sábado, 21 de fevereiro de 2009

JOHN UPDICKE

Estados Unidos

1932-1993


AÇORES


Grandes navios verdes

eis que navegam

ancoradas, para sempre;

sob as águas


enormes raízes de lava

prendem-nas firmes

a meio do Atlântico

ao passado


Os turistas, pasmando

do convés

proclamam aos guinchos lindas

as encostas malhadas


De casinhas

(confettis) e

doces losangos

de chocolate (terra).


Maravilham-se com

os campos graciosos

e os socalcos

feitos à mão para conter


Os modestos frutos

das vinhas e das árvores

importadas pelos

portugueses:


paisagem rural

vindo à deriva

de há séculos;

a distância


amplia-se.

O navio segue,

Outra vez a constante

música alimenta


um vazio à popa,

os Açores sumidos.

O vácuo atrás e o vácuo

à frente são o mesmo.


Poesia do Século XX (ant., tr., pre. e notas de Jorge de Sena, Fora do Texto, 1994, pp.454-455)

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