Gravações do Trio Fragata no bandcamp

domingo, 26 de fevereiro de 2006

Hospital São João: grande escola de paciência

Prestígio, competência e eficácia: qualidades da considerada maior escola de medicina do país, onde trabalham arduamente alguns dos maiores nomes da àrea: Hospital São João.

Pois foi precisamente no São João que tive opotunidade de testemunhar algumas das mais inacreditáveis cenas de incompetência algumas vez imaginadas pelos mais cépticos.

Sábado, 25 de Fevereiro de 2006

16 horas e 30 minutos: passo pela triagem onde explico não suportar por muito tempo estar noutra posição que não deitada.

Cerca das 17 horas: senhora em sofrimento discute com médicos, alegando dores insuportáveis; toma dois calmantes. Adormece. Algum tempo depois, médica ao sair das urgências, embate contra a perna da paciente, (uma vez que a sala de espera consiste basicamente num estreito corredor onde se condensam cadeiras), pede desculpa e segue o seu caminho. Cerca de uma hora depois, médico chama paciente que, ao não poder andar sozinha, é socorrida nada mais nada menos do que por outra paciente (cerca de 70 anos). Tal ocorrência passa despercebida ao atento olhar médico.


Cerca das 20 horas: médico atende paciente, ao que lhe diz - tom rude, grotesco - "A senhora não tem centro de saúde?".

Cerca das 21 horas: o desespero: dores insuportáveis. Não sou atendida, aliás, neste período de 4 horas e 30 minutos, talvez o tenham sido 4 pessoas... Desisto, vou-me embora. Estado: pior que à chegada dado o suplício de estar sentada ou em pé.

Como é isto possível?
(D.O.)

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

Primo Levi


Agora que o anti-judaísmo ignóbil resurgiu em força e com a conivência ‘tolerante’ de alguns dirigentes políticos portugueses, vale a pena reler com atenção algumas das respostas de Primo Levi a questões colocadas pelos seus leitores.


Entrevista Retirada de: Primo Levi, “The Author´s Answers to His Readers Questions” pp.381-398, in, If This Is a Man & The Truce, Abacus, 1999.



"1. No livro não há um sentimento de ódio pelos Alemães, nem um desejo de vingança. Perdoou-os?
R: O Meu temperamento pessoal não está inclinado para o ódio. Vejo-o como animalesco e cruel, prefiro que as minhas acções e pensamentos sejam o resultado da razão (…) Se o fizesse estaria a seguir os preceitos dos Nazismo.
Acredito na razão e na discussão como instrumentos do progresso, e por isso reprimo o ódio, mesmo dentro de mim. Prefiro a justiça. Por essa razão, ao descrever o mundo trágico de Auschwitz, adoptei a linguagem sóbria e calma da testemunha, e não os tons lamentáveis da vítima nem a voz irada de alguém que procura vingança. Penso que a minha tarefa seria tanto mais útil e credível quanto mais fosse objectiva e quanto menos soasse excessivamente emocional. Só desta forma pode uma testemunha realizar a sua função em termos de justiça; isto é, fornecer elementos válidos para o juiz poder julgar. Os juízes são os meus leitores.
De qualquer modo, não gostaria que o facto de eu me abster de fazer um juízo explícito fosse confundido com um perdão indiscriminado. Não, eu não perdoei nenhum dos culpados, nem desejo perdoar nenhum deles, a não ser que eles mostrem (com acções, e não com palavras e não muito tempo depois) que estão conscientes dos crimes e erros do fascismo e estejam determinados em condená-lo (…). Só nestas condições estou pronto a perdoar.

