Desta vez para onde se emigra?
Kraus
sexta-feira, 20 de março de 2020
terça-feira, 3 de março de 2020
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020
A justificação da Eutanásia (again)

"Eutanásia é
simplesmente implementar uma decisão no sentido de terminar a vida de
um indivíduo antes de isso ser necessário – uma decisão para terminar
uma vida quando ela podia continuar.
Eutanásia voluntária ocorre quando essa decisão coincide com os desejos do próprio indivíduo e ele aprova essa decisão e todos os aspectos da sua implementação.
Eutanásia involuntária ocorre quando tal decisão é implementada contra os desejos expressos do indivíduo.
Eutanásia não-voluntária ocorre sempre que tal decisão é feita sem o consentimento do indivíduo seja qual for a razão para a ausência desse consentimento. (…)
A eutanásia involuntária será sempre errada. A eutanásia não-voluntária, por outro lado, será errada a não ser que pareça certo que o indivíduo em causa prefira morrer em vez de continuar a viver sob as presentes circunstâncias e seja impossível saber se o indivíduo em causa partilha esta visão. Estes são casos raros e extremos. Há duas circunstâncias nas quais poderá ser razoável decidir que um indivíduo preferiria a morte às actuais circunstâncias de vida. Uma é a de bebés severamente deficientes que enfrentam uma vida curta e dolorosa e cuja deficiência é irremediável (por ex. casos de espinha bífida aguda). A outra circunstância poderá ser a de alguém que está a ser torturado mortalmente e nós não a podemos salvar – tudo o que podemos fazer é pôr termo ao seu sofrimento.
Por outro lado, a eutanásia voluntária, tal como o suicídio, nunca será moralmente errada, ainda que, como qualquer outra escolha humana, possa resultar de um mau aconselhamento. Quando alguém deixou genuinamente de valorizar a vida e prefere a morte a continuar a existir então a decisão de pôr termo à sua vida não pode ser considerada moralmente errada, nem as pessoas que a ajudem a realizar essa acção deverão ser objecto de condenação moral. (…)
Sempre que o problema da eutanásia é debatido, ou sempre que surge como tema da ética em geral ou da ética médica em particular, a questão é sempre a de saber se a eutanásia voluntária é ou não justificável e se, por isso, deveria ou não ser permitida. Este é um problema pequeno e relativamente simples quando comparado com os problemas que o uso generalizado e desastroso da eutanásia não-voluntária coloca a muitas sociedades. O seu uso continuado e irrestrito poucas vezes é revisto ou criticado e, em muitas das suas aplicações, é perfeitamente legal. Por isso o problema moral respeitante à eutanásia que é urgente discutir não é o da eutanásia voluntária, que diz respeito a um pequeno número de pessoas e é claramente algo que a sociedade deveria permitir. O problema é o massivo número de casos de eutanásia não-voluntária que a sociedade já permite e pratica e que, de forma igualmente clara, deveria ilegalizar ou, nos poucos casos moralmente aceitáveis, regulamentar e supervisionar.
Há dois tipos de casos que requerem uma urgente reflexão. O primeiro diz respeito a um conjunto de práticas que se inserem na prestação de cuidados de saúde, onde se tomam decisões para encurtar vidas que poderiam continuar ou ser prolongadas, e onde os indivíduos em causa não são informados ou consultados. Regra geral estes casos não são referidos (ou talvez nem sequer pensados) como casos de eutanásia; os seres humanos têm o hábito de designar as suas acções sob a descrição mais agradável possível. Contudo, se esses casos forem examinados, eles todos partilham das características centrais da eutanásia. Três exemplos devem ser suficientes.
Já discutimos a prática comum do ‘tratamento selectivo’ onde bebés severamente deficientes não são alimentados nem as suas infecções são tratadas para que eles não sobrevivam. Isto pode, ou não, ser moralmente justificado – só as circunstâncias particulares de cada caso o dirão – mas não deixa de ser eutanásia.
A prática, nos hospitais, de recusar a reanimação a uma grande variedade de doentes que sofreram paragem cardíaca, ou outra qualquer crise, é conhecida e reconhecida como generalizada.
Nos casos em que os pacientes não são consultados sobre se quereriam ser ou não reanimados em caso de sofrerem uma crise, e não são reanimados quando seria possível fazê-lo ou pelo menos tentá-lo, então a sua morte é uma consequência dessa negação e faz parte do programa de eutanásia do hospital. De novo, tal programa pode ou não estar justificado; o que é perturbador é que não se reconheça a sua existência e que essas decisões sejam muito pouco escrutinadas.
