Gravações do Trio Fragata no bandcamp

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Yoshihiro Tatsumi


"(...) it reads like the direct expression of a personality that is keenly observant, deeply self-critical and constantly torn between sympathy and misanthrophy. " 
Adrian Tomine (Introduction, p. 6)

Yoshihiro Tatsumi,  The Push Man and other stories

"todas as respostas"





"Have you ever “dreamed the perfect song”?

I have dreamed melodies that made my heart weep and I have dreamed lyrics that would shatter the world. When I wake they run back into the woods."

Daqui.

Parafraseando Bill Callahan

Há tão pouco tempo para amar toda a gente.

O EU

sábado, 28 de abril de 2012

To Kill a Mockingbird (1962)


O filme tem muito do que me faz amar a América (que se calhar não existe): as cadeiras de balanço, os alpendres, os baloiços feitos de pneus, as ruas largas e as casas sem muros altos à volta, a justiça (e a injustiça), a infância perdida, o bom (e o mau), o medo (e a coragem) e o mistério.
A sugestão veio do Devaneios.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

O eu

(bodies the exhibition, man without skin)
Porque não se pode vestir as cuecas por fora das calças?

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Prometheus (Ridley Scott)

a virtude e a política

"A virtude quase não floresceu nos assuntos públicos, que não de forma breve e precária. Os valores que admiramos - compaixão, misericórdia, justiça, bondade - têm estado largamente confinados ao domínio privado. A cultura humana tem sido, em larga medida, uma narrativa de cobiça, rapina, e exploração. O século tumultuoso do qual acabamos de emergir foi marcado, de uma ponta à outra, por milhões de mortes desnecessárias. Habituámo-nos a ver a vida política como algo violento, corrupto, opressivo ao ponto de já não nos surpreendermos com a curiosa persistência dessa condição. Não seria de esperar, simplesmente pela lei mítica da média, que tropeçássemos, nos anais da história humana, num maior número de surtos de doçura e luz?"
(Eagleton, Terry, On evil, Yale U.P., 2010, p.147. Tr LFB)

terça-feira, 24 de abril de 2012

segunda-feira, 23 de abril de 2012

LI PO (c. 700-762)

BEBENDO AO LUAR

Bebendo vinho entre as flores
               Só me senti.
Ó Lua tão solitária,
               Eu bebo a ti!
Esta ao lado é a minha sombra,
               Faz três contigo.
Porque hás-de ser tão distante?
dança com ela e comigo.

Como nuvens dançaremos
               A sombra e eu.
Eterno é o gozo se atendes
               O canto meu.
E unidos nesta embriaguez
               (Mas sós de dia)
Estaremos juntos os três
               Na láctea via.

(tr. Jorge de Sena)

domingo, 22 de abril de 2012

Profecia autocumprida

"Dois anos antes [1956] haviam começado os trabalhos de um comité conjunto da Sociedade Médica Americana e da Federação de Colégios de Advogados, no qual iriam incorporar-se sociólogos de diferentes universidades em busca de uma alternativa viável à política oficial em matéria de drogas. As suas conclusões, que se publicaram em 1958 (...) afirmavam que a cruzada era uma empresa pseudomédica e extrajurídica cujas consequências só podiam ser o crime e a marginalização. Apoiando-se no conceito de profecia autocumprida (acabado de desenvolver pelo sociólogo R. K. Merton), a cruzada farmacológica apresentava-se como um processo circular, onde lhe é imposta uma certa imagem de realidade, que a seguir é exibida como efeito independente da sua imposição; o facto de os consumidores de algumas drogas serem adolescentes, criminosos, indesejáveis ou mendigos não podia atribuir-se a esta ou àquela substância, mas sim à lei vigente. 

O relatório incluía dois apêndices: o primeiro elogiava o método inglês de tratar os adictos -- receitando-lhes gratuitamente ou a preço muito baixo heroína e morfina --, tanto pelos seus resultados práticos como pelos seus fundamentos teóricos; o segundo apêndice criticava a legislação norte-americana por omitir requisitos formais e substantivos próprios de qualquer norma positiva num Estado de direito."