2. Sabia o povo alemão o que estava a acontecer?

Como seria possível que a exterminação de milhões de seres humanos tivesse acontecido no coração da Europa sem o conhecimento das pessoas?
As democracias têm uma tremenda vantagem sobre os estados autoritários: toda a gente pode saber tudo sobre tudo. A informação é um quarto poder (...). No estado autoritário a verdade é só uma e vem de cima. Todos os jornais são iguais e repetem as mesmas coisas. Não se pode ouvir a rádio de outros países. Os livros são censurados, muitos são queimados, e só aqueles que agradam ao estado são publicados e traduzidos. Isto aconteceu na Itália entre 1924 e 1945, e continuou depois na Alemanha de leste (…).
Num estado autoritário é considerado permissível alterar a verdade; reescrever a história retrospectivamente, distorcer as notícias, suprimir a verdade, adicionar o falso, a propaganda substitui a informação. Nestes estados não se é um cidadão com direitos, mas sim um sujeito, e como tal deves ao estado uma lealdade fanática e uma obediência cega. Nestas condições torna-se possível apagar pedaços da realidade. Hitler e o seu ministro da propaganda (Goebbels) tornaram-se especialistas nesta tarefa de controlar e mascarar a verdade.
Contudo, não era possível esconder do povo alemão a existência de campos de concentração. Nem tal era necessário do ponto de vista dos nazis. Criar e manter no país uma atmosfera de terror indefinido fazia parte dos objectivos dos nazis. Centenas de milhares de alemães foram presas nos campos desde os primeiros meses do nazismo: comunistas, social-democratas, liberais, judeus, protestantes, católicos. Todo o país sabia disso e sabia que nos campos sofriam e morriam pessoas.
Mas não deixa de ser verdade que a grande maioria dos Alemães desconhecia os detalhes das enormes atrocidades que ocorreram mais tarde nos campos. Nomeadamente a exterminação industrializada numa escala de milhões; as câmaras de gás; os fornos crematórios, o despojo perverso dos corpos. Tudo isto deveria permanecer desconhecido, e de facto poucos foram os que souberam disso antes do fim da guerra. Para manter o segredo, só certos eufemismos – estudados cuidadosamente – eram usados: não se escrevia “exterminação”, mas sim ”solução final”; não “deportação, mas sim ”transferência”, não “gás mortal”, mas “tratamento especial”, e por aí a fora. (…).
O relato que, a meu ver, melhor retrata a situação alemã na altura é o de Eugene Kogon, que passo a citar:

“… e contudo não havia um único alemão que não soubesse da existência dos campos ou que acreditasse que eles eram sanatórios … todos os alemães foram testemunhas da barbárie anti-semita. Milhões estiveram presentes – com indiferença ou com curiosidade; com desdém ou com uma alegria maligna – na destruição de sinagogas pelo fogo, ou na humilhação de judeus que se tinham que ajoelhar no meio das ruas enlameadas.”

(…) A maioria dos alemães não sabia porque não queria saber. É verdade que um estado terrorista é uma arma muito forte, muito difícil de resistir. Mas também é verdade que o povo alemão como um todo não quis, nem tentou, resistir.
Usava-se um código na Alemanha de Hitler: aqueles que sabiam não falavam; aqueles que não sabiam não perguntavam; aqueles que faziam perguntas não recebiam respostas. (…) Saber e fazer com que as coisas fossem conhecidas era uma forma de uma pessoa se manter afastada do nazismo. Penso que o povo alemão não procurou este recurso e para mim são totalmente culpados desta omissão deliberada.

3. Como pode ser explicado o ódio fanático dos nazis pelos judeus?

O anti-semitismo é uma forma particular de intolerância; durante séculos teve um carácter mais religioso. Essa intolerância foi espalhada por toda a Europa pela eficiência da propaganda nazi e fascista que necessitava de um bode expiatório para carregar todas as culpas e ressentimentos (…). Mas estas explicações não me satisfazem, são redutoras, e não proporcionais aos factos que necessitam de explicação. (…).
Eu partilho da humildade de alguns grandes historiadores que confessam não compreender o anti-semitismo de Hitler e da Alemanha que o suportava. Talvez não se possa, ou melhor não se deva compreender o que aconteceu, porque compreender é quase justificar. “Compreender” uma proposta, ou um comportamento, significa abrangê-la, pôr-mo-nos no seu lugar, identificarmo-nos com ela. Nunca nenhum ser humano normal será capaz de se identificar com Hitler (…) Isso desanima-nos, porque não compreendemos, mas ao mesmo tempo causa-nos uma sensação de alívio, porque talvez seja desejável que as suas palavras (e, infelizmente, os seus actos) sejam compreendidas por nós. (…) Não o podemos compreender, mas podemos compreender a árvore que o brotou e podemos permanecer alerta. Se compreender é impossível, ter conhecimento é imperativo, porque o que aconteceu pode acontecer novamente. A consciência pode ser seduzida e obscurecida novamente – mesmo a nossa própria consciência. Por esta razão é um dever de todos reflectir sobre o que aconteceu. Toda a gente deve saber, ou recordar, que Hitler e Mussolini falavam em público, que as pessoas acreditavam neles, aplaudiam, admiravam-nos, adoravam-nos como se fossem deuses. Eram líderes carismáticos (…).
É necessário suspeitar daqueles que nos querem convencer com outros meios que não a razão; e é preciso suspeitar dos líderes carismáticos: é preciso muito cuidado ao delegarmos a nossa vontade e os nossos juízos. Uma vez que é muito difícil distinguir os falsos profetas dos verdadeiros, é melhor suspeitar de todos. É melhor renunciar a verdades reveladas (…), é melhor contentarmo-nos com verdades mais modestas e menos excitantes, aquelas que são adquiridas a custo, a pouco e pouco, com estudo, discussão e raciocínio crítico (…)."


