"Foi primeiro em termos de consolação que Jonas redigiu o seu opúsculo [Le concept de Dieu après Auschwitz], na tentativa de reconfortar a título póstumo aqueles «cujo grito não teve eco face a um Deus mudo». A questão fundamental que ele coloca é a seguinte: a Shoah impõe-nos uma visão dilacerante das nossas ideias sobre Deus, a sua omnipotência, a sua vontade e a sua teodicidade? Numa palavra, devemos mudar de teologia? Mais cruamente: Será que as nossas origens judias antigas (Talmude e Midrash) não estarão um bocado ultrapassadas por aquilo que a Shoah implica?
Segundo Jonas, o espírito moderno exige uma imanência divina total, sem que isso desemboque num panteísmo qualquer, posto que o criador e a criatura são perfeitamente distintos. Segundo, não existe outra pré-ciência divina além da das condições do ser cósmico. Ora, foi precisamente nestas que Deus confiou para se ocupar do seu universo. Terceiro, se Deus pode padecer e sofrer, e isso desde a origem da criação e por consequência da História: os primeiros versículos do Génesis falam de um Deus «contrariado no seu coração» e o salmo 91 diz immo anokhi be-stara (Eu sofro com ele/ o homem/ quando ele sofre). Este Deus é também um Deus que evoluiu pois o que se passa no universo lhe diz respeito. Daí a pergunta lancinante: que fazia Deus enquanto se assassinava em Auschwitz?"
Maurice-Ruben Hayoun, O Judaísmo, Teorema, 2007, p.117.
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