sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006

UM SUCESSO



Subitamente o governo regional dos Açores - através da secretaria da educação - deu conta de que a região tem a pior taxa de insucesso escolar do país; e tem mostrado uma vontade enorme de acabar com o dito. Pretende-se fazer com as escolas do terceiro ciclo e secundárias o que já se fez com a maioria das Universidades, ou seja, acabar com os chumbos. Passa tudo!
Se o aluno é mau aluno (há alunos maus, como há alunos bons, porque não dizê-lo) é porque o professor ainda não se esforçou o suficiente. Esforcemo-nos mais um pouco – ignore-se que ele mal sabe ler ou escrever, que ele tem pais desinteressados, que ele está num nível que não é o seu, que tem dificuldades de concentração, que algumas matérias são difíceis e requerem um estudo aprofundado – e constatar-se-á que ele até é um aluno razoável.
A estratégia é infalível: forma-se professores numa Universidade francamente má (mas onde ninguém chumba e, logo, onde ninguém questiona a qualidade dos resultados); cria-se leis que fazem com que os professores passem à frente daqueles que são formados nas melhores Universidades e que têm melhores classificações; promove-se uma formação de professores que, apesar de altamente criticada por todos, ainda não foi simplesmente extinta; triplica-se as bonificações dos membros dos conselhos executivos (CE) das escolas da Região (como forma de os incentivar, mas também como forma de os fazer colaborar). Faça-se tudo isso contra os professores, que são as principais autoridades educativas; obriga-se os professores a permanecerem nas escolas, controlados pelos CE, ocupando os espaços dos alunos, sem que se veja qual o benefício que isso trás para qualquer das partes. A lista não acaba...
Poderemos ter que aceitar um ensino onde todos passam, e onde o sucesso (palavra vaga e ingrata) é geral, mas isso não tornará as pessoas – pobres vítimas da ilusão de não terem chumbado – mais inteligentes, mais dinâmicas, ou mais o que quer que seja. Pelo contrário, todos seremos ainda menos do que somos.
Um dia daremos conta – quando tivermos coragem de nos compararmos com as boas escolas – que, mesmo sem insucesso escolar, somos tão maus como sempre fomos.
Isto se até lá não formos capazes de alterar este estado de coisas e eu estou convencido que seremos.
(LFB)

Sem comentários: