quinta-feira, 7 de junho de 2012

O sentido interno profundo

"Mas eis senão quando, um belo dia, na proximidade da morte, acabaremos por perceber que o tempo, que é irreversível relativamente, o tempo do quotidiano, deixou de o ser - pufa! amanhã tenho de fazer o mesmo que hoje, ver as mesmas caras, e pelos tempos adiante sempre assim será - sentimos então que ele se tornou irreversível absolutamente. O tempo é uma forma da intuição do sentido interno profundo. Porém, agora mesmo esta interioridade assoma à superfície do Eu. Temos ainda uma hora e meia, uma pequena eternidade, um nada. Corpo e espírito dialogam em consonância um com o outro, o seu murmúrio é audível no espaço. O corpo sabe que dentro de noventa minutos, o tempo que costuma durar um filme, terá deixado de existir. Vai esmagar-se no asfalto, vai esvair-se em sangue, o sistema respiratório ficará paralisado ou então cairá num sono inquieto que o transformará para sempre."

(Jean Améry, Atentar contra si - discurso sobre a morte voluntária, p,95)

Sem comentários: