Franz Kafka, O Castelo, Relógio d´Água Editores, (tr. I.C.S.), 2006, p.48."«Acho que te compreendo», disse ela e abraçou-o e queria dizer ainda outra coisa mas já não conseguia falar, e porque a poltrona ficava mesmo ao lado, arrastaram-se vacilantes por cima dela e deixaram-se cair na cama. Ali ficaram deitados, mas já não com a entrega daquela noite. Ela procurava qualquer coisa e ele procurava qualquer coisa, furiosamente, rasgando o rosto com caretas, furando com a cabeça o peito do outro, e os abraços e os corpos que arremetiam entre si não os faziam esquecer, antes os lembravam daquela obrigação de procurar, como os cães esgaravatam desesperadamente na terra, também eles esgaravatavam no corpo um do outro e, desiludidos, desamparados, para assegurarem uma última felicidade, por vezes percorriam com a língua o rosto do outro. Só o cansaço os deixou parar e sentirem-se gratos um ao outro. As criadas entraram então, «vejam só estes dois aqui deitados», disse uma delas e por pena tapou-os com um lençol."
Gravações do Trio Fragata no bandcamp
domingo, 11 de agosto de 2013
para assegurarem uma última felicidade
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felicidade,
Kafka