Antonio Escohotado, História Elementar das Drogas, p. 131.

sábado, 21 de abril de 2012

Ainda sobre Campanhã

"Trabalho desde 1997 na freguesia mais pobre do concelho do Porto. Às terças e quartas vou ao encontro dos moradores do Bairro do Lagarteiro, em Campanhã. Esta ligação e proximidade, o envolvimento na resolução dos seus principais problemas, o compromisso de os politizar e o afecto que sinto por esta gente sofrida devolvem-me alguma legitimidade para falar e escrever sobre a pobreza severa que agora invade estes agregados familiares. 

O caminho do empobrecimento, da austeridade, dos cortes cegos nos apoios sociais e do desmantelamento do Estado social desta governação neoliberal de Passos Coelho tem-se reflectido muito no agravamento das condições de subsistência destas famílias. Antes de o FMI ter chegado a Portugal, o Governo de José Sócrates já tinha aberto com delicadeza a porta às decisões políticas subordinadas ao capitalismo. Agora para fazerem uma refeição de carne, alguns dos meus utentes vão de forma envergonhada ao fim do dia bater à porta do proprietário do talho pedir aparos, carne que, vulgarmente, no Porto, se dá aos cães. 
Muitas famílias já não conseguem visitar com a mesma regularidade os familiares detidos. Começa a ser frequente pedir à professora para colocar mais comida no prato dos meninos, porque à noite estas crianças não vão ter oportunidade de fazer em casa uma refeição digna. Muitos adolescentes deixaram de viajar com  passe dos STCP. As famílias criaram débitos gigantescos à EDP, à Águas do Porto, à câmara municipal, à farmácia, à mercearia. Os doentes pobres não conseguem adquirir os medicamentos prescritos nas receitas médicas. Muitos casais jovens, já com filhos, começam a regressar a casa dos pais, por verem a casa que compraram ser hipotecada pelo banco. (...)"

(José  António Pinto, Assistente Social, daqui

O Porto paralelo

"É em momentos como o de ontem vivido no Alto da Fontinha que Rui Rio revela o seu rosto de autarca e a sua aversão a tudo o que lhe cheire a diferença, particularmente a todas as formas de cultura e cidadania que escapem à Kultura, ao papel 'couché' e à rotina institucional. 
(...)
Uma ilha de iniciativa, de partilha, de democracia participativa? Era de mais para Rui Rio. Ateliés de leitura, de música, de teatro, de fotografia?, formação contínua?, apoio educativo?, aulas de línguas?, xadrez?, yoga?, debates?, assembleias? - Intolerável! "
(Manuel António Pina, daqui) 

***

O Porto é a cidade portuguesa com mais prédios devolutos (em termos absolutos). Passar por exemplo por Campanhã (onde se encontra uma importante estação ferroviária) é profundamente deprimente, já que a massa de prédios degradados faz adivinhar a miséria que se esconde por detrás de cada uma daquelas fachadas [a este propósito, vale a pena clicar aqui].  
Mas isto não acontece só em Campanhã. Basta um ligeiro desvio aos circuitos turísticos para entrar neste Porto paralelo, lúgubre, abandonado pelos poderes públicos. Nunca estive no Alto da Fontinha, mas diz-me uma amiga que fica no cimo da Rua de Santa Catarina, principal rua comercial da baixa da cidade. "Parece outra cidade, outro mundo." A existência de um grupo de pessoas que por iniciativa própria e para benefício dos moradores resolve pôr mãos à obra para requalificar e dar uso a um dos inúmeros prédios deixados por todos - inclusive pela Câmara do Porto - ao abandono, parece-me um milagre. 
É claro que há a questão da propriedade, mas será esse o único elemento a considerar/valorizar nesta situação? Será que se compreende que, numa altura em que as relações de poder e condições de vida das pessoas vêm sendo  profundamente alteradas, ao ritmo dos noticiários, seja a existência deste projecto comunitário instalado num  prédio devoluto de uma zona pobre a suscitar este tipo de acção por parte da Câmara e da polícia de choque? 

Apenas uma nota sobre o gosto -- ou será obsessão? -- de Rui Rio pela 'ordem pública'; foi eleito tendo prometido "limpar as ruas do Porto", i.e., limpar os sítios públicos de prostitutas e arrumadores de carros (frequentemente sem-abrigos consumidores de heroína). Os seus métodos 'dissuasores' acabaram por vir a público: acordou com a polícia prender -- ilegalmente-- arrumadores durante a noite deixando-os a ressacar; no âmbito do projecto "Porto Feliz", eram levados em carrinhas para longe da cidade e abandonados por lá. Foi uma psicóloga, à época a trabalhar no projecto que, em profundo desacordo com estas práticas, falou a um cronista do jornal Público, que por sua vez escreveu sobre o assunto. Felizmente o Porto Feliz terminou. É que a legitimidade de uma acção política não advém apenas da vitória numas eleições. 

