(LFB)
Gravações do Trio Fragata no bandcamp
sexta-feira, 16 de dezembro de 2005
quinta-feira, 15 de dezembro de 2005
Outro livro
"Se eu tivesse sido conselheiro de Deus no momento da criação, muitas coisas estariam mais bem ordenadas" (p.29)
(Afonso X, Rei de Castela em 1252, conhecido como O sábio, devido às suas colecções de leis e de música)
que ando a ler é o livro de Susan Neiman, O mal no Pensamento Moderno, (Gradiva, 2005. Originalmente editado em inglês com o título Evil in Modern Thought, Princeton U.P. 2002). É um livro (premiado) de filosofia académica e como tal defende um conjunto específico de teses. A saber: i) a filosofia nos séculos XVIII e XIX foi guiada pelo problema do mal; ii) o problema do mal diz respeito à inteligiblidade do mundo como um todo; iii) a distinção entre o mal natural (os desastres naturais) e o mal moral (o mal humano) é uma distinção histórica; e iv) existem dois pontos de vista sobre o problema do mal: um que defende que a moral implica tornar o mal compreensível (de Rousseau a Hannah Arendt) e outro que defende que a moralidade implica não tornar o mal compreensível (de Voltaire a Jean Améri) (p.22).
Contudo, não deixa de ser um livro que vem mesmo a calhar. Em primeiro lugar, porque é um livro sobre o mal publicado no pós 11 de Setembro; acontecimento que veio recolocar e obrigar a repensar a questão do mal radical. E depois porque o livro se baseia noutro acontecimento importante para os estudos sobre o mal, o grande terramoto de Lisboa do qual se celebra este ano os 250 anos. O livro de Neiman começa com a ideia esclarecedora de que o século XVIII usou a expressão "Lisboa", tal e qual como hoje usamos a expressão "Holocausto".
Um dos focos de interesse do livro é o da discussão, sempre incompleta, das implicações filosóficas acerca da natureza humana que o horror nazi arrastou consigo (outros livros surgirão aqui sobre este tema). Como foi o Holocausto possível? Quem foram os responsáveis? Qual a natureza da responsabilidade? Como explicar a conivência do povo alemão (e, em geral, de muitos europeus ) com o extermínio de milhões de pessoas?
Um dos focos de interesse do livro é o da discussão, sempre incompleta, das implicações filosóficas acerca da natureza humana que o horror nazi arrastou consigo (outros livros surgirão aqui sobre este tema). Como foi o Holocausto possível? Quem foram os responsáveis? Qual a natureza da responsabilidade? Como explicar a conivência do povo alemão (e, em geral, de muitos europeus ) com o extermínio de milhões de pessoas?
Se alguém quiser ler o livro, mas não quiser passsar por alguns momentos mais chatos de história da filosofia iluminista - hiperbolizados pela fraca tradução, o que é pena que ainda aconteça numa editora prestigiada com a Gradiva (não fosse a fraca tradução e a revisão bastante deficiente este livro até poderia ser escolhido para o melhor livro de filosofia traduzido em 2005. E não fosse também o facto de este ano ter sido publicado pela F.C.Gulbenkian em edição cuidada (mas, incompreensivelmente, sem o índice analítico que tanto jeito dá aos investigadores) o livro de Michael J. Sandel O Liberalismo e os Limites da Justiça (o original é de 1982) - passe imediatamente para o quarto e último capítulo onde a filosofia contemporânea entra em jogo.
(LFB)
terça-feira, 13 de dezembro de 2005
segunda-feira, 12 de dezembro de 2005
É triste
Ha já muito tempo que desconfiava da fragilidade da Psicologia (pelo menos da forma como parece ser encarada e praticada actualmente) como ciência capaz de explicar e até de prever os mecanismos profundos da mente humana... Mas o primeiro contacto directo com alguns dos métodos utilizados na área deixaram-me ainda mais desconfiada...
Imagine-se que para medir (sim, medir significa quantificar!) o altruismo e a ideologia das pessoas, é-nos proposto recorrer a um questionário! Como se fosse possível, deste modo, tocar o cerne das pessoas e extrair de forma válida qualquer conclusão acerca das suas motivações relativamente a estas questões tão subtis.
É assustador pensar que se baseiam neste tipo de estudo muitas das respostas ditas científicas à pergunta "O que é o homem?"...
Que método proponho? Nao sei; mas sei que este não me parece minimamente plausível. É, pois, necessário reflectir. E é precisamente essa atitude crítica que NÃO vejo à minha volta: a preocupação central é a de construir - despachar - o questionário o mais rápido possível, de forma a agradar o mais o possível ao professor da cadeira em causa. É a escravização da inteligência. É a busca de um número que nos impulsiona a nós, alunos - uma nota.
É triste.
Imagine-se que para medir (sim, medir significa quantificar!) o altruismo e a ideologia das pessoas, é-nos proposto recorrer a um questionário! Como se fosse possível, deste modo, tocar o cerne das pessoas e extrair de forma válida qualquer conclusão acerca das suas motivações relativamente a estas questões tão subtis.
É assustador pensar que se baseiam neste tipo de estudo muitas das respostas ditas científicas à pergunta "O que é o homem?"...
Que método proponho? Nao sei; mas sei que este não me parece minimamente plausível. É, pois, necessário reflectir. E é precisamente essa atitude crítica que NÃO vejo à minha volta: a preocupação central é a de construir - despachar - o questionário o mais rápido possível, de forma a agradar o mais o possível ao professor da cadeira em causa. É a escravização da inteligência. É a busca de um número que nos impulsiona a nós, alunos - uma nota.
É triste.
(D.O.)
Os debates presidenciais
têm sido mornos. Mas estou esperançado de que me ajudarão a escolher a pessoa em quem vou votar. Para já uma nota sobre o debate Cavaco/Louçã; candidatos em quem eu à partida não votarei. Não votarei em Cavaco porque, para além do constante silêncio opinativo, só a ideia de que possui "um rumo certo" (como salientou Vasco Pulido Valente no Público) para Portugal me assusta; não votarei em Louçã porque a sua argumentação demagógica esconde uma vontade de poder racional, frio e implacável que o pior do século XX exemplificou bem aonde conduz. Fico com o problema de saber em quem votar dado que os restantes candidatos também não são flor que se cheire...
Mas a nota é sobre o argumento que Cavaco apresentou em defesa dos limites à entrada de emigrantes. O argumento implica que se seja capaz de antever as consequências de uma lei pouco restritiva. Diz Cavaco que ela se torna perigosa porque pode colocar em minoria eleitoral os portugueses, sobretudo se aos recém chegados for dado, de imediato, o direito de voto. A contra-argumentação de Louçã diz ser um absurdo acreditar que 10 milhões de emigrantes estão à espera de entrar em Portugal. E que, por detrás dessa suposição há uma ideia de extrema direita que ele atribui a Manuela Monteiro - a ideia de que todos os emigrantes são perigosos.
O ponto é que o argumento de Cavaco não cai com o ataque de Louçã. Primeiro, porque existem de facto milhões de pessoas à espera de entrar na Europa e, logo, também em Portugal. Não é esse precisamente o drama da Europa perante as sucessivas vagas de emigrantes clandestinos que todos os dias tentam a sua sorte (ou azar) para nela entrar?
Mas mesmo que a questão fosse de milhares e não de milhões, o erro (e o aproveitamento político) de falar em 10 milhões é grave pois como se sabe 10 milhões é o número aproximado de portugueses e não o número de eleitores que, como é óbvio, é muito menor. E é por isso que em determinados actos eleitorais - referendos, por exemplo - é perfeitamente concebível que o número de votantes portugueses pudesse ser inferior ao número de votantes recém chegados. Isto porque a participação dos portugueses pode ser (e tem sido) muito diminuta e porque a participação de recém chegados pode ser potenciada precisamente por serem novos cidadãos, por desejarem afirmar-se como tal e pelo facto de o tema em referendo, por hipótese, lhes interessar mais do que aos que já cá estão. Portanto, nem os números estão certos, nem é impossível conceber um acto eleitoral onde votam mais pessoas recém chegadas (admitindo que lhes é dado o direito de voto) do que indígenas.
Para mim é mais um sinal de que a argumentação de Louçã é uma máscara que esconde qualquer coisa de terrível.
Mas a nota é sobre o argumento que Cavaco apresentou em defesa dos limites à entrada de emigrantes. O argumento implica que se seja capaz de antever as consequências de uma lei pouco restritiva. Diz Cavaco que ela se torna perigosa porque pode colocar em minoria eleitoral os portugueses, sobretudo se aos recém chegados for dado, de imediato, o direito de voto. A contra-argumentação de Louçã diz ser um absurdo acreditar que 10 milhões de emigrantes estão à espera de entrar em Portugal. E que, por detrás dessa suposição há uma ideia de extrema direita que ele atribui a Manuela Monteiro - a ideia de que todos os emigrantes são perigosos.
