“Num dos primeiros dias de Agosto
– enquanto fazia uma pausa do trabalho e fui dar uma volta pela rua Gesia - vi
Janusz Korczak com os seus órfãos a sair do gueto. Haviam ordenado, para aquela
manhã, a evacuação do orfanato que dirigia. Era suposto as crianças terem sido levadas sozinhas. Ele teve a
oportunidade de se salvar e foi com dificuldade que convenceu os alemães a
levá-lo também. Tinha passado muitos anos da sua
vida com as crianças e agora, nessa última viagem, não poderia deixá-las
sozinhas. Queria facilitar-lhes as coisas. Disse aos órfãos que iam num
passeio ao campo e que, por isso, deveriam estar alegres. Finalmente poderiam trocar
os sufocantes muros da cidade por prados de flores, riachos onde poderiam
banhar-se e bosques repletos de bagas e cogumelos. Disse-lhes que vestissem as suas melhores roupas e assim saíram para o
pátio, dois a dois, aprimorados e felizes.
(…) Quando as encontrei na rua Gesia, as crianças
sorriam e cantavam em coro acompanhadas por um pequeno violinista que tocava
para elas e Korczak trazia ao colo duas das crianças mais pequenas, que estavam
radiantes enquanto ele lhes contava uma história divertida. Estou certo de que,
mesmo na câmara de gás, enquanto o Ziklon B sufocava a garganta das crianças,
espalhando nos seus corações o terror em vez da esperança, o Velho Doutor terá,
num derradeiro esforço, sussurrado: ‘Está tudo bem meninos, vai ficar tudo bem.’
Assim, ele poderia, pelo menos, poupá-las do medo de passar da vida para a
morte.”
Szpliman,
W., The pianist, Phoenix, 2000, p.96
(tr. de LFB)
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