A vida auto-analítica - comentava - conduz à existência artificial, onde cada sentimento visa um objectivo determinado e faz esquecer o resto; enquanto a verdadeira vida é a de quem se abandona espontaneamente, passivamente sem se controlar, sem fazer juízos, sem agir. Deste modo, condenava com violência todas as "construções" psicológicas que lhe tinham passado pela cabeça na primavera e no verão, ao ponto de o ensurdecer. Todos os debates sobre o matrimónio com que tinha feito sofrer Felice e a si mesmo, pareciam-lhe insensatos.
Abolido o alarido da razão, vivia no silêncio e na quietude mental.
(Pietro Citati, Kafka - Viagens às profundezas de uma alma, cotovia (tr. E.S.), 2001, p. 137)
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