O ponto é que o argumento de Cavaco não cai com o ataque de Louçã. Primeiro, porque existem de facto milhões de pessoas à espera de entrar na Europa e, logo, também em Portugal. Não é esse precisamente o drama da Europa perante as sucessivas vagas de emigrantes clandestinos que todos os dias tentam a sua sorte (ou azar) para nela entrar?
Mas mesmo que a questão fosse de milhares e não de milhões, o erro (e o aproveitamento político) de falar em 10 milhões é grave pois como se sabe 10 milhões é o número aproximado de portugueses e não o número de eleitores que, como é óbvio, é muito menor. E é por isso que em determinados actos eleitorais - referendos, por exemplo - é perfeitamente concebível que o número de votantes portugueses pudesse ser inferior ao número de votantes recém chegados. Isto porque a participação dos portugueses pode ser (e tem sido) muito diminuta e porque a participação de recém chegados pode ser potenciada precisamente por serem novos cidadãos, por desejarem afirmar-se como tal e pelo facto de o tema em referendo, por hipótese, lhes interessar mais do que aos que já cá estão. Portanto, nem os números estão certos, nem é impossível conceber um acto eleitoral onde votam mais pessoas recém chegadas (admitindo que lhes é dado o direito de voto) do que indígenas.
Para mim é mais um sinal de que a argumentação de Louçã é uma máscara que esconde qualquer coisa de terrível.
Quanto à discussão sobre a emigração, são as forças económicas que ditam os movimentos dos povos e, dado que o mercado livre é o mais desejável (só Louçã e Jerónimo não estarão convencidos disto?), enquanto não se encontrar uma forma de eliminar a pobreza não parece fácil conter o desejo dos mais pobres de quererem entrar nos países mais ricos. Os portugueses sabem bem disso, sendo também empurrados para, por exemplo, a Inglaterra onde encontram o mesmo vazio que os emigrantes recém-chegados a Portugal encontram. Sendo Portugal um país pobre, com o desemprego a crescer, com licenciados sem saberem o que fazer à vida, não é melhor pensar um pouco mais antes de abrir totalmente as portas?
(LFB)
sexta-feira, 9 de dezembro de 2005
Opinar? Sim!
"Questionar ou não questionar, eis o ser!"
(nesta janela indiscreta, o risco de plágio involuntário, exponencializa-se)
Ser-se filho, jovem, amante, pai,
ser-se gente, e agente de educação,
eis o meu ser, a minha questão!?
(nesta janela indiscreta, o risco de plágio involuntário, exponencializa-se)
Ser-se filho, jovem, amante, pai,
ser-se gente, e agente de educação,
eis o meu ser, a minha questão!?
(escrito por, "Mano velho")
(L.E.)
domingo, 4 de dezembro de 2005
os livros que ando a ler
Sempre tive a mania de ler vários livros ao mesmo tempo. Levo muito mais tempo a terminá-los mas tenho diferentes prazeres vindos de diferentes quadrantes. Falarei, nesta rubrica, de algumas das minhas leituras actuais. Começo pelo livro de Thomas Friedman, The World is Flat. A brief History of the Twenty-first century (Farrar, Straus and Giroux, 2005. Já traduzido em português, mas desconheço a qualidade da tradução). Comprei-o, acabadinho de sair, na livraria da "base" (acerca desta um destes dias escreverei). O livro é uma lufada de ar fresco no tema da globalização e no seu valor. Já há algum tempo que a luta anti-globalização da (suposta) esquerda me deixa indignado e mal disposto. Nunca cheguei a compreender as razões anti-globalização de pessoas que vivem num mundo altamente globalizado e que não querem deixar de viver nele nem de participar e usufruir do conforto deste nosso mundo. De qualquer modo, ainda não tinha assimilado totalmente o significado, a importância e a linguagem da globalização - uma mistura de comunicação, informática e economia. Nem tinha percebido a forma como o mundo tem vindo a ficar mais plano (mais igualitário?) através da sucessivas vagas de globalização. Três segundo o autor. A que começou com Colombo e cuja força principal era a capacidade de os países competirem e de colaborarem entre si. A que começou em 1800 com a industrialização e com o desenvolvimento das multinacionais (o mundo ficou mais plano graças aos transportes e às comunicações). E a vaga presente resultante das inovações tecnológicas possibilitadas pela pelo cabo de fibra óptica e pela World Wide Web. A importância da queda do muro de Berlin (9 do 11) e, consequentemente, das ideias de esquerda que impediram a afirmação individual, é destacada. Conceitos como out-sourcing, free-sourcing, ofshore, são claramente explicados de forma interessante e descomprometida, sendo apresentado o modo como, por exemplo, países como a Índia ou a China foram e estão a ser capazes de se tornar altamente competitivos neste novo mundo altamente globalizado. Também por esta via se percebe porque é que Portugal não tem sido capaz de afirmar positivamente: dito de forma simples, falta-lhe institutos de Tecnologia de excelência. Institutos que a Índia, por exemplo, começou a criar há cinquenta anos.
Nesta terceira vaga a força impulsionadora são os indivíduos e a sua capacidade de competir globalmente entre si. 'Qual é o meu papel neste mundo globalizado?' é a questão que se coloca a qualquer indivíduo que perceba o que está em jogo neste novo século.
Podemos vislumbrar aqui uma implicação entre a concepção de indíviduo livre surgida do estado liberal e a sua plena afirmação neste novo século tecnológico. A discussão desta tese e das suas implicações pós 11 de Setembro (11 do 9) parecem-me reservadas para as últimas 100 páginas do livro, onde ainda não cheguei.
(LFB)
sexta-feira, 2 de dezembro de 2005
Públicos
Finalmente vi a exposição de fotografia de Sandra Rocha “Retratos da Nossa Gente” no CCCAH. Há aqui uma ideia simples mas a funcionar bem que é a de fotografar figuras 'típicas ' da ilha Terceira e expô-las em tamanho real. Resulta aqui e em qualquer parte do mundo, e não é feita para mostrar a nenhum grupo particular. É um bom exemplo de como a arte, mesmo que seja feita nas ilhas e sobre as ilhas, não tem que resultar no provincianismo fólclorico - 'vamos levar a cultura açoreana às comunidades açoreanas emigradas' (havendo até uma secção do governo regional que está encarregue de levar a cultura açoreana aos açoreanos!).
A arte é universal e, se for boa, não tem que ser reduzida nem a um público nem a um espaço particulares. No entanto, são muito poucos os exemplos de coisas feitas nos Açores que não padecem desse mal regional. Faz-se música para açoreanos, faz-se pintura açoreana (quase só paisagem) para açoreanos.
É claro que este regionalismo artístico tem a vantagem de criar a ilusão de que o mundo somos nós e apenas nós, e é por isso - porque apagamos, como que por magia, toda a arte universal com a qual deveríamos estar em constante confronto - que somos os maiores artistas do mundo.
(LFB)
sábado, 5 de novembro de 2005
Teoria Cinética dos Gases Ideais
A teoria actualmente aceite para descrever o comportamento dos gases, em condições ideais (temperatura próxima de zero e pressão de uma atmosfera), tem como alguns pontos base os seguintes:
- O gás é constituído por um número muito elevado de moléculas em movimento desordenado descrito pelas leis de Newton;
- O volume próprio das moléculas é desprezível frente ao volume do recipiente;
- As forças intermoleculares são desprezíveis, excepto nas colisões mútuas e com as paredes do recipiente;
- As colisões são elásticas e de duração desprezível.
Contudo, após aturada pesquisa científica (*), notei que a aplicabilidade da teoria em questão não se restringe aos gases ideais! Não! Na verdade, ligeiras modificações habilitam-na a descrever de modo profundo e credível uma certa gama de comportamentos pseudo-humanos (talvez os mais frequentes no comum cidadão português) observados predominantemente em centros comerciais (CC).
Obviamente, é inevitável a alteração do nome: passar-se-á então a designar Teoria do Português Desordenado, e consta do seguinte:
- O CC é constituido por um número muito elevado de pessoas em movimento desordenado, descrito pelas leis do consumismo;
- O volume próprio das pessoas é desprezível frente ao volume do CC;
- As relações interpessoais são desprezíveis, excepto nas colisões mútuas nos corredores e lojas do CC;
- As colisões são indesejadas e de duração desprezível.
(*) A pesquisa consta de 10 minutos de observação directa e objectiva de várias amostras representativas da população portuguesa num centro comercial muito frequentado (não refiro o nome porque não faço publicidade gratuita!)
- O gás é constituído por um número muito elevado de moléculas em movimento desordenado descrito pelas leis de Newton;
- O volume próprio das moléculas é desprezível frente ao volume do recipiente;
- As forças intermoleculares são desprezíveis, excepto nas colisões mútuas e com as paredes do recipiente;
- As colisões são elásticas e de duração desprezível.
