. Ao mesmo tempo tornam-se melhores. Ser moderno significa realizar os nossos valores - os valores do iluminismo, como gostamos de os pensar.
Não há cliché mais surpreendente do que aquele que descreve a Al-Qaeda como uma regressão aos tempos medievais. Ela é um produto secundário da globalização. Como os cartéis mundiais da droga e as empresas virtuais que se desenvolveram na década de 90, evoluiu num tempo em que a desordem económica criava vastas aglomerações de riqueza em países onde os impostos eram menos pesados e o crime organizado se tornara global. O seu aspecto mais evidente - projectar uma forma clandestina de violência organizada a nível mundial - era impossível no passado. Do mesmo modo, a convicção de que é possível acelerar a criação de um mundo novo através de actos espectaculares de destruição não se encontra em parte nenhuma na época medieval. Os precursores mais próximos da Al-Qaeda são os revolucionários anarquistas dos finais o século XIX da Europa.
Quem pensa que o terror revolucionário não é uma invenção moderna está a esquecer a história recente. A União Soviética foi uma tentativa de dar corpo ao ideal do iluminismo de um mundo sem poder e sem conflitos. Em nome desse ideal matou e escravizou dezenas de milhões de seres humanos. A Alemanha nazi cometeu o pior acto de genocídio de todos os tempos. Fê-lo com o objectivo de produzir um novo tipo de ser humano. Nenhuma época anterior acalentou projectos semelhantes. As câmaras de gás e os gulags são modernos.

Há muitas maneiras de ser moderno, algumas delas monstruosas. Contudo, a convicção de que há uma única maneiras de o ser, e que é sempre uma coisa boa, tem raízes profundas. A partir do século XVIII chegou a acreditar-se que o crescimento do conhecimento científico e a emancipação da humanidade caminhavam  a par e passo. (...) O conhecimento científico geraria uma moralidade universal em que o objectivo da sociedade seria produzir tanto quanto possível. Com o uso da tecnologia, a humanidade estenderia o seu poder aos recursos da Terra e venceria as piores formas de escassez natural. A pobreza e a guerra poderiam ser abolidas. Através do poder que lhe era dado pela ciência, a humanidade seria capaz de criar um novo mundo.

Houve sempre divergências acerca da natureza desse novo mundo. Para Marx e Lenine ele seria uma anarquia igualitária sem classes, para Fukuyama e os neoliberais, um mercado livre universal. estas visões de um futuro alicerçado na ciência são muito diferentes; mas isso não enfraqueceu de modo nenhum a força da fé que elas expressam.

Através da sua profunda influência sobre Marx, as ideias positivistas inspiraram a desastrosa experiência soviética no planeamento da economia central. Quando o sistema soviético se desmoronou, as mesmas ideias reemergiram no culto do mercado livre. Chegou-se mesmo a acreditar que só o «capitalismo democrático» ao estilo americano seria verdadeiramente moderno, e que estaria destinado a propagar-se a todo o mundo. Quando tal se verificasse surgiria uma civilização universal, e a história deixaria de existir.

Esta poderá parecer uma crença fantástica, e de facto é. O mais fantástico é que se continua a acreditar largamente nela. é ela que modela os programas dos partidos políticos de maior relevo em todo o mundo. É ela que orienta as políticas de organizações como o Fundo Monetário Internacional. É ela que estimula a «guerra contra o terrorismo», em que a Al-Qaeda é vista como uma relíquia do passado.

Esta visão está simplesmente errada. Tal como o comunismo e o nazismo, o Islão é moderno. Apesar de alegar que é antiocidente, é tão modelado pela ideologia ocidental como pelas tradições islâmicas. à semelhança dos marxistas e dos neoliberais, os islamitas radicais vêem a história como um prelúdio para um novo mundo. Todos eles estão convencidos de que podem refazer a condição humana. Se acaso existe um mito exclusivamente moderno, é este.

No novo mundo, tal como a Al-Qaeda o imagina, o poder e o conflito desapareceram. Esta é uma invenção da imaginação revolucionária, e não a receita para uma sociedade moderna viável; mas neste aspecto o novo mundo imaginado pela Al-Qaeda em nada difere das fantasias planeadas por Marx e Bakunin, por Lenine e Mao, e pelos evangelistas do neoliberalismo, que tão recentemente anunciaram o fim da história. E tal como aconteceu com esses movimentos ocidentais modernos, a Al-Qaeda encalhará nas imutáveis necessidades humanas.