Relativamente à Es.Col.A, pouco poderei dizer porque não o conheço por dentro o projecto. No entanto, há coisas que devem ser ditas. Para além de me parecer uma iniciativa cívica louvável, uma vista de olhos pelos horários e actividades propostas, a reacção e o discurso dos habitantes da Fontinha face ao despejo parecem indicar que os princípios fundamentais e legitimadores de qualquer intervenção comunitária têm sido respeitados: o envolvimento da comunidade no que se chama em psicologia "avaliação das necessidades", "definição de objectivos" e de "avaliação dos resultados". Uma das necessidades atendidas  referida várias vezes pelas pessoas à comunicação social é a do apoio educativo a crianças sem possibilidade de pagar por ele.
A ideia de que apenas académicos/especialistas estão autorizados a definir os objectivos e os métodos de qualquer intervenção, para além de servir propósitos de protecção profissional (somos nós psicólogos e assistentes sociais que do alto do nosso saber científico decidimos o que é melhor para vocês e portanto o poder de planear e agir é nosso), é, segundo mostra a evidência na área, errada. Quanto mais espontâneas forem as iniciativas (de baixo para cima), maior a probabilidade de se reunirem os ingredientes necessários a mudanças positivas, i.e., o estabelecimento de relações de confiança  e a percepção de que se tem poder, de que a sua voz é ouvida (o chamado "locus de controlo interno" por oposição ao externo, onde as pessoas crêem que tudo lhes é alheio, pelo que não há nada que possam fazer para mudar). É mais ou menos a isto que se refere um modelo relativamente recente e muito popular chamado "Empowerment". 
Assim, a ideia da câmara aqui exposta de substituir este projecto por outro de sua iniciativa e autoria parece-me no mínimo contraproducente.
Qual a probabilidade de ser entendida pelas pessoas como um abuso de poder que não tem minimamente em conta as suas vontades e interesses? 

sexta-feira, 20 de abril de 2012

eleitos e ofendidos

Alguns parlamentares regionais mostraram-se ofendidos pela facto de ter circulado nos jornais, na rádio e na blogosfera a ideia de que os partidos não eram contra a subida irracional do número de deputados a eleger para o parlamento açoriano. Um deles afirmou que não aceitava lições de ninguém e outro diz ser pessoa muito séria. 
A acusação até pode ser um pouco injusta. No entanto, ficam algumas questões. Se não tem havido uma denuncia pública da irracionalidade, será que os partidos, por si, decidiriam actuar? Se sim, porque não o fizeram no passado, quando irracionalidades semelhantes aconteceram? Fica-se também com a sensação de que o problema foi adiado mas não resolvido, uma vez que a alteração proposta só vigorará nas próximas eleições. Veremos que propostas de alteração da lei eleitoral e do sistema de representação surgirão depois das eleições.

Desolados gangsters

" Em 1933 revoga-se a lei Seca, atendendo a que produziu «injustiça, hipocrisia e a criminalização de grandes sectores sociais, obscura corrupção e a criação do crime organizado». As três «famílias», separadas até então por ferozes rivalidades, acordam numa política de coexistência pacífica, aconselhável perante a iminente ruína que para elas representa o fim desta proibição. 
É então que os chefes do gang judeu e do italiano -- M. Lansky e S. Luciano -- estudam a possibilidade de se   dedicarem à morfina e cocaína, aproveitando a proibição vigente para essas drogas. A cocaína não serve, porque nesse mesmo ano acaba de se comercializar a anfetamina -- um estimulante muito mais activo, de venda livre nas farmácias --, e a morfina -- com escassa capacidade eufórica -- parece ainda demasiado ligada a gente de ordem. Mas o legislador americano decidiu há pouquíssimo tempo ilegalizar a produção e venda de heroína -- usada até esse momento como cura de opiómanos e morfinómanos --, e aqui encontrarão os desolados gangsters a sua tábua de salvação."

