sexta-feira, 1 de abril de 2011

Deus, por que tem que existir toda esta crueldade?

Este diário é certamente uma das descrições mais pungentes feitas por uma testemunha e vítima dos horrores perpetrados pelos nazis no gueto de Varsóvia. A autora era uma adolescente quando o escreveu, o que lhe permitia ter já uma percepção afinada  da realidade. A mãe de Mary Berg era americana de nascimento o que, apesar de não ter impedido que passassem  pelas misérias que os outros judeus passaram no gueto, acabou por as salvar. 
A citação que se segue é retirada de um dos últimos capítulos, quando elas já se encontram em França, na estância de Vittel, transformada em campo de refugiados, e dá bem conta de alguns dos dilemas morais que assolavam a mente dos sobreviventes.  

"Nós, que fomos resgatados do gueto, temos vergonha de olhar uns para os outros. Tínhamos nós o direito de nos salvarmos? Por que é tudo tão bonito nesta parte do mundo? Aqui tudo cheira a sol e a flores, e lá - lá só há sangue, o sangue do meu próprio povo. Deus, por que tem que existir toda esta crueldade? Estou envergonhada. Aqui estou eu, respirando ar fresco, e lá o meu povo está sufocando em gás e perecendo em chamas, queimado vivo. Porquê?

Berg, Mary, The Diary of Mary Berg - Growing up in the Warsaw Ghetto, Oneworld, 2009, p. 222, tr. do excerto LFB)

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