quarta-feira, 21 de agosto de 2013

condenados à ociosidade

"Nós sabíamos que não haveria nenhum castigo formal. Aconteceu apenas que todos se afastaram de nós. As pessoas daqui da aldeia tanto como o castelo. Mas se notávamos a retirada das pessoas, como não podíamos deixar de notar, já do castelo não notávamos nada. Se não tínhamos notado antes nenhuma assistência do castelo, como havíamos agora de notar uma mudança de atitude? Esta acalmia era o pior. Não era nem de longe a retirada das pessoas, que afinal não se afastavam por nenhuma convicção particular, que talvez não tivessem nada de grave contra nós, o desprezo que hoje sofremos não existia ainda, que reagíamos por medo e que agora esperavam para ver o que acontecia. Também não receávamos ainda a miséria, quem nos devia dinheiro pagou as suas dívidas, as contas foram saldadas com vantagem nossa, quanto a víveres que nos faltassem, éramos ajudados em segredo por parentes, era fácil, estávamos na época das colheitas, mas nós não tínhamos campos e ninguém nos deixava amanhar a terra, pela primeira vez na nossa vida fomos praticamente condenados à ociosidade. E passávamos agora os dias sentados com as janelas fechadas no calor de Julho e Agosto. Nada acontecia. Nenhuma notificação, nenhuma mensagem, nenhuma visita, nada."

                 Franz Kafka, O Castelo, Relógio d´Água Editores, (tr. I.C.S.), 2006, p.195.