O mito moderno é que a ciência permite à humanidade ser senhora do seu destino; mas a «humanidade» é ela própria um mito, um resíduo empoeirado da fé religiosa. A verdade é que existem apenas humanos, fazendo uso do conhecimento crescente que lhes é dado pela ciência para prosseguirem os seus objectivos conflituosos."
(Gray, John, Al-Qaeda e o Significado de Ser Moderno, (tr. M.P.) Relógio d'Água, 2004, pp. 15-18)

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

10 anos passados sobre o 11 de Setembro - textos essenciais (2)

"A bordo de um paquete que largara de Alexandria, Egipto, rumo a Nova Iorque, num camarote de primeira classe, Sayyid Qutb, um escritor e pedagogo franzino, de meia-idade, vivia uma crise de fé. ‹‹Quando estiver nos Estados Unidos, deverei limitar-me a comer e a dormir, como os outros bolsistas? Ou será que devo procurar ser especial?» eram questões que punha a si próprio. «Devo permanecer fiel às minhas crenças islâmicas e resistir às muitas tentações pecaminosas, ou devo ceder às inúmeras tentações que me rodeiam?» Estava-se em Novembro e 1948. O vulto do Novo Mundo, triunfante, rico e livre, erguia-se ameaçador no horizonte. Deixava para trás de si o Egipto desfeito em farrapos e lágrimas. O viajante nunca estivera ausente do seu país natal. A saída também não fora iniciativa sua.
Sayyid era um solteirão de ar severo, de cabelos e olhos escuros, franzino e baixo, com uma testa alta e inclinada para trás e um bigode espetado e farfalhudo, um tanto mais estreito que o seu nariz. Os olhos denunciavam uma natureza autoritária e facilmente propensa à arrogância. (...)
Sob muitos aspectos, era um ocidental - na forma de vestir, no gosto pela música clássica e pelos filmes de Hollywood. Tinha lido traduções das obras de Darwin e de Einstein, de Byron e de Shelley; mergulhara na literatura francesa - Victor Hugo, em especial. Contudo, e ainda antes de partir nesta viagem, manifestava já alguma preocupação relativamente ao assédio da civilização ocidental a todos os níveis. Apesar da sua erudição, via o Ocidente como uma entidade cultural única. As diferenças entre capitalismo e marxismo, cristianismo e judaísmo, fascismo e democracia eram insignificantes perante a única grande fronteira que existia no pensamento de Qutb: o islão e o Oriente, de um lado, e o Ocidente cristão do outro.
No entanto, os EUA apareciam isolados das aventuras colonialistas que pautaram as relações da Europa com o mundo Árabe. (...) Qutb (cujo nome se pronuncia kâ-teb), à semelhança de muitos árabes, sentiu-se chocado e traído com o apoio dado pelo Governo dos EUA, no pós-guerra, à causa sionista. No momento em que Qutb zarpava do porto de Alexandria, o Egipto, em conjunto com os exércitos de cinco outros países árabes, encontrava-se na fase final da derrota na guerra que levou à criação de Israel como Estado judaico no seio do mundo árabe. Os árabes ficaram estupefactos não apenas com a determinação e a perícia dos soldados israelitas, mas também com a incompetência das suas próprias tropas e com as decisões desastrosas dos seus líderes. A vergonha que se seguiu a essa experiência iria moldar o universo intelectual árabe de uma forma mais profunda do que qualquer outro acontecimento na história contemporânea. « Sinto ódio e desprezo por esses ocidentais!», escreveu Qutb na sequência do apoio dado pelo presidente Harry Truman à transferência de 100 000 refugiados judeus para a Palestina. «Por todos eles, sem excepção: ingleses, franceses, holandeses e, por fim, os americanos, em quem tantos confiaram.» 
(pp.19 -21)

