Gravações do Trio Fragata no bandcamp
segunda-feira, 28 de maio de 2012
domingo, 27 de maio de 2012
Nas relações interpessoais
não há nada pior do que a resposta: "aqui não há excepções, as regras são iguais para todos". Para além de desconsiderar completamente a confiança inerente às relações pessoais, tal resposta assume que as pessoas são impotentes perante as regras, não tendo qualquer hipótese de as contestar quando são injustas, ou de não as seguir quanto tal é desnecessário; porque redundante ou porque as pessoas já se conhecem e, portanto, confiam umas nas outras. Quem responde assim esquece que as pessoas têm carácter e que há um contexto que molda as regras e as relações, e não o contrário. Em última análise, o ideal das regras absolutas revela a tentativa de impor uma altivez que, fundamentada apenas nas frias regras, mais não é do que autoritarismo injustificado. Se ainda acredita na superioridade das regras veja a conferência TED de Barry Schwartz e comece a mudar o seu ambiente de trabalho.
quarta-feira, 23 de maio de 2012
terça-feira, 22 de maio de 2012
sábado, 19 de maio de 2012
Redacção da RTP/Açores denuncia tentativas de condicionamento
"O Conselho de Redacção da RTP/Açores (TV) denunciou, neste sábado, ao Sindicato dos Jornalistas duas alegadas tentativas de condicionar o trabalho dos jornalistas da empresa, uma das quais envolve um membro do Governo dos Açores.
Este órgão representativo dos jornalistas da televisão açoriana acusou o secretário regional dos Equipamentos, José Contente, de "procurar condicionar" e de "interferir abusivamente" no trabalho da equipa de reportagem que fez a cobertura dos estragos provocados pelo mau tempo na zona da Bretanha, em S. Miguel, a 11 de Maio.
Segundo o Conselho de Redacção, José Contente "tentou persuadir a equipa de reportagem a não enviar para Lisboa um bloco de imagens em bruto que incluíam um depoimento da presidente da Câmara de Ponta Delgada e procurou impor a sua presença em directo no 'Telejornal' da RTP/Açores, depois de gorada uma intervenção no 'Telejornal' da RTP 1, que não se realizou por Lisboa se ter desinteressado desse directo”." Daqui
É grave, mas não surpreende. Quantas vezes não terá a pressão sido eficaz?
Por sugestão do jornal das 22, da RDP Antena 1.
Este órgão representativo dos jornalistas da televisão açoriana acusou o secretário regional dos Equipamentos, José Contente, de "procurar condicionar" e de "interferir abusivamente" no trabalho da equipa de reportagem que fez a cobertura dos estragos provocados pelo mau tempo na zona da Bretanha, em S. Miguel, a 11 de Maio.
Segundo o Conselho de Redacção, José Contente "tentou persuadir a equipa de reportagem a não enviar para Lisboa um bloco de imagens em bruto que incluíam um depoimento da presidente da Câmara de Ponta Delgada e procurou impor a sua presença em directo no 'Telejornal' da RTP/Açores, depois de gorada uma intervenção no 'Telejornal' da RTP 1, que não se realizou por Lisboa se ter desinteressado desse directo”." Daqui
É grave, mas não surpreende. Quantas vezes não terá a pressão sido eficaz?
Por sugestão do jornal das 22, da RDP Antena 1.
sexta-feira, 18 de maio de 2012
Oblomovitis
"
'What, then, is life in your opinion?',
'It is --' Stolz pondered or a while, trying to find a name for this sort of life - 'it is a sort of Oblomovitis!' he said at last.
'It is --' Stolz pondered or a while, trying to find a name for this sort of life - 'it is a sort of Oblomovitis!' he said at last.
'Oblomovitis! Oblomov repeated slowly, surprised at this strange definition and scanning it syllable by syllable. 'Oblomovitis - ob-lo-mo-vi-tis!'
He gave Stolz a strange and intent look.
'And what is this ideal of life, in our opinion, then? What is not Oblomovitis? he asked timidly and without enthusiasm. 'Doesn't everybody strive to achive the very thing I dream of? Why', he added, 'isn't the whole purpose of all your rushing about, all your passions, wars, trade, and politics to attain rest - reach this ideal of a lost paradise?'