Contudo, após aturada pesquisa científica (*), notei que a aplicabilidade da teoria em questão não se restringe aos gases ideais! Não! Na verdade, ligeiras modificações habilitam-na a descrever de modo profundo e credível uma certa gama de comportamentos pseudo-humanos (talvez os mais frequentes no comum cidadão português) observados predominantemente em centros comerciais (CC).
Obviamente, é inevitável a alteração do nome: passar-se-á então a designar Teoria do Português Desordenado, e consta do seguinte:
- O CC é constituido por um número muito elevado de pessoas em movimento desordenado, descrito pelas leis do consumismo;
- O volume próprio das pessoas é desprezível frente ao volume do CC;
- As relações interpessoais são desprezíveis, excepto nas colisões mútuas nos corredores e lojas do CC;
- As colisões são indesejadas e de duração desprezível.
(*) A pesquisa consta de 10 minutos de observação directa e objectiva de várias amostras representativas da população portuguesa num centro comercial muito frequentado (não refiro o nome porque não faço publicidade gratuita!)
(DO)
quarta-feira, 2 de novembro de 2005
A vingança
De cada vez que, estando em Lisboa, vou a um centro comercial num dia de sol, lembro-me sempre da afirmação de Miguel Sousa Tavares que diz que os portugueses têm o hábito de se fechar aos fins-de-semana e aos feriados nos centros comerciais como se se quisessem vingar do bom tempo que faz lá fora.
Por que será que as pessoas gostam tanto de passar o dia num enorme espaço fechado, com um ruído insuportável e sem se poderem mexer à vontade? Será apenas pelo consumismo? Será pela segurança que esses espaços oferecem? Ou será mesmo por vingança?
Por que será que as pessoas gostam tanto de passar o dia num enorme espaço fechado, com um ruído insuportável e sem se poderem mexer à vontade? Será apenas pelo consumismo? Será pela segurança que esses espaços oferecem? Ou será mesmo por vingança?
(LFB)
sexta-feira, 28 de outubro de 2005
Opinião vs Atitude
“(...) É uma espécie de obsessão, mas intermitente, de onde deveríamos extrair, se fôssemos sensatos, a certeza de uma existência melhor e a esperança de a atingir pelo exercício quotidiano da nossa vontade. Esta acuidade do pensamento, este entusiasmo dos sentidos e do espírito, devem sempre ter aparecido ao homem como o primeiro dos bens; (...)”
(Os Paraísos Artificiais, Baudelaire, Guimarães Editores)
Sinto-me assim,
Porque me sinto, sem razão aparente ou por essa mesma razão.
Porque sinto a razão ou penso na emoção.
Porque se me sinto, não penso na razão da emoção.
Porque se penso na razão, não sinto a emoção.
Porque sinto a emoção de não pensar na razão.
Porque (não) sinto a tua mão!!
(Paixão, Luís Enes, O Germe Editor)
quinta-feira, 20 de outubro de 2005
O jornalismo primitivo
Nos Açores o jornalismo, como muitas outras coisas, é, na maior parte dos casos, fraco, e nos restantes mau. Quer se trate de radio, televisão ou jornais, a informação é transmitida, muitas vezes, de formas que roçam o absurdo, o falso e, nalguns casos, o conveniente. Basta ver os programas informativos da RTP Açores para ver como a formação jornalística - que, pelo menos, deveria ensinar as pessoas a falar e a escrever bem português - é, regra geral, inexistente. Se se quiser ver como é possível conjugar a falta de postura ética com a incapacidade de articular frases simples e de pronunciar correctamente as palavras, basta ouvir alguns momentos do incrível programa da RDP Açores intitulado Inter-ilhas. (Enquanto a RDP 1 realiza fóruns temáticos sobre os temas da actualidade, aos açoreanos, como não têm (ainda!) RDP1, resta-lhes a barbárie, disfarçada de intelectualidade intocável.) Mas a acção mais condenável - e certamente a mais frequente - traduz-se na introdução sub-reptícia de preconceitos contra as regalias e contra os direitos das pessoas. Esta é uma das formas mais usadas pelos jornalistas para dar sentença (e condenação) sobre coisas que não são do seu agrado, como se todas as pessoas fossem facilmente influenciáveis e como se o dever de um jornalista não fosse - acima de tudo - informar e, na medida do possível, de modo neutro. Veja-se o caso, menor é certo, mas sintomático, de um jornalista não identificado que ao escrever uma notícia no Diário Insular sobre a falta de estores numa sala da Escola Vitorino Nemésio, termina afirmando que muitos dos funcionários "foram de férias" porque candidatos políticos nas autárquicas, rematando que, só daquela escola, "foram muitos" os funcionários que se candidataram e "alguns" professores. É assim que se contribui para o descrédito da educação, da política e dos tão falados "direitos adquiridos."
(LFB)
domingo, 9 de outubro de 2005
A hora extra
Apesar de Miguel Sousa Tavares (MST) ser um dos 'formadores de opinião' que leio e escuto com atenção, tenho vindo a dar alguma razão àqueles críticos que dele afirmam que, por vezes, fala das coisas sem estar bem informado. O que, a ser verdade, enfraquece o seu apurado sentido de justiça e de bem público. Um exemplo: no seu artigo de sábado no jornal Público, MST a certa altura diz-se espantado com o facto de ter ouvido um professor afirmar que queria receber como hora extra uma aula de substituição que teria que dar na sua escola. Pergunta MST como é possível que um professor queira receber horas extraordinárias por aulas de substituição dadas durante o seu horário semanal de trabalho. Pois eu - apesar de ser, como professor, parte interessada na matéria - julgo que tal é correcto e penso também que se MST tivesse apurado um pouco mais aquilo que ouviu acabaria por concordar com o tal professor. Vejamos como.
Conceba-se, por hipótese, o seguinte cenário. Imagine-se que uma empresa televisiva, detentora de vários canais de TV, contratava MST para estar presente em estúdio durante o decorrer de um telejornal para comentar algumas notícias, aparecendo assim em público apenas durante esse seu tempo de comentário, mas não deixando de estar presente em estúdio durante o decorrer de todo o telejornal. Estabelecido o contrato, imagine-se agora que o mesmo canal televisivo quer exigir a MST que, enquanto não estiver a comentar no canal principal, em directo, as notícias seleccionadas, faça comentários de improviso para os canais secundários da mesma empresa, não recebendo mais por isso. Já que tem que estar em estúdio, por que não pô-lo a fazer mais uns comentários? Não terá MST o direito de ficar indignado com tal pedido? E não podendo rejeitar estas novas exigências - sob pena de perder todo o contrato - não terá MST razão em querer receber honorários extraordinários por esses novos comentários que terá que realizar durante o tempo em que não está no ar no canal principal?
Pois o mesmo se passa com os professores. Tendo um horário de 35 horas semanais e tendo sido contratado (no estatuto da carreira docente, que não se pode alterar do pé para a mão, embora alguns governantes assim o desejem e, ao que parece, apoiados por MST) que vinte e duas horas seriam para dar aulas, ficando as restantes destinadas à preparação das mesmas, não se pode vir agora dizer que, para além dessas 22 horas lectivas os professores passam a ter que ficar na escola mais 4 horas para dar, de improviso, aulas de substituição. Se não será correcto impor a MST mais uns comentários enquanto não está no ar no canal principal, também não será correcto impor aos professores mais umas aulas enquanto deveriam estar a preparar as suas aulas principais.
Conceba-se, por hipótese, o seguinte cenário. Imagine-se que uma empresa televisiva, detentora de vários canais de TV, contratava MST para estar presente em estúdio durante o decorrer de um telejornal para comentar algumas notícias, aparecendo assim em público apenas durante esse seu tempo de comentário, mas não deixando de estar presente em estúdio durante o decorrer de todo o telejornal. Estabelecido o contrato, imagine-se agora que o mesmo canal televisivo quer exigir a MST que, enquanto não estiver a comentar no canal principal, em directo, as notícias seleccionadas, faça comentários de improviso para os canais secundários da mesma empresa, não recebendo mais por isso. Já que tem que estar em estúdio, por que não pô-lo a fazer mais uns comentários? Não terá MST o direito de ficar indignado com tal pedido? E não podendo rejeitar estas novas exigências - sob pena de perder todo o contrato - não terá MST razão em querer receber honorários extraordinários por esses novos comentários que terá que realizar durante o tempo em que não está no ar no canal principal?