Antonio Escohotado, História Elementar das Drogas, p. 100. 

segunda-feira, 16 de abril de 2012


A beautiful scam!


"A beautifully bizarre law of that time, when the National Health started, was that if you were a junkie, you registered with your doctor, and that would register you with the government as being a heroin addict, and then you would get pure little heroin pills, with a little phial of distilled water to shoot it up with. And of course any junkie is going to double how much he says he needs. Now, at the same time, whether you wanted it or not, you got the equivalent in cocaine. The theory being that the coke would counteract the junk and maybe make the junkies useful members of society, on the grounds that if they take just the junk, they’ll lie down and meditate and read things and then shit and stink. And the junkies of course would sell off their cocaine. They doubled their actual need for heroin, so they’ve got half their heroin stash to sell off, plus all of the cocaine. A beautiful scam! And it was only when the program stopped that you really began to have a drug problem in the UK."

Life (Keith Richards and James Fox (Contributor))
- Highlight Loc. 3801-8

I’m glad he filmed that, but Godard!




"The film Sympathy for the Devil is by chance a record of the song by us of that name being born in the studio. The song turned after many takes from a Dylanesque, rather turgid folk song into a rocking samba—from a turkey into a hit—by a shift of rhythm, all recorded in stages by Jean-Luc. The voice of Jimmy Miller can be heard on the film, complaining, “Where’s the groove?” on the earlier takes. There wasn’t one. There are some rare instrumental switches. I play bass, Bill Wyman plays maracas, Charlie Watts actually sings in the wooo-woooo chorus. As did Anita and maybe Marianne too. So far so good. I’m glad he filmed that, but Godard! I couldn’t believe it; he looked like a French bank clerk. Where the hell did he think he was going? He had no coherent plan at all except to get out of France and score a bit of the London scene. The film was a total load of crap—the maidens on the Thames barge, the blood, the feeble scene of some brothers, aka Black Panthers, awkwardly handing weapons to one another in a Battersea scrap yard. Jean-Luc Godard up until then made very well-crafted, almost Hitchcockian work. Mind you, it was one of those years when anything was flyable. Whether it would actually take off was another thing. I mean, why, of all people, would Jean-Luc Godard be interested in a minor hippie revolution in England and try to translate it into something else? I think somebody slipped him some acid and he went into that phony year of ideological overdrive."

Life (Keith Richards and James Fox (Contributor))
- Highlight Loc. 3721-31 



sábado, 14 de abril de 2012

quinta-feira, 12 de abril de 2012

quarta-feira, 11 de abril de 2012

domingo, 8 de abril de 2012

La era ou el verano, Francisco Goya (1746-1828)


Por sugestão de um marcador de livros do Museo del Prado de 1996.

A different kind of fog

"It’s difficult to put those middle and late ’60s together, because nobody quite knew what was happening. A different kind of fog descended and much energy was around and nobody quite knew what to do with it. Of course, being so stoned all the time and experimenting, everybody, including me, had these vague, half-baked ideas. You know, “Things are changing.” “Yeah, but for what, for where?” It was getting political in 1968, no way to avoid that. It was getting nasty too. Heads were getting beaten. The Vietnam War had a lot to do with turning it around, because when I first went to America, they started drafting the kids. Between ’64 and ’66 and then ’67, the attitude of American youth was taking drastic turns. And then when you got the killings at Kent State in May of 1970, it turned really sour. The side effects hit everybody, including us. You wouldn’t have had “Street Fighting Man” without the Vietnam War. There was a certain reality slowly penetrating."

Life (Keith Richards and James Fox (Contributor))
- Highlight Loc. 3690-97





It echoes something in the human body

"There’s something primordial in the way we react to pulses without even knowing it. We exist on a rhythm of seventy-two beats a minute. The train, apart from getting them from the Delta to Detroit, became very important to blues players because of the rhythm of the machine, the rhythm of the tracks, and then when you cross onto another track, the beat moves. It echoes something in the human body. So then when you have machinery involved, like trains, and drones, all of that is still built in as music inside us. The human body will feel rhythms even when there’s not one. Listen to “Mystery Train” by Elvis Presley. One of the great rock-and-roll tracks of all time, not a drum on it. It’s just a suggestion, because the body will provide the rhythm. Rhythm really only has to be suggested. Doesn’t have to be pronounced. This is where they got it wrong with “this rock” and “that rock.” It’s got nothing to do with rock. It’s to do with roll."