'Your utopia, too, is a typical Oblomov utopia,' replied Stolz.
'But everyone seeks peace and rest!' Oblomov defend himself."
Ivan Goncharov, Oblomov, Penguin Books, p.180.
Por sugestão da entrevista a Henrique Vila-Matas publicada no último número da revista LER.
quarta-feira, 16 de maio de 2012
segunda-feira, 14 de maio de 2012
sábado, 12 de maio de 2012
sexta-feira, 11 de maio de 2012
Diálogo sobre a ciência e os homens
Uma tradução recente (2012) de um texto antigo (1984). No entanto, tudo o que aqui se pode ler é refrescante. Tullio Regge escreve como um físico fascinante; Primo Levi - ainda que exerça sobretudo o papel de entrevistador - escreve como um químico sábio. O prefácio é do professor emérito de física J. Moreira Araújo e pode ser lido aqui.
"Levi: (...) Esperava ir muito longe, até ao ponto de possuir o Universo, entender o porquê das coisas. Agora, eu sei que não existe o porquê das coisas, pelo menos é o que julgo. (...) Tinha uma sensação curiosa: que havia um conluio contra mim, que família e escola mantinham alguma coisa escondida, e que eu procurava nos lugares que me eram reservados: por exemplo, a química ou, também, a astronomia (...)"
Regge: (...) eu também achava que havia uma conspiração, que era o que se ensinava na escola. (...) Na verdade a ciência era tão mal ensinada que desencorajava mesmo os mais interessados. (...) A escola não me deu nada. Com o velho telescópio que o meu pai comprou num mercado de rua, aprendi a reconhecer todas as constelações; observei estrelas duplas, nebulosas anulares, os planetas, as galáxias. O meu professor de Ciências Naturais não estava minimamente interessado nestes assuntos.
(43-54)
Levi: E, depois, [ na Universidade] o laboratório: todos os anos tinham o seu laboratório. Passávamos lá cinco horas por dia; era uma bela obrigação, uma experiência extraordinária. em primeiro lugar porque trabalhávamos com as mãos, literalmente, e foi a primeira vez que isso me aconteceu, sem nos importarmos se as escaldávamos ou cortávamos. Era um regresso às origens. A mão é um orgão nobre, mas a escola, toda preocupada com o cérebro tinha-a desprezado. (...) Era um trabalho de grupo, que, na escola precedente, era desconhecido (...). É uma experiência fundamental, cometer erros em grupo. Participa-se muito nas vitórias e derrotas mútuas. (...)
(49-50)
Para mim, havia uma complicação, como contei nos meus livros: as leis raciais. A libertação universitária coincidiu com o trauma de me ser dito: cuidado, tu não és como os outros, na verdade vales menos que eles; tu és avarento, tu és um estranho, tu és sujo, tu és perigoso, tu és pérfido. (...)
(50-51)
Regge: Outra qualidade rara de Wataghin era reconhecer num primeiro relance se uma pessoa era medíocre ou não.
Levi: Isso talvez não seja assim tão difícil, dados alguns parâmetros. deve pôr-se de lado sentimentos de simpatia ou antipatia. Sobretudo, simpatia. A simpatia é, muitas vezes, um meio de esconder a incompetência. A Itália está cheia de pessoas simpáticas que nada sabem dos seus ofícios. é uma operação básica ser capaz de avaliar a pessoa na sua frente, pesá-la. Suponho que, também entre os físicos, há aqueles que representam um papel.
(53)
Regge: (...) É designado por «redução dimensional», e postula a existência de uma quinta dimensão, para além das quatro do espaço-tempo. Um objecto move-se em três dimensões espaciais, mas também se deve mover na quarta, mesmo que não a consigamos ver. Esta quarta dimensão deve ter alguma coisa muito diferente das outras, já que estamos impedidos de a ver no sentido tradicional. A razão de esta percepção estar inibida é essa dimensão ser muito pequena. É o mesmo que percorrer um caminho que se fecha sobre si próprio, de modo que somos imediatamente devolvidos ao ponto de partida. Podemos comparar o espaço a um cilindro onde as dimensões normais se realizam ao longo do eixo do cilindro, enquanto a quinta dimensão completa uma volta em torno do cilindro. Uma volta incrivelmente curta, 10 -33 centímetros. (...)