(Tradução livre de LFB)

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

A bomba

Agora que o Irão tresloucado se prepara, à vista de todos e com a boca cheia de anti-judaísmo, para construir a bomba nuclear, é caso para perguntar o que podemos fazer. Ouvir na televisão o Miguel Sousa Tavares moderado e anti-guerra do Iraque afirmar que a nossa única esperança é que os EUA destruam, através de bombardeamentos ou apoiando bombardeamentos feitos pelos israelitas, as centrais iranianas, dá que pensar. Não há dúvidas de que o presidente iraniano é, em muitos aspectos, semelhante a Hitler. Se este tivesse sido destruído a tempo, muito sofrimento, desgraça e terror teriam sido evitado. É também altura de começar a ouvir aqueles - como por exemplo Mário Soares e a esquerda populista em geral - que, aquando da discussão sobre se se deveria travar ou não uma guerra contra o Iraque, defenderam o diálogo e a tolerância para com os terroristas. Será que estão prontos a dialogar com o presidente do Irão? E ele quererá dialogar com eles? Será que estão prontos a aceitar riscar Israel do mapa em troca de alguma segurança temporária?
(LFB)

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

O relativista apavorado

Daniel Oliveira, numa coluna que assina no jornal Expresso (a leitura na internet é paga) intitulada "Choque e Pavor", revela o pior do relativismo moral do qual ele se diz um defensor. Daniel é contra "a proibição de qualquer tipo de mensagem" o que o faz condenar qualquer lei que limite a liberdade de expressão. Supõe-se que seja contra a proibição da publicidade machista, racista e xenófoba da mesma maneira que é contra a proibição, vingente em muitos países da Europa, da negação do holocausto. Ele não vê nenhuma razão para tais proibições fazerem sentido, a não ser o facto de elas serem relativas a "um contexto histórico e político". Para ele não se pode alegar que a europa é mais civilizada do que, por exemplo, o Irão, porque, nas suas palavras, foram os "tolerantes e civilizados europeus" que cometeram o holocausto.
Daniel é pois solidário com o direito dos cartonistas publicarem o que bem entenderem, na dinamarca ou no Irão, só que vê na recusa por parte da europa liberal em aceitar as reacções (e as exigências) dos países árabes uma ameaça "à tolerância religiosa e à paz ". Ele, por si, não compactua nem se deixa manobrar; é tolerante e relativista moral porque só assim a "moral pode ser operativa". Frase para a qual não apresenta nenhuma justificação. Supõe-se que ele nos esteja a dizer que comprende muito bem as reacções extremistas, da mesma maneira que compreende quem faz desenhos anti-judaicos, ou quem nega a existência dos campos de extermínio. Ele é incapaz de perceber uma diferença fundamental entre uma proibição na Europa e uma proibição no Irão. Na Europa pode-se recorrer à justiça como forma de resolver um conflito, enquanto no Islão extremista recorre-se à força e ao apelo à violência. Na Europa, fomos capazes de criar e de defender um conjunto de princípios razoáveis que são aceites por todos (o que não significa que não possam ser postos em causa, viver em democracia é viver na constante procura de equilíbrio) e que defendem a liberdade individual acima de tudo; é isso que significa viver num regime constitucional liberal. Não basta a democracia - como se prova pela eleição do Hammas na Palestina - é também necessário uma constituição que garanta o recurso à justiça e a liberdade individual. Todos os que vivem sob uma constituição liberal acreditam em valores inquestionáveis. Mesmo o colunista em causa; ou o seu apelo à solidariedade e à tolerância é também relativo? No Islão radical o que se vê é a lei imposta à força sem a possibilidade de recurso ao que quer que seja. A proposta de recompensar os bombistas suícidas com virgens no céu (e com dinheiro entregue às suas famílias) é um atentado à dignidade das mulheres e um abuso da fé, seja ela qual for. O que é condenável, intolerável e injustificável. Ponto. Não podemos sequer querer compreender que as mulheres sejam propriedade, que as crianças sejam escravizadas, que a diferença seja simplesmente aniquilada. O relativismo é, ao contrário do que afirma Daniel Oiveira, a melhor maneira de impedir qualquer discussão. Se somos relativistas, se aceitamos tudo, para quê discutir? Qual o sentido de dizer que o holocausto é muito diferente daquilo que se passa na Palestina? Aqui temos opressão, violência, direitos infringidos, mortes; na Alemanha nazi assistiu-se a uma forma incompreensível de "mal radical"; o extermínio da própria noção de humanidade. E esta não é relativa. E pode-se mostrar porquê a qualquer ser humano que o queira perceber.

