Da leitura da "constituição de Hipodamus":
1) na polis aristotélica andar armado seria uma condição necessária de cidadania?
2) deverá a polis oferecer "honras" aos que descobrem algo vantajoso para ela?
Aristóteles recomenda prudência. Os perigos são a introdução de informadores e a alteração inusitada das leis da politeia. A alteração das leis por si não é má, as razões é que podem ser. Por comparação com a medicina, a física e as artes (skill/tecnhe) em geral, onde a mudança (de métodos e de técnicas) é benéfica, somos levados a pensar que, uma vez a "cidadania (statesmanship/politiké) deve ser vista como uma destas" (1268b38), o mesmo se lhe aplica e até mesmo as leis escritas não devem ser imutáveis. Também aqui, como nas ciências, seria impossível "escrever toda a organização da politeia" (os princípios são gerais, as acções dependem de circunstâncias particulares).
Mas, de outro ponto de vista, diz-nos Aristóteles, que é preciso pesar a relação custos/benefícios entre o hábito de se mudar constantemente as leis e o valor da própria lei. É melhor ser tolerante para com os erros dos políticos do que ficar habituado à mudança constante das leis, pela razão de que isso enfraquece o poder da lei. Há uma diferença significativa entre a alteração das artes e a alteração das leis, estas só pelo hábito garantem obediência. Aristóteles termina com interrogações: todas as leis podem ser mudadas? E em todos os tipos de politeia? E quem deve realizar a mudança?
3) comentários de Strauss (pp. 17-20); o erro de Hipodamus foi querer compreender todas as coisas à luz da simplicidade das tríades, não prestando atenção "ao carácter peculiar das coisas políticas", nem percebendo que elas formam uma classe em si.
O facto de, no início do capítulo, Aristóteles fazer - pela única vez em todo o livro - alusões a boatos acerca da vida de Hipodamus e de expor o ridículo de "querer ser um perito em todas as coisas naturais" teria o razoável propósito de anunciar o referido erro. Não pode pois Hipodamus ser o fundador da filosofia política porque nunca chegou a colocar a questão 'o que é a política?'. E a sua ridicularização revela que a "filosofia política é mais questionável do que a filosofia em si" pois o primeiro filósofo foi ridicularizado por uma escrava bárbara e o suposto primeiro filósofo político foi ridicularizado por todos os "homens livres".
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