(68)
Levi: Desenvolvi o hábito de escrever de forma compacta, evitando o supérfluo. Precisão e concisão, que, dizem-me, são a minha forma de escrever, surgiram-me da profissão de químico. E também o hábito da objectividade, de não me deixar enganar facilmente por aparências. (...)
Outra virtude que a profissão de químico desenvolve é a paciência, não ter pressa. Hoje, a química está completamente mudada; é química rápida. (...) Agora, acontece que, tal como nas escolas elementares decorre uma discussão sobre se as crianças devem ser ensinadas a usar uma calculadora em vez de fazerem a sua aritmética manualmente, para o químico surge a questão de avaliar se vale a pena ensinar o método de análise manual, a chamada análise sistemática, que exige muito tempo e também muito material. (...) Mas a análise manual, tal como o trabalho manual, tem um valor formativo, é demasiado semelhante às nossas origens, como mamíferos, para ser desprezada. No fim de contas, nós devemos saber usar as nossas mãos, os nossos olhos, o nosso nariz. (...)
Compreendi que hoje podemos, seguramente, viver sem um computador, mas é uma vida nas margens e condena-nos a ficar cada vez mais desligados da sociedade activa. Os Gregos diziam de uma pessoa inculta: «Ele não sabe escrever nem nadar.» Hoje, devia-se juntar: «Nem usar um computador.»"
(93-97)
(Levi & Regge, Diálogo sobre a ciência e os homens, Gradiva, 2012, tr. mui cuidada de E.L.)
O embuste legislativo (Açores e transgénicos)
A proposta de decreto legislativo regional (DLR) ontem aprovada no parlamento regional dos Açores - “declara o território da Região Autónoma dos Açores como zona livre do cultivo de organismo genética modificados” (art. 1) - é um embuste político.
Ao contrário do que se pretende fazer crer, a região não ficará livre de OGM. Primeiro porque já há nos Açores 200 hectares de milho transgénico plantado e, que eu me tenha apercebido, em nenhum lugar se diz que esse milho deve ser arrancado. Segundo, porque é o próprio diploma que permite o cultivo experimental de OGM. Se existirem “razões ponderosas e de manifesto interesse público que obriguem à produção ou introdução, para fins de investigação científica ou desenvolvimento tecnológico” (art. 5) então a autorização do cultivo é possível.
Mas quem terá tais razões a apresentar? Essas razões virão, mais cedo do que tarde, de pretensos cientistas que, disfarçando o financiamento de projectos de engenharia genética sob o manto do interesse público, vêem assim as suas intenções salvaguardadas na lei.
Mas não só a cientistas destemidos agrada o DLR aprovado. Sobretudo em vésperas de eleições é preciso agradar a todos ou, pelo menos, à maioria. E desta não poderiam ficar de fora os agricultores que, num dos seus pareceres (o dos jovens agricultores micaelenses), consideram as sementes geneticamente modificadas “mais uma ferramenta a usar na agricultura”. Movidos pela eterna promessa de produzir mais e mais barato, os agricultores não querem perceber que são os mesmos que lhes venderam a “boa ferramenta” dos pesticidas que agora lhes prometem a solução para o mal de pesticidas. Da mesma maneira que os pesticidas não resolveram o problema das pragas também os transgénicos não resolverão o problema dos pesticidas. Sobre isto os agricultores teriam muito a ganhar se ouvissem, não os publicitários da Monsanto, mas os seus pares agricultores; precisamente aqueles que já passaram pela experiência de comprar sementes transgénicas.
Por conseguinte, tudo ficará como estava. Quando olharmos para o mapa europeu das zonas agrícolas livres de transgénicos continuaremos, infrutiferamente, à procura do arquipélago dos Açores.
