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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Estado Novo e desvio

" 'Politicamente, tudo o que não se vê, não é.'

A afirmação é de Salazar, e podia aplicar-se à intencionalidade do modelo carcerário desenvolvido a partir dos anos 30 pelo Estado Novo para 'internar' o 'chulo' o homossexual, o vadio, a prostituta, a criança em 'risco moral', o louco ou doente mental, o mendigo, alguns dos tipos sociais mitificados pelo regime na figura socialmente inútil e ameaçadoramente subversiva do 'vadio' ou 'indigente'. Estes não têm de corresponder à realidade, são antes uma amálgama das marginalidades e condutas consideradas desviantes pela moral do regime, na verdade, na sua maioria, aquilo a que hoje chamaríamos, fenómenos de exclusão social.

Quem fosse considerado como integrante destas categorias e personalidades desadequadas à ordem social, arriscava a prisão por longos períodos, frequentemente indeterminados, com o fim professado de 'reeducação' através da disciplina e do trabalho, naturalmente um fim sem sucesso, como reconhecido pelos próprios responsáveis destas instituições face às elevadas taxas de 'reincidência'."

Vitorino, S. (2007). "Actos contra a natureza": a repressão social, cultural e policial da homossexualidade no Estado Novo. Disponível aqui.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Uma Ambulância, Por Favor

112.
Tenho aqui uma senhora deitada na rua com dores muito fortes na zona do estômago. Queria uma ambulância, por favor!

Que idade tem? Como se chama? Poderia falar com ela?
Tem entre 30 e 40 anos, chama-se D.M., está consciente mas não está em condições de falar ao telefone.

A dor é recente ou já tem história?
Tem tido dores, mas hoje está muito pior, completamente prostrada. Não consegue levantar-se e chora.

Não desligue. Vou transferir a chamada.

[As mesmas perguntas e ainda:]
Onde se encontra?
Bairro do Aleixo*, junto à torre 1, Rua de Arnaldo Leite.

Não desligue, vou transferir a chamada.
[Repetem-se as perguntas.]

Por favor! Ela está muito mal, a dor é lacerante, precisa mesmo de ir ao hospital!

Onde se encontra?
Bairro do Aleixo. junto à torre 1, Rua de Arnaldo Leite.

(SILÊNCIO...)

Estou? Ainda está aí?

Sim... Mas olhe que vai ter de pagar 30 euros...
Mas estamos a falar de uma sem-abrigo! Diga-me lá, que alternativa há?!

Não sei, só se falar com a polícia ou ligar para o 112.

[Fim de chamada. Cerca de 10 minutos.]

(*Aleixo, tido como um dos bairro mais problemáticos e perigosos do Porto, comummente catalogado como "hipermercado da droga" e/ou "zona de exclusão" ).

(D.O.)