"A ascensão dos privilegiados, não só nos Lager mas em todas as convivências humanas, é um fenómeno angustiante mas infalível: é só nas utopias que eles estão ausentes. É dever do homem justo fazer guerra a todos os privilégios não merecidos, mas não se pode esquecer que esta é uma guerra sem fim. Onde existir um poder exercido por poucos, ou por um só, contra os muitos, o privilégio nasce e prolifera, mesmo até contra a vontade do próprio poder; mas é normal que o poder, pelo contrário, o tolere e encoraje. Limitemo-nos ao Lager, que contudo (mesmo na sua versão soviética) pode bem servir de «laboratório»: a classe híbrida dos prisioneiros-funcionários constitui a sua ossatura, e ao mesmo tempo o delineamento mais inquietante. É uma zona cinzenta, de contornos mal definidos, que ao mesmo tempo separa e associa os dois campos dos senhores e dos servos. Possui uma estrutura incrivelmente complicada, e aloja dentro de si o suficiente para confundir a nossa necessidade de julgar."
Levi, Primo, Os que Sucumbem e os que se salvam, Teorema, 2008, p.39.
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