sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Szpliman descreve a saída de Korczak do gueto de Varsóvia

“Num dos primeiros dias de Agosto – enquanto fazia uma pausa do trabalho e fui dar uma volta pela rua Gesia - vi Janusz Korczak com os seus órfãos a sair do gueto. Haviam ordenado, para aquela manhã, a evacuação do orfanato que dirigia. Era suposto as crianças terem sido levadas sozinhas. Ele teve a oportunidade de se salvar e foi com dificuldade que convenceu os alemães a levá-lo também. Tinha passado muitos anos da sua vida com as crianças e agora, nessa última viagem, não poderia deixá-las sozinhas. Queria facilitar-lhes as coisas. Disse aos órfãos que iam num passeio ao campo e que, por isso, deveriam estar alegres. Finalmente poderiam trocar os sufocantes muros da cidade por prados de flores, riachos onde poderiam banhar-se e bosques repletos de bagas e cogumelos. Disse-lhes que vestissem as suas melhores roupas e assim saíram para o pátio, dois a dois, aprimorados e felizes. 

(…) Quando as encontrei na rua Gesia, as crianças sorriam e cantavam em coro acompanhadas por um pequeno violinista que tocava para elas e Korczak trazia ao colo duas das crianças mais pequenas, que estavam radiantes enquanto ele lhes contava uma história divertida. Estou certo de que, mesmo na câmara de gás, enquanto o Ziklon B sufocava a garganta das crianças, espalhando nos seus corações o terror em vez da esperança, o Velho Doutor terá, num derradeiro esforço, sussurrado: ‘Está tudo bem meninos, vai ficar tudo bem.’ Assim, ele poderia, pelo menos, poupá-las do medo de passar da vida para a morte.” 

Szpliman, W., The pianist, Phoenix, 2000, p.96 (tr. de LFB)

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