Quando MCKillop chegou ao Ground Zero, ficou chocado com a montanha imensa de escombros que ainda ardia. As equipas de salvamento escavavam dia e noite, esperando encontrar sobreviventes, mas aquele cenário retirara qualquer esperança a MCKillop. (...)
De certa forma, os mortos do Trade Center formavam uma espécie de parlamento universal, representando 62 países e quase todos os grupos étnicos e religiões do mundo - um corrector de bolsa ex-hippie, o capelão católico homossexual do quartel dos bombeiros da cidade de Nova Iorque, um jogador de hóquei japonês, um chefe de cozinha equatoriano, uma coleccionadora de bonecas Barbie, um calígrafo vegetariano, um contabilista palestiniano... A diversidade de formas em que esta pessoas assumiram a sua ligação à vida dava testemunho da exortação do Corão, que sustenta que tirar uma única vida destrói um universo. A Al-Qaeda dirigira os seus ataques aos Estados Unidos da América, mas acabou por atingir toda a humanidade.
 (pp. 366-367)

 (Wright, Lawrence, A Torre do Desassossego - O percurso da Al-Qaeda até ao 11 de Setembro, tr.E.V.C., Casa das Letras, 2007)

"Guerra contra a droga": a que preço?

domingo, 4 de setembro de 2011

10 anos passados sobre o 11 de Setembro - textos essenciais (1)

"No verão de 2006 voltei a viver no Reino Unido após dois anos e meio na América do Sul. Mantenho que não me tornei mais fascista nesse ínterim - aos pés de um Galtieri, digamos, ou ajoelhado perante um Pinochet. Mas em política é surpreendentemente fácil movermo-nos de um lado para o outro enquanto permanecemos no mesmo sítio; e o terreno médio, descobri eu, não está onde costumava estar. A extensão dessa mudança tornou-se-me dramaticamente nítida num direto televisivo, quando apareci no "Tempo de Perguntas" (o programa interativo de debate da BBC) e me inquiriram acerca do nosso progresso naquilo a que agora chamam a Longa Guerra.
A resposta que dei foi, pensava eu, quase fastidiosamente centrista. Eu disse que o Ocidente deveria ter ocupado os últimos cinco anos a construir um modelo democrático e pluralista no Afeganistão, enquanto se ía meramente limitando a conter o Iraque. No Afeganistão já vimos, não o "genocídio" avidamente previsto por Noam Chomsky e outros, mas a "genogénese" (para usar o termo de Paul Berman) - um florescente censo. Desde 2001, a população aumentou em 25 por cento. (...)
Nesse ponto comecei a olhar para um rosto e para outro na assistência, e o que eu vi eram os esgares e as caretas, não da discórdia, mas da incredulidade. Tomou então a palavra uma rapariga. Numa quase-lacrimosa voz de apaixonada presunção, dizendo que tinham sido os americanos quem armara os islamitas no Afeganistão, e que por conseguinte os Estados Unidos, para responderem ao 11 de Setembro, "deviam bombardear-se a eles próprios!" Tive tempo para imaginar os F-16 a uivarem sobre Chicago, e o USS Abraham Lincoln a lançar projécteis do tamanho de Volkswagens para o centro de Miami - em destemida expiação pelo World Trade Center, pelo Pentágono, pelo voo 93 da United, o voo 11 da United e o voo 77 da American. Mas depois os meus pensamentos foram dispersos pelo som de um unânime aplauso.
Estamos solenemente acostumados, hoje em dia, à fetichização do "equilíbrio", à regra básica da "equivalência moral", em todos os conflitos entre o Ocidente e o Oriente, à incapacidade a 100 por cento e a 360 graus para ajuizarmos sobre qualquer etnia que não seja a nossa (exceto no caso de Israel). E contudo os que batiam palmas no "Tempo de Perguntas" tinham ido além da velha fórmula da piedosa paralisia. Isto não era equivalência, isto era abjeção hemisférica. Em consequência, dada a escolha entre George Bush e Osama bin Laden, o relativista liberal, ao que parece, é obrigado a apoiar o saudita, tornando-se assim conciliador de uma doutrina armada com os seguintes lemas: é racista, misógina, homofóbica, totalitária, inquisitória, imperialista e genocida.