Life (Keith Richards and James Fox (Contributor))
- Highlight Loc. 3601-8


I’m doing it for me.

"Levitation is probably the closest analogy to what I feel—whether it’s “Jumpin’ Jack” or “Satisfaction” or “All Down the Line”—when I realize I’ve hit the right tempo and the band’s behind me. It’s like taking off in a Learjet. I have no sense that my feet are touching the ground. I’m elevated to this other space. People say, “Why don’t you give it up?” I can’t retire until I croak. I don’t think they quite understand what I get out of this. I’m not doing it just for the money or for you. I’m doing it for me."

Life (Keith Richards and James Fox (Contributor))
- Highlight Loc. 3551-54

to fuck around with the sound / to create one thing

"Chicago blues was so raw and raucous and energetic. If you tried to record it clean, forget about it. Nearly every Chicago blues record you hear is an enormous amount over the top, loading the sound on in layers of thickness. When you hear Little Walter’s records, he hits the first note on his harp and the band disappears until that note stops, because he’s overloading it. When you’re making records, you’re looking to distort things, basically. That’s the freedom recording gives you, to fuck around with the sound. And it’s not a matter of sheer force; it’s always a matter of experiment and playing around. Hey, this is a nice mike, but if we put it a little closer to the amp, and then take a smaller amp instead of the big one and shove the mike right in front of it, cover the mike with a towel, let’s see what we get. What you’re looking for is where the sounds just melt into one another and you’ve got that beat behind it, and the rest of it just has to squirm and roll its way through. If you have it all separated, it’s insipid. What you’re looking for is power and force, without volume—an inner power. A way to bring together what everybody in that room is doing and make one sound. So it’s not two guitars, piano, bass and drums, it’s one thing, it’s not five. You’re there to create one thing."
Life (Keith Richards and James Fox (Contributor))
- Highlight Loc. 3475-84

sábado, 7 de abril de 2012

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Flash


"But if someone said, “You can play only one of your riffs ever again,” I’d say, “OK, give me ‘Flash.’ ” I love “Satisfaction” dearly and everything, but those chords are pretty much a de rigueur course as far as songwriting goes. But “Flash” is particularly interesting. “It’s allllll right now.” It’s almost Arabic or very old, archaic, classical, the chord setups you could only hear in Gregorian chants or something like that. And it’s that weird mixture of your actual rock and roll and at the same time this weird echo of very, very ancient music that you don’t even know. It’s much older than I am, and that’s unbelievable! It’s like a recall of something, and I don’t know where it came from."

Life (Keith Richards and James Fox (Contributor))
- Highlight Loc. 3537-42

the strangest TV discussion ever filmed


The same day we were released, the strangest TV discussion ever filmed took place between Mick—flown in by helicopter to some English lawn—and representatives of the ruling establishment. They were like figures from Alice, chessmen: a bishop, a Jesuit, an attorney general and Rees-Mogg. They’d been sent out as a scouting party, waving a white flag, to discover whether the new youth culture was a threat to the established order. Trying to bridge the unbridgeable gap between the generations. They were earnest and awkward, and it was ludicrous. Their questions amounted to: what do you want? We’re laughing up our sleeves. They were trying to make peace with us, like Chamberlain. Little bit of paper, “peace in our time, peace in our time.” All they’re trying to do is retain their positions. But such beautiful English earnestness, this concern. It was astounding. Yet you know they’re carrying weight, they can bring down some heavy-duty shit, so there was this underlying aggressiveness in the guise of all this amused curiosity. In a way they were begging Mick for answers. I thought Mick came off pretty well. He didn’t attempt to answer them; he just said, you’re living in the past.

Life (Keith Richards and James Fox (Contributor))
- Highlight Loc. 3381-89

what a trip!

There’s not much you can really say about acid except God, what a trip! Stepping off into this area was very uncertain, uncharted. In the years ’67 and ’68 there was a real turnover in the feeling of what was going on, a lot of confusion and a lot of experimentation. The most amazing thing that I can remember on acid is watching birds fly—birds that kept flying in front of my face that weren’t actually there, flocks of birds of paradise. And actually it was a tree blowing in the wind.

