Daniel é pois solidário com o direito dos cartonistas publicarem o que bem entenderem, na dinamarca ou no Irão, só que vê na recusa por parte da europa liberal em aceitar as reacções (e as exigências) dos países árabes uma ameaça "à tolerância religiosa e à paz ". Ele, por si, não compactua nem se deixa manobrar; é tolerante e relativista moral porque só assim a "moral pode ser operativa". Frase para a qual não apresenta nenhuma justificação. Supõe-se que ele nos esteja a dizer que comprende muito bem as reacções extremistas, da mesma maneira que compreende quem faz desenhos anti-judaicos, ou quem nega a existência dos campos de extermínio. Ele é incapaz de perceber uma diferença fundamental entre uma proibição na Europa e uma proibição no Irão. Na Europa pode-se recorrer à justiça como forma de resolver um conflito, enquanto no Islão extremista recorre-se à força e ao apelo à violência. Na Europa, fomos capazes de criar e de defender um conjunto de princípios razoáveis que são aceites por todos (o que não significa que não possam ser postos em causa, viver em democracia é viver na constante procura de equilíbrio) e que defendem a liberdade individual acima de tudo; é isso que significa viver num regime constitucional liberal. Não basta a democracia - como se prova pela eleição do Hammas na Palestina - é também necessário uma constituição que garanta o recurso à justiça e a liberdade individual. Todos os que vivem sob uma constituição liberal acreditam em valores inquestionáveis. Mesmo o colunista em causa; ou o seu apelo à solidariedade e à tolerância é também relativo? No Islão radical o que se vê é a lei imposta à força sem a possibilidade de recurso ao que quer que seja. A proposta de recompensar os bombistas suícidas com virgens no céu (e com dinheiro entregue às suas famílias) é um atentado à dignidade das mulheres e um abuso da fé, seja ela qual for. O que é condenável, intolerável e injustificável. Ponto. Não podemos sequer querer compreender que as mulheres sejam propriedade, que as crianças sejam escravizadas, que a diferença seja simplesmente aniquilada. O relativismo é, ao contrário do que afirma Daniel Oiveira, a melhor maneira de impedir qualquer discussão. Se somos relativistas, se aceitamos tudo, para quê discutir? Qual o sentido de dizer que o holocausto é muito diferente daquilo que se passa na Palestina? Aqui temos opressão, violência, direitos infringidos, mortes; na Alemanha nazi assistiu-se a uma forma incompreensível de "mal radical"; o extermínio da própria noção de humanidade. E esta não é relativa. E pode-se mostrar porquê a qualquer ser humano que o queira perceber.
(LFB)
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