"Se eu tivesse sido conselheiro de Deus no momento da criação, muitas coisas estariam mais bem ordenadas" (p.29)
(Afonso X, Rei de Castela em 1252, conhecido como O sábio, devido às suas colecções de leis e de música)
que ando a ler é o livro de Susan Neiman, O mal no Pensamento Moderno, (Gradiva, 2005. Originalmente editado em inglês com o título Evil in Modern Thought, Princeton U.P. 2002). É um livro (premiado) de filosofia académica e como tal defende um conjunto específico de teses. A saber: i) a filosofia nos séculos XVIII e XIX foi guiada pelo problema do mal; ii) o problema do mal diz respeito à inteligiblidade do mundo como um todo; iii) a distinção entre o mal natural (os desastres naturais) e o mal moral (o mal humano) é uma distinção histórica; e iv) existem dois pontos de vista sobre o problema do mal: um que defende que a moral implica tornar o mal compreensível (de Rousseau a Hannah Arendt) e outro que defende que a moralidade implica não tornar o mal compreensível (de Voltaire a Jean Améri) (p.22).
Contudo, não deixa de ser um livro que vem mesmo a calhar. Em primeiro lugar, porque é um livro sobre o mal publicado no pós 11 de Setembro; acontecimento que veio recolocar e obrigar a repensar a questão do mal radical. E depois porque o livro se baseia noutro acontecimento importante para os estudos sobre o mal, o grande terramoto de Lisboa do qual se celebra este ano os 250 anos. O livro de Neiman começa com a ideia esclarecedora de que o século XVIII usou a expressão "Lisboa", tal e qual como hoje usamos a expressão "Holocausto".
Um dos focos de interesse do livro é o da discussão, sempre incompleta, das implicações filosóficas acerca da natureza humana que o horror nazi arrastou consigo (outros livros surgirão aqui sobre este tema). Como foi o Holocausto possível? Quem foram os responsáveis? Qual a natureza da responsabilidade? Como explicar a conivência do povo alemão (e, em geral, de muitos europeus ) com o extermínio de milhões de pessoas?
Um dos focos de interesse do livro é o da discussão, sempre incompleta, das implicações filosóficas acerca da natureza humana que o horror nazi arrastou consigo (outros livros surgirão aqui sobre este tema). Como foi o Holocausto possível? Quem foram os responsáveis? Qual a natureza da responsabilidade? Como explicar a conivência do povo alemão (e, em geral, de muitos europeus ) com o extermínio de milhões de pessoas?
Se alguém quiser ler o livro, mas não quiser passsar por alguns momentos mais chatos de história da filosofia iluminista - hiperbolizados pela fraca tradução, o que é pena que ainda aconteça numa editora prestigiada com a Gradiva (não fosse a fraca tradução e a revisão bastante deficiente este livro até poderia ser escolhido para o melhor livro de filosofia traduzido em 2005. E não fosse também o facto de este ano ter sido publicado pela F.C.Gulbenkian em edição cuidada (mas, incompreensivelmente, sem o índice analítico que tanto jeito dá aos investigadores) o livro de Michael J. Sandel O Liberalismo e os Limites da Justiça (o original é de 1982) - passe imediatamente para o quarto e último capítulo onde a filosofia contemporânea entra em jogo.
(LFB)
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