Nos tratamentos dados a doentes terminais, em particular àqueles que sofrem de cancro ou de outras doenças extremamente dolorosas, pode chegar-se a um ponto em que a administração de drogas analgésicas apressa a morte. O sucesso no controlo da dor já só pode ser atingido à custa do encurtamento da vida. Nos casos em que o doente não é avisado de que o tratamento da dor apressará a sua morte estamos, também, perante casos de eutanásia não-voluntária. (…)"
(Tradução e adaptação de LFB a partir de Harris, J., The Value of life – An Introduction to Medical Ethics, Routledge, 1992, pp.7-9, 88-85)
Eutanásia voluntária ocorre quando essa decisão coincide com os desejos do próprio indivíduo e ele aprova essa decisão e todos os aspectos da sua implementação.
Eutanásia involuntária ocorre quando tal decisão é implementada contra os desejos expressos do indivíduo.
Eutanásia não-voluntária ocorre sempre que tal decisão é feita sem o consentimento do indivíduo seja qual for a razão para a ausência desse consentimento. (…)
A eutanásia involuntária será sempre errada. A eutanásia não-voluntária, por outro lado, será errada a não ser que pareça certo que o indivíduo em causa prefira morrer em vez de continuar a viver sob as presentes circunstâncias e seja impossível saber se o indivíduo em causa partilha esta visão. Estes são casos raros e extremos. Há duas circunstâncias nas quais poderá ser razoável decidir que um indivíduo preferiria a morte às actuais circunstâncias de vida. Uma é a de bebés severamente deficientes que enfrentam uma vida curta e dolorosa e cuja deficiência é irremediável (por ex. casos de espinha bífida aguda). A outra circunstância poderá ser a de alguém que está a ser torturado mortalmente e nós não a podemos salvar – tudo o que podemos fazer é pôr termo ao seu sofrimento.
Por outro lado, a eutanásia voluntária, tal como o suicídio, nunca será moralmente errada, ainda que, como qualquer outra escolha humana, possa resultar de um mau aconselhamento. Quando alguém deixou genuinamente de valorizar a vida e prefere a morte a continuar a existir então a decisão de pôr termo à sua vida não pode ser considerada moralmente errada, nem as pessoas que a ajudem a realizar essa acção deverão ser objecto de condenação moral. (…)
Sempre que o problema da eutanásia é debatido, ou sempre que surge como tema da ética em geral ou da ética médica em particular, a questão é sempre a de saber se a eutanásia voluntária é ou não justificável e se, por isso, deveria ou não ser permitida. Este é um problema pequeno e relativamente simples quando comparado com os problemas que o uso generalizado e desastroso da eutanásia não-voluntária coloca a muitas sociedades. O seu uso continuado e irrestrito poucas vezes é revisto ou criticado e, em muitas das suas aplicações, é perfeitamente legal. Por isso o problema moral respeitante à eutanásia que é urgente discutir não é o da eutanásia voluntária, que diz respeito a um pequeno número de pessoas e é claramente algo que a sociedade deveria permitir. O problema é o massivo número de casos de eutanásia não-voluntária que a sociedade já permite e pratica e que, de forma igualmente clara, deveria ilegalizar ou, nos poucos casos moralmente aceitáveis, regulamentar e supervisionar.
Há dois tipos de casos que requerem uma urgente reflexão. O primeiro diz respeito a um conjunto de práticas que se inserem na prestação de cuidados de saúde, onde se tomam decisões para encurtar vidas que poderiam continuar ou ser prolongadas, e onde os indivíduos em causa não são informados ou consultados. Regra geral estes casos não são referidos (ou talvez nem sequer pensados) como casos de eutanásia; os seres humanos têm o hábito de designar as suas acções sob a descrição mais agradável possível. Contudo, se esses casos forem examinados, eles todos partilham das características centrais da eutanásia. Três exemplos devem ser suficientes.
Já discutimos a prática comum do ‘tratamento selectivo’ onde bebés severamente deficientes não são alimentados nem as suas infecções são tratadas para que eles não sobrevivam. Isto pode, ou não, ser moralmente justificado – só as circunstâncias particulares de cada caso o dirão – mas não deixa de ser eutanásia.
A prática, nos hospitais, de recusar a reanimação a uma grande variedade de doentes que sofreram paragem cardíaca, ou outra qualquer crise, é conhecida e reconhecida como generalizada.
Nos casos em que os pacientes não são consultados sobre se quereriam ser ou não reanimados em caso de sofrerem uma crise, e não são reanimados quando seria possível fazê-lo ou pelo menos tentá-lo, então a sua morte é uma consequência dessa negação e faz parte do programa de eutanásia do hospital. De novo, tal programa pode ou não estar justificado; o que é perturbador é que não se reconheça a sua existência e que essas decisões sejam muito pouco escrutinadas.