Recolhendo o que podemos das obras de pensadores como Sayyid Qutb (...) e a partir de diversas declarações, fatwas, ultimatos, ameaças de morte e notas de suicídio, podemos comparar o islão radical aos movimentos políticos tanatoides que conhecemos melhor, nomeadamente o bolchevismo e o nazismo (de cada um dos quais o islamismo é devedor). Das muitas afinidades que emergem, poderemos enumerar, para começar, algumas características secundárias. A exaltação de um líder divino; a exigência, não somente de submissão à causa, mas de inteira transformação em nome dela; um romantismo autoindulgente; um ódio à sociedade liberal, ao individualismo e à copiosa inércia (ou Konformismus); uma obsessão pelo sacrifício e o martírio; uma mórbida rebeldia adolescente combinada com um amor pueril pela destruição; o "agonismo", ou aceitação da permanente e insaciável rivalidade; o uso e a invocação do muito novo e do muito velho; uma mania da purificação; e um feroz antissemitismo.
Mas estas são incidentais. O tanatismo deriva a sua verdadeira energia, a sua febre e a sua magia, de algo muito mais radical. E aproximamo-nos aqui de uma patologia que no final poderá não ser assimilável pelo espírito dos não-crentes. Refiro-me à rejeição da razão - à rejeição do sequitur, da causa e efeito, do dois mais dois. Extraordinariamente, nas suas obras escritas e na sua conversa de mesa, Hitler e Estaline (e Lenine) raramente permitem que o substantivo abstrato "razão" passe sem que lhe atribuam um adjetivo depreciativo: razão inútil, razão frouxa, razão cobarde. Quando aqueles sanguinários saloios, os talibãs, entoam a sua palavra de ordem, "Lancem a razão aos cães", eles estão procedendo ao mesmo tipo de jogada faustiana: esmagai a razão, matai a razão, e toda e qualquer coisa parece possível - o restaurado califado, por exemplo, presidindo a um império planetário expurgado de todos os infiéis. Transcender a razão é evidentemente transcender os confins da lei moral, é entrar no mundo ilimitável da insanidade e da morte.
(...) 11 de Setembro significa 11 de Setembro de 2001 - o dia em que as torres vieram abaixo. Foi também o dia em que algo nos foi revelado. Já sabemos agora o que era isso? Muita da nossa análise terá sido porventura inteiramente inapropriada, pois continuamos a tentar construir o islamismo nos termos do raciocinativo. Que aspeto tem ele quando o construímos nos termos das emoções? Estados emocionais familiares (dor, ódio, fúria, vergonha, desonra e, acima de tudo, humilhação), mas em intensidades nada familares - intensidade que a democracia secular, e as regras da lei e da sociedade civil, tenderão sempre a neutralizar. (...)
O islamismo tem andado connosco durante a parte de leão de um século. A irmandade Muçulmana foi fundada em 1928, e no espaço de uma década ramificou-se naquilo que dentro em pouco viria a ser o Paquistão. Mas o evento emocionalmente constitutivo, somos forçados a deduzir, foi o estabelecimento da Pátria Judaica. Na guerra que foi travada para concretizar isso, Israel, ocupando 0,6 por cento de territórios árabes e com uma população proporcional, derrotou os exércitos do Egito, da Síria e da Transjordânia, juntamente com as forças suplementares do Líbano, da Arábia Saudita e do Iraque.
Nos restantes 99,4 por cento dos territórios árabes, esse evento é conhecido como al-nakba: a catástrofe. E tal epíteto dificilmente exagera o caso. A "ímpia" União Soviética, após um revés comparável, poderia ter caído num perturbável autoescrutínio; mas que significa isso para os povos que acreditam sinceramente que uma divindade omnipotente está minuciosamente atenta aos seus desejos e desertos? Tendo suportado vários séculos de prosperidade, poder e alcance global, e eventual império por parte dos cristãos, as nações islâmicas foram vencidas por uma província que tem o tamanho de Nova Jérsia.(...)
O 11 de Setembro implicou uma quebra moral, em todo o planeta; também desprendeu o terreno entre a realidade e o delírio. Por isso, quando falamos dele, chamemo-lo pelo nome que lhe é próprio; façamos por não sugerir que a nossa experiência desse evento, desse desenvolvimento, foi absorvida sem fricções e arquivada. Não o foi. O 11 de Setembro continua, prossegue com todo o seu mistério, a sua instabilidade e o seu terrível dinamismo."

(Amis, Martin, O Segundo Avião, Quetzal, 2011, texto retirado do excerto publicado em exclusivo na revista Ler, nº 105, Setembro de 2011, pp. 43-45.)