Pois o mesmo se passa com os professores. Tendo um horário de 35 horas semanais e tendo sido contratado (no estatuto da carreira docente, que não se pode alterar do pé para a mão, embora alguns governantes assim o desejem e, ao que parece, apoiados por MST) que vinte e duas horas seriam para dar aulas, ficando as restantes destinadas à preparação das mesmas, não se pode vir agora dizer que, para além dessas 22 horas lectivas os professores passam a ter que ficar na escola mais 4 horas para dar, de improviso, aulas de substituição. Se não será correcto impor a MST mais uns comentários enquanto não está no ar no canal principal, também não será correcto impor aos professores mais umas aulas enquanto deveriam estar a preparar as suas aulas principais.
(LFB)
quinta-feira, 22 de setembro de 2005
Mangia Fagioli, de Annibale Carracci
terça-feira, 20 de setembro de 2005
Descanse em paz, senhor Wiensenthal.
Simon Wiensenthal, um judeu sobrevivente dos campos nazis, faleceu hoje, aos 95 anos. Dedicou todo o seu tempo a perseguir os responsáveis pelo holocausto e a entregá-los à justiça. É autor de vários livros importantes, destaque-se The Sunflower: On the Possibilities and Limits of Forgiveness ("O Girassol: acerca da possibilidade e dos limites do perdão"), onde personagens importantes como Primo Levi, Dalai Lama, Eugene Fisher e muitos outros, discutem a questão de Wiensenthal de saber até que ponto seremos capazes de perdoar os maiores crimes realizados contra nós.
domingo, 18 de setembro de 2005
Como 'partir do princípio'
Jornalista:
- Como é que liga homossexualidade e pedofilia?
Manifestante / Apoiante do PNR (Partido Nacional Renovador):
- Então, parte-se do princípio que estão ligadas, não é?
- Como é que liga homossexualidade e pedofilia?
Manifestante / Apoiante do PNR (Partido Nacional Renovador):
- Então, parte-se do princípio que estão ligadas, não é?
(D.O.)
sexta-feira, 16 de setembro de 2005
terça-feira, 13 de setembro de 2005
A Metafísica do tempo
Desde Einstein que não se via tamanha revolução na noção de tempo. Só a Secretaria Regional da Educação (SRE) conseguiu uma revolução comparável àquela que introduziu a relatividade temporal.
Agora nas escolas em vez de tempos lectivos há segmentos. Uma herança de anos anteriores, onde a SRE decidiu iniciar a mudança de tempo, passando aquilo que antes era uma hora lectiva (uma aula de cinquenta minutos, mais dez minutos de intervalo) a ser igual a blocos de 45 minutos. Este ano, deu o legislador conta de que uma aula de 45 minutos não é equivalente a uma hora lectiva e que os professores afinal ainda trabalhavam menos do que antes da referida mudança. Como forma de equilibrar aquilo que ela própria havia desiquilibrado, a SRE faz saber que quem tem um horário de vinte horas lectivas semanais, deverá ter 26 segmentos de quarenta e cinco minutos. Mas não é tudo. Deverá também ter, no horário, mais seis horas de sessenta minutos!
Já se houvem os professores: "- agora tenho que dar um segmento de quarenta e cinco, a seguir passo (e não "dou", pois aqui já não se "dá", mas "passa-se" a hora) duas horas de sessenta minutos, para depois dar mais dois segmentos." Fantástico.
Resta saber como ficará - com tanta viravolta no tempo - garantido o direito a quinze minutos para ir à casa de banho que qualquer trabalhador deve ter. Será de incluir no horário? Será que haverá horas marcadas para que cada um se possa aliviar? E como evitar atropelos e filas para ir ao WC?
Agora nas escolas em vez de tempos lectivos há segmentos. Uma herança de anos anteriores, onde a SRE decidiu iniciar a mudança de tempo, passando aquilo que antes era uma hora lectiva (uma aula de cinquenta minutos, mais dez minutos de intervalo) a ser igual a blocos de 45 minutos. Este ano, deu o legislador conta de que uma aula de 45 minutos não é equivalente a uma hora lectiva e que os professores afinal ainda trabalhavam menos do que antes da referida mudança. Como forma de equilibrar aquilo que ela própria havia desiquilibrado, a SRE faz saber que quem tem um horário de vinte horas lectivas semanais, deverá ter 26 segmentos de quarenta e cinco minutos. Mas não é tudo. Deverá também ter, no horário, mais seis horas de sessenta minutos!
Já se houvem os professores: "- agora tenho que dar um segmento de quarenta e cinco, a seguir passo (e não "dou", pois aqui já não se "dá", mas "passa-se" a hora) duas horas de sessenta minutos, para depois dar mais dois segmentos." Fantástico.
Resta saber como ficará - com tanta viravolta no tempo - garantido o direito a quinze minutos para ir à casa de banho que qualquer trabalhador deve ter. Será de incluir no horário? Será que haverá horas marcadas para que cada um se possa aliviar? E como evitar atropelos e filas para ir ao WC?
(LFB)
domingo, 11 de setembro de 2005
NINE ELEVEN
Esperava eu algum tempo dedicado e alguma reflexão, por parte das TVs portuguesas, sobre o 9/11. Com excepção feita à SIC Notícias (que passou um documentário), os outros canais nacionais não deram nenhum destaque à desgraça que há quatro anos se abateu sobre o mundo; não apenas sobre a América, é bom que se recorde. Seria desejável ver alguns dos muitos filmes e documentários que desde então se realizaram e assistir a alguma séria reflexão sobre o terrorismo, mas não. Continuamos entregues à intriga futebolística e ao anti-americanismo primitivo.
(LFB)
sexta-feira, 9 de setembro de 2005
Melhorar o ensino na Região - Será?!
Muito se tem feito para melhorar os resultados dos alunos nos Açores.(Note-se: resultados difernte de ensino). Basta notar a realização de Provas de Aferição nas escolas do ensino básico, ao invés dos exames nacionais. Porquê? Para atender às caracteristicas especificas dos alunos, personalizando os testes, logo, promovendo uma melhor compreensão dos mesmos.
Um exemplo dessa preocupação está bem patente num problema de probabilidades da prova de matemática do 9ºano cujos elementos em questão são as ilhas dos Açores. Ora, isto realmente torna o problema mais acessível... É a qualidade dos elementos que simplifica um raciocínio meramente quantitativo - conclusão!
Pergunto: quando se deixará de pensar em "proteger os alunos" - isto é, "proteger as estatísticas "- e se passará a pensar mais em estratégias para melhorar a qualidade de ensino nas escolas?
Um exemplo dessa preocupação está bem patente num problema de probabilidades da prova de matemática do 9ºano cujos elementos em questão são as ilhas dos Açores. Ora, isto realmente torna o problema mais acessível... É a qualidade dos elementos que simplifica um raciocínio meramente quantitativo - conclusão!
Pergunto: quando se deixará de pensar em "proteger os alunos" - isto é, "proteger as estatísticas "- e se passará a pensar mais em estratégias para melhorar a qualidade de ensino nas escolas?
(D.O.)
quinta-feira, 8 de setembro de 2005
O que eu QUERO explicar!
Foi hoje proferida a frase - aliás, com certa indignação! - que caracteriza mais que perfeitamente os - geralmente - tão credíveis debates entre comentadores políticos em Portugal. Finalmente, um comentador (que, por mero acaso, é membro destacado do actual governo) veio revelar ao atento público nacional a fórmula mágica que condensa a sua participação no programa semanal do canal Sic Notícias, Quadratura do Circulo!
Perante a questão da eficiência das medidas tomadas pelo governo no combate aos incêndios deste verão, José Pacheco Pereira interpela Jorge Coelho acerca do tardio pedido de meios à União Europeia, apenas realizado aquando do regresso de férias do Primeiro Ministro, numa altura em que já há muito se sabiam insuficientes os meios nacionais utilizados nesse combate. Passo entao a citar:
J. Pacheco Pereira - Explique-me! Explique-me!
Ao que responde o senhor Jorge Coelho:
- Eu vou explicar o que QUERO explicar!
Ora aí está: 'Não vou simplesmente responder à questão!'
Temos pois um programa onde um membro do governo se disponibiliza amavel e implacavelmente a corroborar as políticas do governo, passando - frequentemente - ao lado de questões pertinentes como é o caso!
Onde está a verdadeira discussão, essencial em democracia? Será possivel que seja convidado um governante a criticar de uma forma minimamente distanciada e objectiva as políticas que ele próprio propõe?
Qualquer dia temos os telejornais apinhados de tristes imagens de comentadores políticos no desemprego por lhes teres sido roubadas as cadeiras por governantes!
Um sistema viciado onde governantes e opinion makers coincidem não é um sistema democrático: X propõe a politica Y, e é X a corroborar essa mesma politica, apresentando-se magicamente como um elemento neutral em relação à mesma. Das nove às cinco: governo. Das dez às onze: comento. E eis que tenho a opinião publica sob controle.
Mas nem tudo está perdido: ao menos admito que só explico o que QUERO; e depois não me venham dizer que minto aos portugueses!