Nos tratamentos dados a doentes terminais, em particular àqueles que sofrem de cancro ou de outras doenças extremamente dolorosas, pode chegar-se a um ponto em que a administração de drogas analgésicas apressa a morte. O sucesso no controlo da dor já só pode ser atingido à custa do encurtamento da vida. Nos casos em que o doente não é avisado de que o tratamento da dor apressará a sua morte estamos, também, perante casos de eutanásia não-voluntária. (…)"
(Tradução e adaptação de LFB a partir de Harris, J., The Value of life – An Introduction to Medical Ethics, Routledge, 1992, pp.7-9, 88-85)
segunda-feira, 27 de janeiro de 2020
terça-feira, 21 de janeiro de 2020
sexta-feira, 27 de dezembro de 2019
quinta-feira, 12 de dezembro de 2019
terça-feira, 19 de novembro de 2019
quinta-feira, 14 de novembro de 2019
sexta-feira, 25 de outubro de 2019
La Anunciación y la expulsión de Adán y Eva del jardín del Edén
por aqui
Por sugestão de Melville, Billy Budd, Relógio D'Água, 2017, p. 89 onde se pode ler:
"Ao vê-los, o Papa desse tempo admirou a sua estranha beleza, com faces claras e rosadas e cabelo loiro, tão diferente do tipo italiano, e exclamou: « Anjos, (querendo dizer Inglês, o derivado moderno). É anjos que lhes chamais? E chamais-lhes assim porque se parecem com anjos?» Se esta cena se tivesse passado mais tarde, podia pensar-se que o Papa tinha em mente os serafins de Fra Angélico colhendo maças nos jardins das Hespérides, alguns dos quais têm uma tez de botão de rosa, como as mais belas raparigas inglesas."
Por sugestão de Melville, Billy Budd, Relógio D'Água, 2017, p. 89 onde se pode ler:
"Ao vê-los, o Papa desse tempo admirou a sua estranha beleza, com faces claras e rosadas e cabelo loiro, tão diferente do tipo italiano, e exclamou: « Anjos, (querendo dizer Inglês, o derivado moderno). É anjos que lhes chamais? E chamais-lhes assim porque se parecem com anjos?» Se esta cena se tivesse passado mais tarde, podia pensar-se que o Papa tinha em mente os serafins de Fra Angélico colhendo maças nos jardins das Hespérides, alguns dos quais têm uma tez de botão de rosa, como as mais belas raparigas inglesas."
terça-feira, 22 de outubro de 2019
os livros
- Kraus, qual a sua relação com os livros?
- A minha paixão é a de ter sempre mais e mais livros (nunca fotocópias); é, se quiser, a de morrer soterrado em livros que não servem nem poderão servir para nada. É a paixão pela inutilidade.
(da entrevista a 'o Pristino')
- A minha paixão é a de ter sempre mais e mais livros (nunca fotocópias); é, se quiser, a de morrer soterrado em livros que não servem nem poderão servir para nada. É a paixão pela inutilidade.
(da entrevista a 'o Pristino')
terça-feira, 27 de agosto de 2019
O self
- Kraus, você se considera um self made man?
- Não, não sou nenhum Tarzan. Sou antes um selfie made man!
(Diálogos da Lusofonia, p. 14)
- Não, não sou nenhum Tarzan. Sou antes um selfie made man!
(Diálogos da Lusofonia, p. 14)
sexta-feira, 5 de julho de 2019
Estados de espírito
"E o que era a vontade duma menina de cinco anos? Uma onda que a energia humana apenas modula; um desejo de vida, com os seus recursos de amor e fúria."
Agustina Bessa-Luís, As Pessoas Felizes, p.34.
O si próprio
- como gostaria de ver-se a si próprio, Kraus?
- Através dos olhos de uma mulher jovem, magra, de altura mediana, com óculos, sem adereços vistosos e de bata branca. Gostaria de ver o potencial do 'avelhado apresentável', a doença, a pobreza e escárnio, a falta de jeito (clumsiness) e de como surge a atração no olhar...
(da entrevista a 'o Pristino')
sábado, 1 de junho de 2019
A vida no campo
- Kraus, como é a vida no campo?
- uma merda. Enjoa a pesticidas ou a criolina. Acorda-se e os motores a gasóleo invadem-nos.
O Shabat é sistematicamente violentado pelas máquinas de corte. Os transportes cheiram quase sempre a bosta de vaca ou a coisas piores. Não se pode andar a pé; não havendo passeios põe-se em risco a vida no campo! E tudo fica longe. E o plástico? ai, ai.
Uma merda querer ser romântico na era da técnica. Como se houvesse natureza num prado...
Puta que pariu os ruralistas.
Excerto de entrevista publicada no jornal 'O Prístino' (27/8/16).
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