Life (Keith Richards and James Fox (Contributor))
- Highlight Loc. 3002-5

 

The Moroccan specialty was kef, the leaf cut up with tobacco, which they smoked in long pipes—sebsi, they called them— with a tiny little bowl on the end. One hit in the morning with a cup of mint tea. But what Achmed had in large quantities and which he imbued with a new glamour was a kind of hash. It was called hash because it came in chunks, but it wasn’t hash strictly speaking. Hash is made from the resin. And this was loose powder, like pollen, from the dried bud of the plant, compressed into shape. Which was why it was that green color. I heard that a way of collecting it was to cover children in honey and run them naked through a field of herb, and they came out the other end and they scraped ’em off. Achmed had three or four different qualities, decided by which kind of stocking he put it through. There would be the coarser ones, and there would be the twenty-four denier, very close to the dirham, the money. The high-quality one went through the finest, finest silk. It was just powder by then.

Life (Keith Richards and James Fox (Contributor))
- Highlight Loc. 3198-3205

Coisas boas sobre o mal: duas visões

"Chegamos agora a uma descoberta que parece ser central para compreender a ideia e mal. O mal não tem, ou parece não ter, finalidade prática. O mal é supremamente inútil. Qualquer coisa monótona como uma finalidade mancharia a sua pureza letal.  Nisto assemelha-se a Deus que, a existir, não tem absolutamente nenhuma razão para fazê-lo. Ele é a sua própria razão de ser. E criou o universo, não por haver alguma finalidade, mas apenas por prazer (just for fun). O mal rejeita a lógica da causalidade. Se tivesse uma finalidade à vista, auto-dividir-se-ia, não seria auto-idêntico, estaria à frente de si mesmo. Mas o nada não pode ser dividido dessa forma. É por isso que não pode existir realmente no tempo. Pois o tempo é uma questão de diferença, e o mal é aborrecidamente e perpetuamente o mesmo. É neste sentido que se diz que o inferno é para toda a eternidade."
(Eagleton, Terry, On evil, Yale U.P., 2010, pp. 84-85. Tr LFB)

A visão literária: Um interessante livro que, a partir das ideias psicanalistas e marxistas (combinação exuberante!) realiza um estudo feito a partir de obras literárias para compreender o problema do mal.  


"The standard explanation is that the Holocaust (sadly, as we shall see, echoed in many cultures historically across the globe) is an example of the “evil” that humans are capable of inflicting on one another. Evil is treated as incomprehensible, a topic that cannot be dealt with because the scale of the horror is so great that nothing can convey its enormity. The standard view turns out to be widely held, and indeed the concept of evil is routinely used as an explanation for such awful behaviors: Why did the murderer kill an innocent child? Because he was evil. Why did this terrorist become a suicide bomber? Because she was evil. But when we hold up the concept of evil to examine it, it is no explanation at all. For a scientist this is, of course, wholly inadequate. What the Nazis (and others like them) did was unimaginably terrible. But that doesn’t mean we should simply shut down the inquiry into how people are capable of behaving in such ways or use a nonexplanation, such as saying people are simply evil. As a scientist I want to understand what causes people to treat others as if they were mere objects. In this book I explore how people can treat each other cruelly not with reference to the concept of evil, but with reference to the concept of empathy. Unlike the concept of evil, empathy has explanatory power. In the coming chapters I put empathy under the microscope."
Simon, Baron - Cohen, The Science of Evil, Basic Books, 2011, Highlight Loc. 114-24.

A visão científica: Uma tentativa de produzir uma explicação científica para a crueldade e para o problema do mal. O autor é um reconhecido psicopatologista da Universidade de Cambridge que aqui apresenta um estudo sobre a forma como aquilo que ele designa 'a corrosão da empatia' pode estar na origem do mal.
 

quinta-feira, 5 de abril de 2012

O sistema eleitoral da RAA

Em pequena entrevista, na última página do Diário Insular (20 Mar 012), o professor Carlos Amaral diz coisas certeiras sobre os problemas graves do sistema eleitoral açoriano:

"Nada obriga a Assembleia regional a crescer - a não ser a nossa vontade. (...) Um travão é absolutamente essencial para garantir um mínimo de racionalidade."