Nina Simone - Don't Let Me Be Misunderstood

sábado, 3 de setembro de 2011

Contradições ambientalistas

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Quando reflectimos sobre o pensamento ecológico - quer seja nas políticas ou nas acções ambientalistas - encontramos contradições de diversa ordem. Gostamos de alguns animais e comemos outros, essa é a contradição mais óbvia. Mas há outras: somos  todos ambientalistas/ecologistas mas não fazemos nada, ou fazemos muito pouco, para alterar a criação intensiva de animais (no mundo civilizado são 450 biliões de animais todos os anos, alimentados com rações geneticamente modificadas e com antibióticos à mistura, com mobilidade restrita e criados em ambientes doentios). Somos contra os transgénicos mas alimentamos os nossos animais com rações transgénicas (da próxima vez que comprar rações feitas nos Açores verifique o rótulo). Gostamos de gatos, mas quando são mortos nas estradas nada fazemos - nas estradas açorianas não há um único sinal de informação sobre o perigo de atropelamento de animais, domésticos ou não, que atravessam as estradas. Como ecologistas, defendemos os touros, mas comemos as vacas. Temos campanhas públicas anuais de protecção do cagarro, mas permitimos pacificamente a morte de ouriços-cacheiros nas estradas. Alguém sabe qual desses animais é o mais desprotegido e ameaçado? O ouriço não parece estar em extinção, mas está muito mais presente na nossa vida, enquanto animal morto, do que o cagarro. Olhemos um pouco para o caso do ouriço-cacheiro[1]. Apesar de, na Grã-Bretanha, estar entre os animais de jardim preferidos, a sua população está a cair abruptamente. Decresceu para metade nos últimos 15 anos e, a continuar assim, em 2030 não haverá ouriços-cacheiros ingleses. Apenas 1 em cada 100 chega aos cinco anos, e 15000 são esmagados todos os anos nas estradas britânicas. Mesmo os bem-intencionados podem contribuir para a morte dos ouriços se, quando encontram um no seu pátio, lhes dá pão e leite o que lhes pode provocar uma diarreia mortal. A melhor forma de ajudar um ouriço é soltá-lo na horta: um só ouriço consegue comer até 250 lesmas numa noite! O seu nome – cacheiro – sugere aquele que dissimula ou engana, mas que animal terá capacidade para enganar um automóvel? Não deveria este animal ser - pelo menos com tanto empenho quanto o cagarro - também defendido através de campanhas públicas?
Um exemplo mais geral. É a ciência quem deve dizer aos políticos o estado do ambiente. A nível mundial essa é uma tarefa do PIAC - painel intergovernamental para as alterações climáticas que, em 2007, conjuntamente com Al Gore, ganhou o Nobel da paz. Mas o que se viu no caso climategate - onde dados que falsificavam as conclusões e previsões catastrofistas do painel foram ignorados e afastados - foi a política a dizer à ciência como é que o ambiente deve estar. Isto não significa que o planeta esteja, ao contrário do que afirmam os cientistas (os mais e os menos éticos), bem. O planeta está mal e existem factos inegáveis. O número de espécies em vias de extinção ou já desaparecidas é assustador. Os tigres, por exemplo, estão em vias de extinção. E é custoso imaginar um mundo sem tigres. O problema é que alguns cientistas também estão mal e descredibilizam a ciência ao ponto de lançarem a dúvida sobre se a ecologia não será também uma farsa. Como mostrou o caso climategate, a ecologia tem sido aproveitada politicamente, o que significa uma prevalência da fantasia/aparência sobre a real motivação para mudar o mundo. Um das razões para explicar isso pode ser porque “há cada vez mais e mais cientistas a quererem ser políticos”[2].
Um terceiro e último caso, talvez o mais flagrante, é o da alimentação. Existem muitas razões para uma pessoa mudar os seus hábitos alimentares (éticas, religiosas, estéticas). Vejamos uma razão que tem sido pouco explorada que é a ecológica ou ambiental. Todos sabemos dos problemas ambientais do nosso planeta. Mas qual o contributo da alimentação carnívora para esses problemas? Que sentido é que faz ser ecológico e não ser vegetariano? Quando se questiona as pessoas sobre qual a causa do aquecimento global, todos referem a poluição, mas poucos falam na produção de carne[3]. Mas a verdade é que 18 % da poluição total é causada pelos efeitos da criação intensiva de animais (metano e tudo o resto: impacto na água e na biodiversidade; proliferação de vírus...) De todos os cereais produzidos, 40 a 50% são comidos por animais, 75 % no caso da soja. São precisos 7 quilos de grão (milho e soja) para fazer um quilo de carne. E para isso são precisos campos e para ter campos é preciso desflorestar. É por isso que a floresta da Amazónia está a desaparecer. Num ano uma vaca produz tantos gases com efeito de estufa quanto um carro que viaje 70.000 km – mais de uma volta e meia ao planeta terra. Para produzir carne são precisas 10 vezes mais terra do que para produzir vegetais. À medida que as populações aumentam, aumenta também o consumo de carne. Por consequência, aumentam também as emissões de gases com efeito de estufa. Um europeu come, em média, durante a sua vida, 1800 animais. Calcule-se o efeito, se todas as pessoas no mundo fizessem o mesmo. As florestas estão a desaparecer; a biodiversidade, a água, tudo isto é posto em causa pela produção animal. Um vegetariano num jipe produz menos emissões de carbono do que um carnívoro num carro híbrido (mais um sinal do politicamente correcto, mas ecologicamente ineficaz). Se tudo isso é verdade, porque não se fala mais da relação entre o aquecimento global do planeta e a produção intensiva de animais? Por que não é a criação intensiva de animais mencionada uma única vez no filme “uma verdade inconveniente” de Al Gore? Talvez porque ele é também um produtor de carne e estaria, de forma silenciosa, a proteger a poderosa indústria de produção de carne norte-americana. Outro interessante envolvimento entre política e ecologia.
Mas não precisam os seres humanos de comer carne e de beber leite? A resposta inequívoca é não[4]. A ideia de que precisamos de comer carne e leite todos os dias é gerada, em grande parte, pela propaganda. Reduzir o consumo de produtos animais não nos fará grande mal, pelo contrário, poderá até reduzir algumas doenças mortais. Quando é que vamos começar a fazer as contas aqui nos Açores, onde a produção de carne (aves, porcos e vacas) em ambientes fechados começa a ser significativa? E por que não há alimentação vegetariana nas eco-escolas? A resposta está em parte na desinformação. Comemos o que nos dão, sem nos preocuparmos muito com os efeitos desastrosos da alimentação. O pensamento ecológico dominante parece mais uma questão de ser politicamente correcto, de marcar a diferença seguindo a moda ecologista, do que a afirmação de uma real preocupação com o planeta em geral e com os animais em particular. Se queremos manifestar alguma coerência entre as nossas crenças ecológicas e as nossas atitudes então deveremos comer menos carne. Individualmente deveremos fazer um esforço para, pelo menos em algumas refeições semanais, encontrar uma alternativa vegetariana. Em termos colectivos, as instituições públicas têm uma grande responsabilidade e uma forma de se mostrarem empenhadas em apresentar soluções seria, por exemplo, instituir um dia por semana de comida vegetariana nas escolas, nos lares de idosos, nos hospitais, etc. Por último, uma boa dose de pensamento céptico e crítico talvez nos possa impedir de embarcar em euforias ecológicas não fundamentadas.