Ao contrário do que se pretende fazer crer, a região não ficará livre de OGM. Primeiro porque já há nos Açores 200 hectares de milho transgénico plantado e, que eu me tenha apercebido, em nenhum lugar se diz que esse milho deve ser arrancado. Segundo, porque é o próprio diploma que permite o cultivo experimental de OGM. Se existirem “razões ponderosas e de manifesto interesse público que obriguem à produção ou introdução, para fins de investigação científica ou desenvolvimento tecnológico” (art. 5) então a autorização do cultivo é possível.
Mas quem terá tais razões a apresentar? Essas razões virão, mais cedo do que tarde, de pretensos cientistas que, disfarçando o financiamento de projectos de engenharia genética sob o manto do interesse público, vêem assim as suas intenções salvaguardadas na lei.
Mas não só a cientistas destemidos agrada o DLR aprovado. Sobretudo em vésperas de eleições é preciso agradar a todos ou, pelo menos, à maioria. E desta não poderiam ficar de fora os agricultores que, num dos seus pareceres (o dos jovens agricultores micaelenses), consideram as sementes geneticamente modificadas “mais uma ferramenta a usar na agricultura”. Movidos pela eterna promessa de produzir mais e mais barato, os agricultores não querem perceber que são os mesmos que lhes venderam a “boa ferramenta” dos pesticidas que agora lhes prometem a solução para o mal de pesticidas. Da mesma maneira que os pesticidas não resolveram o problema das pragas também os transgénicos não resolverão o problema dos pesticidas. Sobre isto os agricultores teriam muito a ganhar se ouvissem, não os publicitários da Monsanto, mas os seus pares agricultores; precisamente aqueles que já passaram pela experiência de comprar sementes transgénicas.
quinta-feira, 10 de maio de 2012
Será que a cultura afecta o funcionamento dos corpos?
A primeira de três apresentações subordinadas ao tema geral 'Ser humano'. Para ver na íntegra, clique aqui.
sábado, 5 de maio de 2012
a verdadeira vida
A vida auto-analítica - comentava - conduz à existência artificial, onde cada sentimento visa um objectivo determinado e faz esquecer o resto; enquanto a verdadeira vida é a de quem se abandona espontaneamente, passivamente sem se controlar, sem fazer juízos, sem agir. Deste modo, condenava com violência todas as "construções" psicológicas que lhe tinham passado pela cabeça na primavera e no verão, ao ponto de o ensurdecer. Todos os debates sobre o matrimónio com que tinha feito sofrer Felice e a si mesmo, pareciam-lhe insensatos.
Abolido o alarido da razão, vivia no silêncio e na quietude mental.
(Pietro Citati, Kafka - Viagens às profundezas de uma alma, cotovia (tr. E.S.), 2001, p. 137)
Estados de espírito
"Mas tinha muitas dúvidas sobre a realidade. Gostaria de saber como era antes de se lhe mostrar, antes dos seus olhos frágeis e dissolventes a terem contemplado, e julgava que para os outros ela aparecia inteira, compacta, rotunda, pesada, completamente inteligível. Para eles, mesmo um simples cálice de licor estava firme sobre a mesa como um monumento. Quanto a Kafka, não estava inteiramente certo de que fosse sólida. O primeiro sinal da realidade era ser irreal. Tudo era tão frágil, incerto, desagregado, cheio de fendas."
(Pietro Citati, Kafka - Viagens às profundezas de uma alma, cotovia (tr. E.S.), 2001, p.21)
quinta-feira, 3 de maio de 2012
terça-feira, 1 de maio de 2012
estilo
"Vejamos: o estilo é um modo subtil de transferir a confusão e violência da vida para o plano mental de uma unidade de significação. Faço-me entender? Não? Bom, não aguentamos a desordem estuporada da vida. E então pegamos nela, reduzimo-la a dois ou três tópicos que se equacionam. Depois, por meio de uma operação intelectual, dizemos que esses tópicos se encontram no tópico comum, suponhamos, do Amor ou da Morte. Percebe? Umas dessas abstracções que servem para tudo. O cigarro consome-se, não é?, a calma volta."
Herberto Helder, Os Passos em Volta, pp. 7-8.
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