Comentário 1: Que a irracionalidade rege o sistema eleitoral já aqui foi registado. Com um sistema eleitoral onde parece impossível saber que deputado é que representa que eleitor - uma vez que não se vota em pessoas, mas sim em partidos - fica a questão de saber como é que "a nossa vontade" pode ser expressa de forma a impor a racionalidade. Um sistema irracional perpetua eternamente a irracionalidade, ou não?

"O modelo misto [vota-se e, como que por magia, são eleitos os deputados e os governantes, digo eu] que enforma o sistema eleitoral açoriano justificou-se numa determinada conjuntura histórica de arranque do processo autonómico. Há muito porém que deixou de servir."

Comentário 2: a história é quase sempre uma boa forma de justificar o injustificável.

"De duas uma: Ou as nossas ilhas são importantes, ou não são. Se são importantes há que assegurar a sua representação política (...) Se não são, então a única representação política que é necessária é estritamente demográfica (...). Por mim entendo que as ilhas são muito importantes para a nossa identidade como povo. Por isso defendo a reorganização da Assembleia regional em duas Câmaras: um Senado, de representação das ilhas e um Parlamento de representação estritamente demográfica. Por outro lado, entendo ainda que a actividade parlamentar regional não constitui actividade a tempo inteiro (...). Ela é perfeitamente compatível o exercício de actividades profissionais próprias. Ser deputado não pode ser uma profissão. Muito menos permanente! Antes, é actividade de cidadãos. Não de uma classe política, mas de todos os cidadãos, alternadamente."

Comentário 3: Está muito bem. Mas é toda uma visão da política que está errada. O lugar de deputado é a tempo inteiro (ainda que se tenha inventado a rotatividade, uma espécie de vou ali e já venho) e é emprego bom, bom, bom.
Para além do mais não se percebe como é que isso resolveria o problema do aumento constante de deputados eleitos. Não é apenas preciso reorganizar as formas de representação é também necessário reformular o sistema artificial de eleição dos representantes. 
E estamos cheios de reformados da política que nunca fizeram outra coisa que não política. E estamos cheios de jovens políticos que nunca farão outra coisa que não política. E há muitos à espera de um lugar. A política não só é profissão, como há, nos políticos, uma consciência de classe que os leva a auto e hetero protegerem-se. Longe vai o tempo em que para se praticar a política era preciso ter dado provas de honestidade, coragem e decência. Sobretudo, já ter resolvido as questões da casa (eco-nomos). Hoje basta ter gravata e um partido do arco como alavanca.

"Os partidos, convém ter presente, são instrumentos ao serviço da sociedade. Não lhes cabe, portanto, "abrir mão" do que não é deles. Não é aos partidos que cabe determinar o que é que os açorianos querem, mas aos próprios açorianos. A não ser, claro, que estes se demitam."

Comentário 4: Ok. Mas essa dos "próprios açorianos" é que parece não ter saída, ou então ser circular. Quem pergunta aos "próprios" o que eles querem? Os partidos. E como é que se faz essa pergunta? E como é que se faz com que os "próprios" compreendam a pergunta? Através dos partidos. É pois mais verossímil ser a sociedade um instrumento dos partidos.
E não me parece que "os próprios" se possam demitir, pois acredito que a política é parte essencial da natureza humana, quer se queira, quer não. Essa parte pode estar adormecida, mas voltará. Aceitam as coisas como são, sabem que os políticos, os partidos, os sistemas, são necessários. Mas não sabem bem porquê. O povo - ou as "nossas gentes" como agora dizem, pois 'povo' tem sabor a democracia popular e a referendos e a deliberações demoradas, tudo coisas boas mas não já - é soberano, mas vá-se lá sabe o que é que isso significa.
Bom era mesmo uma democracia deliberativa, uma democracia onde cada político se sentisse na obrigação de apresentar e discutir com todos as razões para as suas políticas. E isso continuamente e com calma. Acreditar que só porque se foi eleito governante se ganha legitimidade para se fazer o que bem se entender não parece justo nem desejável. E depois há que perguntar: se foi eleito para governar por quatro anos, quem lhe deu legitimidade para contrair dívidas, em nome de todos, por trinta anos?


quarta-feira, 4 de abril de 2012

Straight Time (1978)




A resposta é a chave do filme. Se o vir, pode, como exercício, tentar adivinhá-la.