Perante a questão da eficiência das medidas tomadas pelo governo no combate aos incêndios deste verão, José Pacheco Pereira interpela Jorge Coelho acerca do tardio pedido de meios à União Europeia, apenas realizado aquando do regresso de férias do Primeiro Ministro, numa altura em que já há muito se sabiam insuficientes os meios nacionais utilizados nesse combate. Passo entao a citar:
J. Pacheco Pereira - Explique-me! Explique-me!
Ao que responde o senhor Jorge Coelho:
- Eu vou explicar o que QUERO explicar!
Ora aí está: 'Não vou simplesmente responder à questão!'
Temos pois um programa onde um membro do governo se disponibiliza amavel e implacavelmente a corroborar as políticas do governo, passando - frequentemente - ao lado de questões pertinentes como é o caso!
Onde está a verdadeira discussão, essencial em democracia? Será possivel que seja convidado um governante a criticar de uma forma minimamente distanciada e objectiva as políticas que ele próprio propõe?
Qualquer dia temos os telejornais apinhados de tristes imagens de comentadores políticos no desemprego por lhes teres sido roubadas as cadeiras por governantes!
Um sistema viciado onde governantes e opinion makers coincidem não é um sistema democrático: X propõe a politica Y, e é X a corroborar essa mesma politica, apresentando-se magicamente como um elemento neutral em relação à mesma. Das nove às cinco: governo. Das dez às onze: comento. E eis que tenho a opinião publica sob controle.
Mas nem tudo está perdido: ao menos admito que só explico o que QUERO; e depois não me venham dizer que minto aos portugueses!
(D.O.)
segunda-feira, 5 de setembro de 2005
toca a activar
Há algumas semanas atrás o Presidente da República Jorge Sampaio, acabado de chegar da Finlândia, gritava nas Televisões que nesse país exemplar os professores passavam muitas mais horas nas escolas do que os professores portugueses. E que era preciso um esforço de todos. Os mais atentos terão visto neste grito uma pré-aviso de que também nós em Portugal iríamos, dentro em breve, passar mais tempo nas escolas. O presidente só se esqueceu de comparar a qualidade das instalações, o nível cultural dos alunos e dos professores e o grau de satisfação que obtém com aquilo que fazem, o salário, o que uns e outros fazem realmente nas escolas no tempo que lá passam e, sobretudo, esqueceu-se de explicar em que medida é que passar mais tempo nas nossas escolas significa melhor educação.
A Secretaria Regional da Educação (dando passos à frente do Ministério da Educação, como tem vindo a ser seu hábito; veja-se o caso das novas regras ao concursos de professores que Sócrates quer introduzir no próximo ano no continente e que por aqui já não são novas) introduz novidades - num decreto aprovado a 11 de Agosto! - nos horários dos professores obrigando-os agora a ficar 26 horas na escola quando antes apenas teriam de ficar, no máximo, 22 horas (poderiam ficar muito menos horas, dependendo das reduções por antiguidade). Agora todos passam a ficar na escola 26 horas, ou a dar aulas, ou em actividades para-lectivas (uma maneira politicamente correcta de dizer "a dar aulas"), ou em actividades técnicas, quer dizer reuniões, preparação de materiais didácticos, etc. (coisas que já se faziam antes, pelo que aqui não há grande novidade, para além de serem horas que passam a estar obrigatoriamente no horário e que o professor terá de ficar na escola, pelo menos até assinar a folha de presença!).
Seria interessante que a SRE discutisse, com alguma profundidade, a justiça e a justificação destas medidas. Ou que, no mínimo, sugerisse que algumas dessas horas fossem ocupadas a estudar formas de melhorar a educação (o que, como se sabe, não se pode fazer apenas através da criação de leis, por muito boas que elas possam ser). Seria interessante porque julgamos estar num regime democrático onde os legisladores devem estar obrigados a justificar as suas medidas e a justificá-las de forma que todos os implicados nesse acto legislativo achem razoável. Legislar sem justificar é próprio de regimes autoritários. Disfarçar uma possível justificação por detrás de chavões como o muito usado: "em período de discussão" (que neste caso seria Agosto!), não é suficiente. Pois seria preciso ver como se faz esta discussão, quais os seus resultados e que reflexos (que poder?) tem ela para alterar, para melhor ou para pior, o estado de coisas onde se quer intervir. Coisas que não se têm visto em actos legislativos que passam, de facto, por algum período de discussão; período que em muitos casos é mais de informação do que de discussão.
Algumas reações a essa medida legislativa podem-se desde já registar. Há aqueles que simplesmente não conhecem as palavras 'justificação' e 'justiça', para os quais todas as medidas que aproximem as outras pessoas da sua situação são boas. Poder-se-ía classificar esta posição de "posição do escravo egoísta".
- Eu sou escravo (trabalho 40 horas, ou mais) e, portanto, se há medidas que tornam os outros escravos (que obriguem os outros a trabalhar 40 horas ou mais) elas são boas. Eles que trabalhem que eu também trabalho.
Aqui não interessa se nem todos os trabalhos são iguais, se a uns se exige trabalho físico e a outros um trabalho físico e mental; se simplesmente ser 'escravo' é errado, e logo o que se deveria fazer era combater a escravatura e não desejar que todos sejam escravos.
Como é óbvio o escravo egoísta apoia as medidas em causa; na realidade apoia todas as medidas que aproximem os outros da sua condição. Que seja pelas piores razões deveria ser motivo de preocupação. Pois aqui não há distinções: qualquer dia são os professores universitários (que no máximo dão doze horas de aulas por semana ("que pouca vergonha"); e os médicos ("que é só ganhar dinheiro"), e os técnicos ("p'rá ali fechados sem fazerem nada todo o dia"), e os políticos ("esses então!"). São estas posturas acríticas e intelectualmente doentias que costumam apoiar as leis e as pessoas que dão origem aos regimes totálitários.
Outra postura, talvez mais visível, é a que se traduz nas respostas dos sindicatos. Contra as posições em causa, gritam em voz alta que lhes estão a retirar direitos adquiridos, que não há discussão, etc. Em geral tudo coisas verdadeiras e defensáveis.
Apesar de ser contra o acto legislativo em causa, esta posição não deve causar grande arrepio no legislador. Por um lado, a actividade sindical parece gozar de um certo descrédito junto dos governantes, que encontraram formas de desacreditar a principal arma dos sindicatos, ou seja a greve. Veja-se o resultado da última greve de professores. Por outro lado, parece haver um certo compromisso silencioso entre a garantia da manutenção dos interesses instalados dos dirigentes sindicalistas - garantia dada pelo legislador que assim reconhece os sindicatos como uma espécie de seus súbditos - e o desejo, por parte dos dirigentes sindicalistas, de continuar a gozar de um estatuto diferente. Para além disso, parece haver toda uma nova concepção do que é ser cidadão e do que é ser funcionário público que não se adequa com as regras sindicalistas definidas aquando da derrota do estado fascísta. Talvez tenhamos que encontrar novas formas de manifestar os nossos interesses e de defender os nossos direitos, formas que têm que ir além da ineficaz adesão, ou não, a uma greve. Por outras palavras, o poder aprendeu a domesticar os sindicatos, e estes deixaram de ser eficazes no cumprimento do seu papel.
Uma outra reacção - alguns quererão chamar-lhe não reacção - é de longe a mais numerosa e cujas consequências são difíceis de vislumbrar uma vez que a sua principal arma é o recurso à aceitação silênciosa. Aqui só podemos supor.
Em parte esta reacção é a reacção normal. Há novas regras, nós só temos é que as cumprir. de que outra forma poderia ser? Podemos não concordar (nunca concordamos com mais trabalho, mas talvez pudéssemos concordar com trabalhar mais a sério), mas não podemos fazer nada. Este "não fazer nada" é que parece arrastar consigo alguns perigos que, a longo prazo - e por isso o legislador também não deve ver aqui grande perigo, uma vez que esse não é o seu horizonte - poderão ser fatais. O perigo está no facto de as coisas, em vez de melhorarem, piorarem. E continuarem a piorar, até que os professores passem a entrar nas escolas às sete da manhã, passem a ser guardas dos alunos nos refeitórios e a saír às duas da tarde e ir a correr para o seu segundo emprego, como acontece nos EUA (situação a que o Presidente também poderia ter recorrido na sua comparação e onde os resultados também estão à vista).
A reacção segue-se quase como uma consequência lógica de um acto injustificado, porque sem apoio dos implicados nele. Outra forma de dizer o mesmo seria: "aceitamos, mas não melhoramos, pioramos". Não vamos fazer por trabalhar melhor com os alunos, não vamos tentar dar melhores aulas, não vamos "construir uma escola melhor" (frase bonita! que muitas escolas exibem), não vamos esforçar-nos por saber mais, por saber distinguir o verdadeiro do falso, o justo do injusto, o correcto do incorrecto. Mas vamos ficar na Escola o tempo que nos exigirem.