(LFB)

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006

desobediência democrática

"Resistir muito, obedecer pouco."
(Walt Whitman)

Há dias entrou na assembleia regional legislativa açoriana (orgão reúne uma vez por mês; muito haveria a dizer sobre a sua necessidade, justificação e pertinência. Se calhar, o melhor era sermos apenas portugueses e pronto; fica o benefício da dúvida) o pedido de uma pensão vitalícia de 2500 euros a atribuir a Victor Cruz; um ex-deputado com 42 anos de idade que, ao pedir a suspensão do seu mandato (voltará? Para quê?), aproveitou para reclamar a "devida” pensão.
No país discute-se a crise económica e o aumento da idade da reforma. Nas escolas regionais surgem documentos bizarros que pretendem diminuir, ou mesmo acabar, com o insucesso escolar. Como se o insucesso (igual à percentagem dos alunos que não terminam um determinado nível de ensino) pudesse ser extinto por decreto, como quem extingue uma secretaria. Como se o que contasse na educação de uma geração fosse apenas o sucesso. Como se a inteligência, a qualidade, o nível de exigência, a procura do saber, passassem repentinamente a valer zero.
Conclusão: as reformas antecipadas (no caso com 23 anos de antecipação em relação aos 65 anos de idade de que tanto se fala) dos deputados são injustas. Seja por que razão for ou para quem for. Um sistema político que as aprova é um sistema injusto, e aqueles que as aprovam, gozando do seu estatuto de legisladores democraticamente eleitos, são justamente acusados de se protegerem uns aos outros e de serem os primeiros responsáveis pelo seu próprio descrédito. Até aqui nada de novo.
Pergunte-se agora se uma sociedade assim pode valorizar as suas instituições fundamentais? O seu corpo político e o seu corpo educativo? Qual dos dois o mais importante? Qual dos dois o mais exigente? Qual dos dois o mais abandalhado? Haverá uma saída que nos melhore a todos?
A minha resposta é sim, mas vamos com calma. Cada um de nós tem que começar a exigir mais respeito, a mostrar mais responsabilidade perante os irresponsáveis, uma maior atitude crítica face a injustiças, a autoritarismos descabidos e, sempre que tal se mostrar adequado, a desobedecer: “um princípio incendiário para assuntos cívicos” (Berman, A Tale of Two Utopias, p.51, (livro de onde a epígrafe de Whitman é retirada).
(LFB)

