"A brancura tem a capacidade de fazer um terror sem nome transbordar "arrastando-o até aos limites extremos". A questão é saber por que razão a brancura em si mesma (...) é tão terrível e assustadora. O assustador na brancura não é um qualquer significado ou conotação que possa ter. É isso sim, o facto de parecer tão cheia de significado e, apesar disso, precisamente em virtude de poder assumir uma tão radical gama de significados, não ser nada semelhante a um significado. É antes, explica ele, "uma vazio mudo repleto de significado".
Para percebermos esta ideia temos de pensar numa brancura como aquela que podemos obter na chamada "luz branca". Enquanto cor, a percepção da brancura é evocada pela luz que estimula, a um nível quase igual, todos os três tipos de células da retina sensíveis à luz. Assim, neste sentido, o branco é a cor que resulta de juntar todas as cores. Mas a luz branca é ela mesma invisível ou destituída de cor - não podemos ver a luz branca, mas é ela que nos permite ver tudo o resto; é, nas palavras de Melville, a "visível ausência da cor". (...)
Tentarmos olhar para a brancura em si, tentarmos concentrar-nos na luz branca que atinge "directamente a matéria", é como tentarmos ver as práticas de fundo tal como são em si mesmas. Mas nada podemos dizer sobre o fundo em sim mesmo; só podemos dizer como é quando toca uma túlipa ou uma rosa. Apenas se revela na medida em que nos permite ver qualquer outra coisa.
Este sentido da brancura como pano de fundo, o facto de estar presente na nossa experiência mas somente através daquilo que nos permite ver, aplica-se à baleia de forma espantosa. Vimos já que o cachalote não tem rosto. Acontece, além do mais, que até mesmo as suas costas não podem ser vistas com clareza. À semelhança das práticas de fundo de uma cultura, a cauda parece simultaneamente familiar e plena de significado, e ao mesmo tempo impossível de descrever."
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