Esta postura parece-me ter tanto de realista quanto de assustador. E de outra forma não poderia ser. Se não nos revemos minimamente naquilo que nos pedem como podemos tentar ser melhores. Mas em educação é disso que se trata: sermos melhores.
E sermos melhores nunca foi fácil e exige tempo, dedicação e dinheiro. E, mesmo assim, é sem garantias.
Vislumbrar alguma melhoria a longo prazo passaria por alterar a formação inicial de professores. Fazer com os cursos de professores algo semelhante aos cursos de Medicina. Poucas vagas e médias altas. Não queremos todos, queremos os melhores. Passaria por exigir qualidade nas Universidades (será preciso obrigar os académicos a passar mais tempo no local de trabalho?) Como é possível dizer que os professores são maus, produzem pouco, e não discutir quem os formou e como os formou? Como é possível não ter em conta que foi a SRE, através de mais uma das suas inovações nos concursos, que criou um decreto (altamente injusto e certamente inconstitucional) que protege os professores formados na Universidade dos Açores dando-lhes prioridade no concurso e preterindo aqueles que vêm de outras Universidades. Na prática significa que um aluno com média de dezasseis formado em Coimbra fica atrás de um aluno com média de dez formado nos Açores. Na prática significa que já não vêm professores de Coimbra para as escolas açoreanas. Mesmo que a Universidade dos Açores fosse a melhor, e não há nada que o prove, antes pelo contrário, a medida continuaria a ser injusta. E como esquecer a famosa situação da disciplina de DPS ("Desenvolvimento Pessoal e Social", o que será?), para a qual a Universidade dos Açores abriu e fechou (à pressa, a licenciatura concluiu-se, sem grande alarido, em dois anos!, mais rápido do que nas melhores Universidades da Europa, onde as licenciaturas são de três anos) um curso de professores do qual saíu uma única leva de licenciados. Inexplicável é o facto de não haver um único professor de DPS nas escolas açorianas.
Como podemos acreditar que o objectivo é realmente melhorar a qualidade da educação nos Açores?
A Secretaria Regional da Educação (dando passos à frente do Ministério da Educação, como tem vindo a ser seu hábito; veja-se o caso das novas regras ao concursos de professores que Sócrates quer introduzir no próximo ano no continente e que por aqui já não são novas) introduz novidades - num decreto aprovado a 11 de Agosto! - nos horários dos professores obrigando-os agora a ficar 26 horas na escola quando antes apenas teriam de ficar, no máximo, 22 horas (poderiam ficar muito menos horas, dependendo das reduções por antiguidade). Agora todos passam a ficar na escola 26 horas, ou a dar aulas, ou em actividades para-lectivas (uma maneira politicamente correcta de dizer "a dar aulas"), ou em actividades técnicas, quer dizer reuniões, preparação de materiais didácticos, etc. (coisas que já se faziam antes, pelo que aqui não há grande novidade, para além de serem horas que passam a estar obrigatoriamente no horário e que o professor terá de ficar na escola, pelo menos até assinar a folha de presença!).
Seria interessante que a SRE discutisse, com alguma profundidade, a justiça e a justificação destas medidas. Ou que, no mínimo, sugerisse que algumas dessas horas fossem ocupadas a estudar formas de melhorar a educação (o que, como se sabe, não se pode fazer apenas através da criação de leis, por muito boas que elas possam ser). Seria interessante porque julgamos estar num regime democrático onde os legisladores devem estar obrigados a justificar as suas medidas e a justificá-las de forma que todos os implicados nesse acto legislativo achem razoável. Legislar sem justificar é próprio de regimes autoritários. Disfarçar uma possível justificação por detrás de chavões como o muito usado: "em período de discussão" (que neste caso seria Agosto!), não é suficiente. Pois seria preciso ver como se faz esta discussão, quais os seus resultados e que reflexos (que poder?) tem ela para alterar, para melhor ou para pior, o estado de coisas onde se quer intervir. Coisas que não se têm visto em actos legislativos que passam, de facto, por algum período de discussão; período que em muitos casos é mais de informação do que de discussão.
Algumas reações a essa medida legislativa podem-se desde já registar. Há aqueles que simplesmente não conhecem as palavras 'justificação' e 'justiça', para os quais todas as medidas que aproximem as outras pessoas da sua situação são boas. Poder-se-ía classificar esta posição de "posição do escravo egoísta".
- Eu sou escravo (trabalho 40 horas, ou mais) e, portanto, se há medidas que tornam os outros escravos (que obriguem os outros a trabalhar 40 horas ou mais) elas são boas. Eles que trabalhem que eu também trabalho.
Aqui não interessa se nem todos os trabalhos são iguais, se a uns se exige trabalho físico e a outros um trabalho físico e mental; se simplesmente ser 'escravo' é errado, e logo o que se deveria fazer era combater a escravatura e não desejar que todos sejam escravos.
Como é óbvio o escravo egoísta apoia as medidas em causa; na realidade apoia todas as medidas que aproximem os outros da sua condição. Que seja pelas piores razões deveria ser motivo de preocupação. Pois aqui não há distinções: qualquer dia são os professores universitários (que no máximo dão doze horas de aulas por semana ("que pouca vergonha"); e os médicos ("que é só ganhar dinheiro"), e os técnicos ("p'rá ali fechados sem fazerem nada todo o dia"), e os políticos ("esses então!"). São estas posturas acríticas e intelectualmente doentias que costumam apoiar as leis e as pessoas que dão origem aos regimes totálitários.
Outra postura, talvez mais visível, é a que se traduz nas respostas dos sindicatos. Contra as posições em causa, gritam em voz alta que lhes estão a retirar direitos adquiridos, que não há discussão, etc. Em geral tudo coisas verdadeiras e defensáveis.
Apesar de ser contra o acto legislativo em causa, esta posição não deve causar grande arrepio no legislador. Por um lado, a actividade sindical parece gozar de um certo descrédito junto dos governantes, que encontraram formas de desacreditar a principal arma dos sindicatos, ou seja a greve. Veja-se o resultado da última greve de professores. Por outro lado, parece haver um certo compromisso silencioso entre a garantia da manutenção dos interesses instalados dos dirigentes sindicalistas - garantia dada pelo legislador que assim reconhece os sindicatos como uma espécie de seus súbditos - e o desejo, por parte dos dirigentes sindicalistas, de continuar a gozar de um estatuto diferente. Para além disso, parece haver toda uma nova concepção do que é ser cidadão e do que é ser funcionário público que não se adequa com as regras sindicalistas definidas aquando da derrota do estado fascísta. Talvez tenhamos que encontrar novas formas de manifestar os nossos interesses e de defender os nossos direitos, formas que têm que ir além da ineficaz adesão, ou não, a uma greve. Por outras palavras, o poder aprendeu a domesticar os sindicatos, e estes deixaram de ser eficazes no cumprimento do seu papel.
Uma outra reacção - alguns quererão chamar-lhe não reacção - é de longe a mais numerosa e cujas consequências são difíceis de vislumbrar uma vez que a sua principal arma é o recurso à aceitação silênciosa. Aqui só podemos supor.
Em parte esta reacção é a reacção normal. Há novas regras, nós só temos é que as cumprir. de que outra forma poderia ser? Podemos não concordar (nunca concordamos com mais trabalho, mas talvez pudéssemos concordar com trabalhar mais a sério), mas não podemos fazer nada. Este "não fazer nada" é que parece arrastar consigo alguns perigos que, a longo prazo - e por isso o legislador também não deve ver aqui grande perigo, uma vez que esse não é o seu horizonte - poderão ser fatais. O perigo está no facto de as coisas, em vez de melhorarem, piorarem. E continuarem a piorar, até que os professores passem a entrar nas escolas às sete da manhã, passem a ser guardas dos alunos nos refeitórios e a saír às duas da tarde e ir a correr para o seu segundo emprego, como acontece nos EUA (situação a que o Presidente também poderia ter recorrido na sua comparação e onde os resultados também estão à vista).
A reacção segue-se quase como uma consequência lógica de um acto injustificado, porque sem apoio dos implicados nele. Outra forma de dizer o mesmo seria: "aceitamos, mas não melhoramos, pioramos". Não vamos fazer por trabalhar melhor com os alunos, não vamos tentar dar melhores aulas, não vamos "construir uma escola melhor" (frase bonita! que muitas escolas exibem), não vamos esforçar-nos por saber mais, por saber distinguir o verdadeiro do falso, o justo do injusto, o correcto do incorrecto. Mas vamos ficar na Escola o tempo que nos exigirem.
