terça-feira, 4 de setembro de 2012

Jan Havickszoon Steen, The Sacrifice of Iphigenia - 1671/ "a balbúrdia do eu"

Daqui.

Por sugestão de James Wood, A mecânica da Ficção (tr. mui cuidada de Rogério Casanova, Quetzal, 2010) onde se pode ler:

"O filósofo Bernard Williams preocupava-se bastante com a inadequação da filosofia moral. Grande parte dela, na sua opinião, em particular a que provinha de Kant, erradicava a balbúrdia do eu do debate filosófico. A filosofia, considerava, mostrava uma tendência para encarar todos os conflitos como conflitos de opiniões, que podiam ser facilmente resolvidos, e não como conflitos de desejos, que já não se resolvem facilmente. (...)
(...) Williams estava mais interessado no que ele chamava «dilemas trágicos», nos quais alguém é confrontado com duas exigências morais contraditórias, ambas de igual importância. Agamémnon tem de trair as suas tropas ou sacrificar a sua filha; qualquer uma das acções lhe causará vergonha e arrependimento duradouros. Para Williams, a filosofia moral devia prestar atenção ao tecido da vida emocional em vez de definir o eu, em termos kantianos, como tendo princípios estanques, como sendo consistente e universal. Não, disse Williams, as pessoas são inconsistentes; refazem continuamente os seus princípios; e são determinadas por toda uma séria de factores - genéticos, educacionais, sociais, etc.
(...)
Evidentemente, o romance não dá respostas filosóficas (como disse Tchékhov, é suficiente que coloque as questões certas). No entanto, faz aquilo que Williams pretendia que a filosofia moral fizesse - produz a melhor representação possível da complexidade do nosso tecido moral." (192-195)

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