[1] As informações sobre o ouriço foram retiradas de Lloyd e Mitchinson, O Livro da Ignorância sobre o Mundo Animal, Casa das Letras, 2010, pp.145-146.
[2] Der Spiegel, edição online, acedida em 14 Abril 2010.
[3] Muitas das informações a seguir apresentadas foram retiradas do filme “MEAT THE TRUTH - Uma Verdade Mais Que Inconveniente.
[4] Sobre a mudança para uma dieta vegetariana vale a pena ler o livro de Jonathan Safran Foer, Comer Animais, Bertrand, 2011.
 [Texto publicado no jornal da Gê Questa - Associação de defesa do ambiente, primavera de 2011. Edição on line aqui.] 
LFB

sábado, 20 de agosto de 2011

IPSS, novamente

IPSS vão poder funcionar apenas com voluntários | Diário de Notícias



É o fim: da noção de voluntariado, da racionalidade/cientificidade/qualidade dos projectos comunitários (sobretudo os que trabalham em áreas especialmente dadas a medos e preconceitos, como no caso dos consumidores de drogas de rua), do tratamento digno dos utentes (que têm tanto direito a serviços de qualidade como qualquer outro cidadão) e da possibilidade de profissionais com especial vocação para estas áreas (apesar de serem mal pagos, muitos ainda persistem) como psicólogos e assistentes sociais virem a contribuir de forma pensada (e não apenas com base em boas intenções) para a melhoria das condições de vida das suas populações-alvo. 