Esta postura parece-me ter tanto de realista quanto de assustador. E de outra forma não poderia ser. Se não nos revemos minimamente naquilo que nos pedem como podemos tentar ser melhores. Mas em educação é disso que se trata: sermos melhores.
E sermos melhores nunca foi fácil e exige tempo, dedicação e dinheiro. E, mesmo assim, é sem garantias.
Vislumbrar alguma melhoria a longo prazo passaria por alterar a formação inicial de professores. Fazer com os cursos de professores algo semelhante aos cursos de Medicina. Poucas vagas e médias altas. Não queremos todos, queremos os melhores. Passaria por exigir qualidade nas Universidades (será preciso obrigar os académicos a passar mais tempo no local de trabalho?) Como é possível dizer que os professores são maus, produzem pouco, e não discutir quem os formou e como os formou? Como é possível não ter em conta que foi a SRE, através de mais uma das suas inovações nos concursos, que criou um decreto (altamente injusto e certamente inconstitucional) que protege os professores formados na Universidade dos Açores dando-lhes prioridade no concurso e preterindo aqueles que vêm de outras Universidades. Na prática significa que um aluno com média de dezasseis formado em Coimbra fica atrás de um aluno com média de dez formado nos Açores. Na prática significa que já não vêm professores de Coimbra para as escolas açoreanas. Mesmo que a Universidade dos Açores fosse a melhor, e não há nada que o prove, antes pelo contrário, a medida continuaria a ser injusta. E como esquecer a famosa situação da disciplina de DPS ("Desenvolvimento Pessoal e Social", o que será?), para a qual a Universidade dos Açores abriu e fechou (à pressa, a licenciatura concluiu-se, sem grande alarido, em dois anos!, mais rápido do que nas melhores Universidades da Europa, onde as licenciaturas são de três anos) um curso de professores do qual saíu uma única leva de licenciados. Inexplicável é o facto de não haver um único professor de DPS nas escolas açorianas.
Como podemos acreditar que o objectivo é realmente melhorar a qualidade da educação nos Açores?
(LFB)
segunda-feira, 25 de julho de 2005
Estar por aí
A propósito de a "arte" de andar "prá aí", vale a pena ler este best seller - de forma algo inesperada , pois quem anda 'prá í' raramente quer ler livros de filosofia - de José Gil, que, a páginas tantas, tece considerações acerca de uma resposta dos portugueses que nada diz, mas que muito os define:
- 'vou estar por aí'.
- 'vou estar por aí'.
(LFB)
sexta-feira, 22 de julho de 2005
A "arte" de andar "prá aí"
Nada é comparável à arte de andar prá aí. Veja-se:
- é a arte que mais se pratica em Portugal - sem dúvida - e no mundo - muito provavelmente;
- portanto, todos são os maiores especialistas nesse campo;
- tem como base duas capacidades: locomoção, fala;
- fala-se: não se diz nada. Anda-se: não se vai a sítio algum;
- quando se diz algo de jeito, não se é ouvido;
- quando se chega a um sítio realmente interessante... cansaço;
- é das poucas artes cujo produto é exactamente o mesmo, qualquer que seja o artista;
- tem uma finalidade nobre, quem sabe a mais nobre de todas: anda-se prá aí com o único propósito de... andar prá aí;
- e finalmente, last but not least, andar prá aí tem como única consequência para o artista (e para os acompanhantes, também artistas): atinge-se com uma velocidade estonteante o...
NULO MENTAL ABSOLUTO !!!
- é a arte que mais se pratica em Portugal - sem dúvida - e no mundo - muito provavelmente;
- portanto, todos são os maiores especialistas nesse campo;
- tem como base duas capacidades: locomoção, fala;
- fala-se: não se diz nada. Anda-se: não se vai a sítio algum;
- quando se diz algo de jeito, não se é ouvido;
- quando se chega a um sítio realmente interessante... cansaço;
- é das poucas artes cujo produto é exactamente o mesmo, qualquer que seja o artista;
- tem uma finalidade nobre, quem sabe a mais nobre de todas: anda-se prá aí com o único propósito de... andar prá aí;
- e finalmente, last but not least, andar prá aí tem como única consequência para o artista (e para os acompanhantes, também artistas): atinge-se com uma velocidade estonteante o...
NULO MENTAL ABSOLUTO !!!
(D. O.)
quarta-feira, 8 de junho de 2005
A GREVE
Apesar de o tratado (ou será constituição?) constitucional europeu ter sido declarado morto no programa "pós e contra"- um programa um tanto para o 'morto-vivo' uma vez que os que lá estiveram estavam quase todos de acordo (faltou um fervoroso defensor do sim, por outras palavras um defensor das políticas à Chirac) - eis que surge um sítio a favor do sim.
Enquanto professor, preocupa-me as alterações que governo se prepara para fazer às condições da carreira docente. Retirada de previlégios, de 'progressão automática' - nao sei bem o que é, eu para mudar de escalão tive de obter créditos de formação, tive de escrever um 'relatório crítico' que teve que ser avaliado e classificado, e de cuja classificação a progressão está dependente - retirada de possibilidade de reforma aos 60 anos de idade (é necessário discutir os moldes em que um professor de 60 anos trabalha. As suas condições de trabalho não podem ser iguais às de um professor de 35 anos de idade); retirada da reforma por inteiro, etc. Por outras palavras, ser docente, vai definitivamente (pois a queda já começou à muito) tornar-se uma coisa indesejável.
De vez enquando aparece um a exigir aos professores que 'aumentem a produtividade'. Quando se trata de ensinar, de cultivar a busca apaixonada da sabedoria (prática ou teórica), quando se trata de aprender a ser cidadão crítico e atento - não é isto a educação? - que significado pode ter o 'aumento de produtividade? Receio que signifique mais horas de trabalho (logo menos preparação, menos estudo, menos saber), mais alunos por turma, mais massificação, mais ensino por memorização, etc. Quando se mistura economia e educação o resultado só pode ser desastroso. A educação não pode ser vista como um meio para nada, ela é um fim em si.
É também preciso dizer que os professores têm grandes culpas desta queda no fosso; assistiram àquele processo de degradação impávidos e serenos, como se não fosse nada com eles. Como se, estando o seu lugarinho assegurado e as suas aulinhas mais ou menos preparadinhas, não fosse preciso fazer mais nada. Eu já cá estou e eles não me tocam - diriam alguns...
Os sindicatos convocaram uma greve de quatro dias que coincide também com alguns exames, e a meu ver não fizeram mais do que o seu papel - defender os interesses dos professores. O que nem sempre é o caso: sabe-se que muitas vezes o sindicalismo é usado como forma de obter vários empregos o que é indesejável e condenável. O sindicato passa a ser um lugar para alguns dos professores que lá estão defenderem os seus interesses. Seria bom que a Ética também chegasse aos sindicatos.
Portanto, concordo com a greve. Se existem sindicatos, se existe a possibilidade de greve, se governo nos ataca descaradamente, a defesa é mais do que legítima. Sempre achei que as formas de luta dos sindicatos eram débeis e demasiado 'light'. Defendo, quando da parte do governo não há vontade de diálogo, lutas a sério (pelo menos à altura dos ataques); greve coincidentes com os exames, greves de quinze dias, greves por tempo indeterminado, etc. Dizem alguns que a magra carteira dos professores não aguenta tantos dias sem salário. Mas isto não é problema, os sindicatos podem muito bem arranjar formas de compensar os professores, distribuído senhas de alimentação para vários dias, pagando algumas despesas, ajudando os mais necessitados! No fundo os sindicatos também são alimentados pelos professores.
Esta é a visão de alguém com interesses directos na matéria. É claro que uma avaliação objectiva requer dar atenção às razões das outras partes interessadas no caso. Discutir objectivamente com os outros, mudar algumas das nossas posições, se nos mostrarem que elas estão erradas, conceder e negociar alguns pontos...
É preciso ver o lado dos estudantes que serão prejudicados pela greve (mas greve significa isso mesmo, causar prejuízo como forma de pressão). A questão é saber se o prejuízo é, ou não, justificado. O que pensarão eles disto tudo? Os pais já estão a dizer que discordam da greve e que os seus filhos estão a ser usados como 'arma de luta'. Prejudicar será o mesmo que usar? É preciso ver o lado dos outros trabalhadores que estão pior. E também necessário ver o lado dos que estão muito melhor. É preciso olhar para o país que ao fim de sucessivos desgovernos, está na penúria...
O que resultará da reunião que está prestes a acontecer entre governo e sindicatos?
Enquanto professor, preocupa-me as alterações que governo se prepara para fazer às condições da carreira docente. Retirada de previlégios, de 'progressão automática' - nao sei bem o que é, eu para mudar de escalão tive de obter créditos de formação, tive de escrever um 'relatório crítico' que teve que ser avaliado e classificado, e de cuja classificação a progressão está dependente - retirada de possibilidade de reforma aos 60 anos de idade (é necessário discutir os moldes em que um professor de 60 anos trabalha. As suas condições de trabalho não podem ser iguais às de um professor de 35 anos de idade); retirada da reforma por inteiro, etc. Por outras palavras, ser docente, vai definitivamente (pois a queda já começou à muito) tornar-se uma coisa indesejável.