UM SUCESSO



Subitamente o governo regional dos Açores - através da secretaria da educação - deu conta de que a região tem a pior taxa de insucesso escolar do país; e tem mostrado uma vontade enorme de acabar com o dito. Pretende-se fazer com as escolas do terceiro ciclo e secundárias o que já se fez com a maioria das Universidades, ou seja, acabar com os chumbos. Passa tudo!
Se o aluno é mau aluno (há alunos maus, como há alunos bons, porque não dizê-lo) é porque o professor ainda não se esforçou o suficiente. Esforcemo-nos mais um pouco – ignore-se que ele mal sabe ler ou escrever, que ele tem pais desinteressados, que ele está num nível que não é o seu, que tem dificuldades de concentração, que algumas matérias são difíceis e requerem um estudo aprofundado – e constatar-se-á que ele até é um aluno razoável.
A estratégia é infalível: forma-se professores numa Universidade francamente má (mas onde ninguém chumba e, logo, onde ninguém questiona a qualidade dos resultados); cria-se leis que fazem com que os professores passem à frente daqueles que são formados nas melhores Universidades e que têm melhores classificações; promove-se uma formação de professores que, apesar de altamente criticada por todos, ainda não foi simplesmente extinta; triplica-se as bonificações dos membros dos conselhos executivos (CE) das escolas da Região (como forma de os incentivar, mas também como forma de os fazer colaborar). Faça-se tudo isso contra os professores, que são as principais autoridades educativas; obriga-se os professores a permanecerem nas escolas, controlados pelos CE, ocupando os espaços dos alunos, sem que se veja qual o benefício que isso trás para qualquer das partes. A lista não acaba...
Poderemos ter que aceitar um ensino onde todos passam, e onde o sucesso (palavra vaga e ingrata) é geral, mas isso não tornará as pessoas – pobres vítimas da ilusão de não terem chumbado – mais inteligentes, mais dinâmicas, ou mais o que quer que seja. Pelo contrário, todos seremos ainda menos do que somos.
Um dia daremos conta – quando tivermos coragem de nos compararmos com as boas escolas – que, mesmo sem insucesso escolar, somos tão maus como sempre fomos.
Isto se até lá não formos capazes de alterar este estado de coisas e eu estou convencido que seremos.
(LFB)

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006

Match Point

Uma questão de sorte...?

IMPERDÍVEL

(D.O.)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2006

Sociedade "Civil"

Óbvia:
- a necessidade de uma verdadeira mobilização social em torno de questões que determinam a vida colectiva;
- a ligação intrínseca e dinâmica entre democracia e participação cívica, individual e/ou colectiva.

Dúbia:
- a existência de uma sociedade predisposta ao esforço da reflexão, motivada para intervir, consciente do seu papel e dos reais problemas que enfrenta e que tem forçosamente de resolver.

(...2006, Mundial na Alemanha...)
(D.O.)


Os partidos políticos

estão em crise e isto não é novidade. Todos o afirmam e Pacheco Pereira apresentou recentemente algumas das causas no seu Abrupto. Mas, a par deste diagnóstico, todos defendem que sem partidos a democracia saudável não pode existir. Será que não pode? Por um lado, percebe-se essa defesa dos partidos uma vez que as alternativas se revelaram desastrosas no século XX. As experiências da democracia directa nos anos sessenta revelaram resultados altamente indesejáveis para todos os implicados. A democracia parece implicar uma mediação, uma pausa para reflexão, que só os partidos e os representantes dos eleitores têm disponibilidade e legitimidade para realizar. As matérias são complexas e requerem tempo para pensar nelas. Por outro lado, a necessidade dos cidadãos afirmarem a sua individualidade e a sua não submissão intelectual também é manifesta; veja-se os jantares dos apoiantes de Alegre. Estou em crer que é possível, através da compreensão e explanação do conceito de sociedade civil, encontrar novas formas de reflexão, debate e justificação das decisões colectivas que não têm que passar necessariamente pelos partidos políticos...

(LFB)

domingo, 5 de fevereiro de 2006

As grandes ilusões

1) o Eu; a ilusão de que cada um de nós é algo que permanece idêntico no tempo;

2) o Tempo; a ilusão de que existe um tempo objectivo;

3) a Realidade, a ilusão de que aquilo que vemos é real;

4) a História, a ilusão de que seremos capazes de saber como aconteceu de facto uma coisa no passado.

As quatro ilusões combinadas (na realidade! deduzem-se umas das outras) fazem de nós uns seres estranhos à deriva.

(LFB)