Se o governo de repente propusesse: "a partir de hoje não são necessários médicos ou enfermeiros nos hospitais; os curandeiros podem fazer o mesmo trabalho (mesmo que não saibam/queiram)" ou "não precisamos de professores, apenas de pessoas com 'experiência de vida' e 'boa vontade' para dar aulas" o que diria o cidadão comum?! Claro que se manifestaria revoltadíssimo e com razão! O problema aqui é que as IPSS não tocam directamente os interesses e direitos do cidadão médio, razoavelmente esclarecido e reivindicativo (quanto mais não seja porque pode votar). Tocam em populações invisíveis e/ou menosprezadas em termos de cidadania: crianças, vítimas de crimes, pessoas com deficiência, prostitutos(as), consumidores de psicoactivos. O seu trabalho é na maior parte das vezes socialmente invisível (surge apenas em força na época do Natal, ligado a espectáculos televisivos, sendo apenas convocadas as organizações socialmente correctas, ou seja, que trabalhem com indivíduos considerados moralmente puros e, portanto, merecedores, como as crianças ou vítimas de cancro). Muitas IPSS estão na sombra, tal como os seus utentes. E com estas medidas, o governo vai atirá-los para a escuridão.

Podia esperar tudo, menos isto: um país que abdica de uma resposta social relativamente intencionalizada em nome da 'lógica de mercado' (porque é disto que se trata, sobretudo para o PSD; vide o linguajar do Secretário de Estado Marco António Costa) e da necessidade de dar 'lições de moral' aos beneficiários do RSI (o que Foucault chama de ortopedia moral, algo desde sempre explícito no projecto político do CDS-PP) nem que isso implique a total deturpação do significado do voluntariado (nomeadamente, do requisito 'livre iniciativa') e do trabalho (continuarão a ser chamados de beneficiários do RSI mesmo depois de os obrigarmos a trabalhar; resultado: mantém-se o estigma, anula-se a motivação). Esta é também uma forma engenhosa de atribuir a culpa do desemprego aos indivíduos (afinal não trabalham porque não querem, vêem?) quando sabemos que o desemprego é estrutural, endémico (é um correlato do capitalismo financeiro e, segundo alguns autores, andará sempre em torno dos 10%, independentemente dos ciclos económicos), pelo que irá persistir indiferente a este 'Programa de Emergência Social'; a começar pelo despedimento dos psicólogos e assistentes sociais que actualmente trabalham nas IPSS. 

Talvez como futuros beneficiários do RSI possam (tenham de) voltar às IPSS com os seus saberes especializados e a menor custo…

(DO)

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Da intervenção comunitária

“O trabalho comunitário (...) não deve ser visto nem através da lente romântica que faz dos agentes externos fadas madrinhas, missionários, ‘irmãs de caridade’, salvadores ou líderes revolucionários, cujo mágico toque de ciência e de boa vontade trasformará, durante a noite, a situação e as pessoas (...); nem com o critério tecnicista do especialista que crê ter tanto as perguntas como as respostas e que vai à comunidade impor um ponto de vista, um modo de acção e as suas soluções.” (Montero, 1998, p. 213) 

Menezes, I. (2010). Intervenção Comunitária: Uma Perspectiva Psicológica. Porto: Livpsic, p. 108.

terça-feira, 16 de agosto de 2011



"Psychological factors also come into play when the music is set in front of a
crowd. Looking at a painting in a gallery is fundamentally different from listening
to a new work in a concert hall. Picture yourself in a room with, say, Kandinsky’s
Impression III (Concert), painted in 1911. Kandinsky and Schoenberg knew
each other, and shared common aims; Impression III was inspired by one of
Schoenberg’s concerts. If visual abstraction and musical dissonance were
precisely equivalent, Impression III and the third of the Five Pieces for
Orchestra would present the same degree of difficulty. But the Kandinsky is a
different experience for the uninitiated. If at first you have trouble understanding
it, you can walk on and return to it later, or step back to give it another glance,
or lean in for a close look (is that a piano in the foreground?). At a performance,
listeners experience a new work collectively, at the same rate and
approximately from the same distance. They cannot stop to consider the
implications of a half-lovely chord or concealed waltz rhythm. They are a crowd,
and crowds tend to align themselves as one mind."