De vez enquando aparece um a exigir aos professores que 'aumentem a produtividade'. Quando se trata de ensinar, de cultivar a busca apaixonada da sabedoria (prática ou teórica), quando se trata de aprender a ser cidadão crítico e atento - não é isto a educação? - que significado pode ter o 'aumento de produtividade? Receio que signifique mais horas de trabalho (logo menos preparação, menos estudo, menos saber), mais alunos por turma, mais massificação, mais ensino por memorização, etc. Quando se mistura economia e educação o resultado só pode ser desastroso. A educação não pode ser vista como um meio para nada, ela é um fim em si.
É também preciso dizer que os professores têm grandes culpas desta queda no fosso; assistiram àquele processo de degradação impávidos e serenos, como se não fosse nada com eles. Como se, estando o seu lugarinho assegurado e as suas aulinhas mais ou menos preparadinhas, não fosse preciso fazer mais nada. Eu já cá estou e eles não me tocam - diriam alguns...
Os sindicatos convocaram uma greve de quatro dias que coincide também com alguns exames, e a meu ver não fizeram mais do que o seu papel - defender os interesses dos professores. O que nem sempre é o caso: sabe-se que muitas vezes o sindicalismo é usado como forma de obter vários empregos o que é indesejável e condenável. O sindicato passa a ser um lugar para alguns dos professores que lá estão defenderem os seus interesses. Seria bom que a Ética também chegasse aos sindicatos.
Portanto, concordo com a greve. Se existem sindicatos, se existe a possibilidade de greve, se governo nos ataca descaradamente, a defesa é mais do que legítima. Sempre achei que as formas de luta dos sindicatos eram débeis e demasiado 'light'. Defendo, quando da parte do governo não há vontade de diálogo, lutas a sério (pelo menos à altura dos ataques); greve coincidentes com os exames, greves de quinze dias, greves por tempo indeterminado, etc. Dizem alguns que a magra carteira dos professores não aguenta tantos dias sem salário. Mas isto não é problema, os sindicatos podem muito bem arranjar formas de compensar os professores, distribuído senhas de alimentação para vários dias, pagando algumas despesas, ajudando os mais necessitados! No fundo os sindicatos também são alimentados pelos professores.
Esta é a visão de alguém com interesses directos na matéria. É claro que uma avaliação objectiva requer dar atenção às razões das outras partes interessadas no caso. Discutir objectivamente com os outros, mudar algumas das nossas posições, se nos mostrarem que elas estão erradas, conceder e negociar alguns pontos...
É preciso ver o lado dos estudantes que serão prejudicados pela greve (mas greve significa isso mesmo, causar prejuízo como forma de pressão). A questão é saber se o prejuízo é, ou não, justificado. O que pensarão eles disto tudo? Os pais já estão a dizer que discordam da greve e que os seus filhos estão a ser usados como 'arma de luta'. Prejudicar será o mesmo que usar? É preciso ver o lado dos outros trabalhadores que estão pior. E também necessário ver o lado dos que estão muito melhor. É preciso olhar para o país que ao fim de sucessivos desgovernos, está na penúria...
O que resultará da reunião que está prestes a acontecer entre governo e sindicatos?
(LFB)
sábado, 28 de maio de 2005
'6 March 1989'
No dia 6 de Março de 1989, Ayatollah Khomeini, líder espiritual iraniano, iniciou uma fatwa contra Salam Rushdie, que respondeu:
Boy, yaar, they sure called me some good names of late:
e.g. opportunist (dangerous). E.g. full-of-hate,
self-aggrandizing, Satan, self-loathing and shrill,
the type it would clean up the planet to kill.
I justjust remember my own goodname still.
Damn, brother. You saw what they did to my face?
Poked out my eyes. Knocked teeth out of place,
stuck a dog's body under, hung same from a hook,
wrote what-all on my forehead! Wrote 'bastard'! Wrote 'crook'!
I justjust recall how my face used to look.
Now, misters and sisters, they've come for my voice.
If the Cat got my tongue, look who-who would rejoice-
-muftis, politicos, 'my own people', hacks.
Still, nameless-and-faceless or not, here's my choice:
not to shut up. To sing on, in spite of attacks,
to sing (while my dreams are being murdered by facts)
praises of butterflies broken on racks.
Boy, yaar, they sure called me some good names of late:
e.g. opportunist (dangerous). E.g. full-of-hate,
self-aggrandizing, Satan, self-loathing and shrill,
the type it would clean up the planet to kill.
I justjust remember my own goodname still.
Damn, brother. You saw what they did to my face?
Poked out my eyes. Knocked teeth out of place,
stuck a dog's body under, hung same from a hook,
wrote what-all on my forehead! Wrote 'bastard'! Wrote 'crook'!
I justjust recall how my face used to look.
Now, misters and sisters, they've come for my voice.
If the Cat got my tongue, look who-who would rejoice-
-muftis, politicos, 'my own people', hacks.
Still, nameless-and-faceless or not, here's my choice:
not to shut up. To sing on, in spite of attacks,
to sing (while my dreams are being murdered by facts)
praises of butterflies broken on racks.
(D.O.)
Benfica CAMPEÃO!
Comemoremos!
Após jejum de onze anos, o nosso amado Benfica sagra-se campeão nacional da primeira, ou antes, da SUPER liga de futebol! A festa, como rastilho de pólvora, espalha-se pelo pais... e pelo mundo português; afinal - dizem - 60% dos portugueses é benfiquista - não fosse o Benfica um dos 10 clubes míticos da História do futebol (designados recentemente pela UEFA). A felicidade anda pela rua, povoando os rostos, os gestos das gentes há já uma semana e talvez assim continue, após a esperada vitória na taça!É a "dobradinha"! Que mais se pode esperar da vida: somos campeões e venceremos - provavelmente - a taça!É a vitória de um povo!Em horário nobre, na RTP1- canal de serviço público - ouvem-se eloquentes palavras como "... posso mudar de sexo, posso mudar de religião, posso mudar de mulher, mas nunca de clube!" ou ainda, "Quem é do Benfica cuida do clube como de um familiar". É sempre bom testemunhar fenómenos como este, um pais ferverosamente unido em torno de tão nobre causa, a maior das causas: o Benfica!!!
Défice? O que é isso? Para quê falar de angustias? Somos campeões? O governo que resolva! Não foi para isso que lhes demos a maioria que encarecidamente pediam, para poderem governar em paz? Constituição europeia? Que é isso comparado à nossa grande vitória? Uma coisa: não nos tirem é os subsídios... Isso é que não!
E viva o Benfica, viva Potugal!
Após jejum de onze anos, o nosso amado Benfica sagra-se campeão nacional da primeira, ou antes, da SUPER liga de futebol! A festa, como rastilho de pólvora, espalha-se pelo pais... e pelo mundo português; afinal - dizem - 60% dos portugueses é benfiquista - não fosse o Benfica um dos 10 clubes míticos da História do futebol (designados recentemente pela UEFA). A felicidade anda pela rua, povoando os rostos, os gestos das gentes há já uma semana e talvez assim continue, após a esperada vitória na taça!É a "dobradinha"! Que mais se pode esperar da vida: somos campeões e venceremos - provavelmente - a taça!É a vitória de um povo!Em horário nobre, na RTP1- canal de serviço público - ouvem-se eloquentes palavras como "... posso mudar de sexo, posso mudar de religião, posso mudar de mulher, mas nunca de clube!" ou ainda, "Quem é do Benfica cuida do clube como de um familiar". É sempre bom testemunhar fenómenos como este, um pais ferverosamente unido em torno de tão nobre causa, a maior das causas: o Benfica!!!
Défice? O que é isso? Para quê falar de angustias? Somos campeões? O governo que resolva! Não foi para isso que lhes demos a maioria que encarecidamente pediam, para poderem governar em paz? Constituição europeia? Que é isso comparado à nossa grande vitória? Uma coisa: não nos tirem é os subsídios... Isso é que não!
E viva o Benfica, viva Potugal!
(D.O.)
domingo, 22 de maio de 2005
Sim ou não?
A discussão sobre a Constituição Europeia está aí http://sitiodonao.weblog.com.pt/
O espírito democrata deliberativo - a ideia de discutir publicamente as razões e de poder alterar a posição (voto) em função dessa discussão - é colocado em causa pela rotulagem prévia do 'sim' ou do 'não'. Não posso dizer talvez? Não posso mudar de opinião? Não é para isso que servirá o debate?
(LFB)
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