"Há uma história oriental que nos pode ensinar algo nesta situação. é a de um monge que tem por tarefa levar um mocho mágico, dentro de um saco, de um lado ao outro da cidade. O mocho diz-lhe: vou contar-te algumas histórias acerca da minha vida, actos bárbaros que pratiquei e actos generosos. Sempre que julgares os meus actos eu desapareço e tu és obrigado a começar de novo. Assim foi: o animal contou então uma das suas façanhas medonhas e o monge não resistiu a dizer: isso é mau! Resultado: de imediato o mocho desapareceu do saco e o homem viu-se obrigado a voltar ao ponto de partida, onde o animal mágico o esperava para relembrar:
Se me queres não me podes julgar.
Falhou mais duas vezes o monge, pois a meio do caminho descuidava-se e, por palavras ou pensamentos, aprovava ou desaprovava as histórias contadas. à quarta tentativa conseguiu, finalmente. Ouviu histórias, do princípio ao fim, e não as julgou. Conseguiu, assim, levar o mocho até ao outro lado da cidade. A aprendizagem terminara."
Gonçalo M. Tavares, Histórias Falsas, Caminho, 2014, pp. 44-45.
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