(Alex Ross, The Rest is Noise, Harper Perennial, 2009, p. 61. )

"Guerra contra a droga": efeitos colaterais


"(...) uma série de trabalhos de investigação evidenciava o facto de serem as respostas repressivas instigadas pela política proibicionista a estarem na base dos aspectos mais preocupantes das drogas em meio urbano. Destacaremos as principais: a prática do consumo injectado como modo de rentabilização dum produto excessivamente caro para o utilizador; a organização de mercados de rua que se instalariam nas zonas mais fragilizadas das cidades contribuindo para o agravamento das suas dificuldades estruturais; a ilegalidade dos mercados como favorecedora do envolvimento no negócio de delinquentes de carreira, reforçando assim a sua posição na hierarquia do crime; a condenação do utilizador regular a uma série de juízos negativos que, em muitos casos, terminam em forte estigmatização social; a associação do consumo ao pequeno delito urbano e do abastecimento ao crime organizado; os problemas causados à gestão do sistema penitenciário pela chegada à prisão duma grande quantidade de dependentes de drogas duras; a violência policial contra certos grupos marginalizados com o pretexto da repressão ao tráfico… Em suma, o proibicionismo seria responsável por uma série de efeitos colaterais ao objectivo de erradicação das drogas – como é, aliás, típico de toda e qualquer guerra. Dito doutro modo, uma parte importante dos riscos e danos que as políticas de saúde baseadas na Redução de Riscos procuram minorar são decorrentes, não da natureza química das drogas, não da natureza psicológica dos seus utilizadores – mas do próprio modelo proibicionista."

Fernandes, L. (2009). "O que a droga faz à norma". Revista Toxicodependências. Vol. 15, nº1, p. 12

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

domingo, 14 de agosto de 2011

The red gaze, A. Schoenberg



Por sugestão do Livro de Alex Ross, The Rest is Noise, Harper Perennial, 2009, p.54.
Mais informações sobre o autor do livro aqui
Qual foi a primeira coisa a existir?

sábado, 13 de agosto de 2011

The Cinematic Orchestra - Time And Space

O senso comum e a "droga"

"Em síntese, as várias investigações sobre as representações sociais e sobre as imagens mediáticas da “droga”, do “drogado”, do “toxicodpendente”, mostram o carácter simplista, redutor e ambíguo dos elementos com que se compõem essas figuras. O pensamento coisista uniformiza (“a droga” em vez de drogas várias, sejam legais ou ilegais; o “drogado”, o “toxicodependente” em vez das várias relações com as várias substâncias), toma a parte pelo todo (o "toxicodependente”, o “traficante”, como os actores das drogas, não reservando espaço para outros actores e relações), não discerne diferenças, igualando todos numa espécie de consequência universal da tirania da dependência química. Para agravar este quadro, os anos 90 seriam também os do crescimento epidémico do VIH-Sida, de que o utilizador de drogas por via intra-venosa se tornou um dos principais atingidos e difusores. "

Fernandes, L. (2011). "Do estereótipo à visão fenomenológica: análises sobre o 'agarrado' ". Revista Toxicodependências. Vol. 17, nº1, p. 22. 

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Privatização da água

"Wissen e Matthias Naumann examinaram no seu estudo de caso os problemas associados à privatização da distribuição da água nos municípios do leste alemão, onde a diminuição da população colocou desafios técnicos e financeiros à então gestão pública da mesma.  Segundo os autores, embora as empresas privadas ligadas à água continuem a ser alvo de controlo público, as suas decisões (...) têm vindo a moldar-se cada vez mais por questões técnicas e de lucro, minando a democracia local e o tratamento da água como bem público."  

Aguirre Jr., A., Eick, V. & Reese, E. (2006). "Intoduction: Neoliberal Globalization, Urban Privatization, and Resistance". Social Justice, Vol. 33, nº3, p. 3. (tradução DO)