este texto de Paul Berman (2004).
"Um amigo, deitando-se sobre o balcão, disse "afirmas que a guerra no Iraque é uma guerra antifascista. Até dizes que é uma guerra de esquerda; uma guerra de libertação. No entanto, na esquerda, poucas pessoas concordam contigo."
"Não é verdade!", disse eu. "Aparte de X, Y, Z cujos nomes ligados com a esquerda conheces bem. O que pensas de Adam Michnik da Polónia? E Vaclav Havel não conta? (...)"
Ele persistiu. "A maioria das pessoas não concorda contigo. Porque será?"
Por que é que as pessoas de esquerda não pensam como eu? Exceptuando aqueles que pensam como eu? Dou-te várias razões:
Porque Bush é um político repulsivo e as pessoas estão cegas pela repulsão que sentem (...). "[se fosse, Clinton, seria diferente? Hoje é um benfeitor... digo eu]."
Porque muitos outras pessoas inteligentes decidiram, a priori, que todos os grandes problemas políticos vêem da América. Uma atitude que há sessenta anos atrás os teria impedido de compreender o fascismo europeu. (...)
Porque muitos, na sua bondade respeitosa para com as diferenças culturais, concluíram que os Árabes, por razões imprescrutáveis que só a eles dizem respeito, gostam de viver sob didaturas grotescas e não são capazes de mais nada...[uma espécie de racismo para com os Árabes, digo eu e ele]. A antiga esquerda costumava pensar que todos, e em todo o mundo, quereriam um dia viver de acordo com os mesmos valores fundamentais e deveriam se ajudados a conseguí-lo. Hoje, num espírito de tolerância igualitária afirmam: Democracia social para a Suécia. Tirania para os Árabes... É isto uma atitude de esquerda? A esquerda, a verdadeira, costumava ser a campeã das populações minoritáriascomo os Kurdos. Mas já não o é.
Porque muita gente acredita honestamente que os problemas de Israel com a Palestina representam mais do que uma disputa miserável sobre fronteiras e reconhecimento mútuo. Que os problemas de Israel são algo maior, um aspecto diabólico único do zionismo que explica o ódio e a humilhação sentida pelos muçulmanos de Marrocos à Indonésia. Na realidade muita gente sucumbiu perante fantasias anti-Semitas.... Muito se diz sobre os pecados de Israel, e muito pouco sobre os movimentos de influência fascista que causaram milhares e até milhões de mortes noutras partes do mundo muçulmano...Porque muita gente é cega perante o anti-Semitismo noutras culturas...Se abrissem os olhos poderiam ver que o partido Baath (um movimento fundado sob influência nazi em 1943 ) e os movimentos islâmicos são muito parecidos com os movimentos clássicos fascistas. Isto acaba por ser o legado fascista e totalitário que a Europa transmitiu ao mundo Muçulmano moderno.
Disse ele "E então As nações Unidas e a lei internacional não significam nada...?
Respondi, seria melhor combater o antifascismo com a aprovação da Onu. (...) Apoiar a guerra em nome do antifascismo, ou recusar a guerra em nome da lei internacional. Anti-fascismo sem a lei internacional; ou a lei internacional sem antifascismo. Uma escolha miserável, sem dúvida...
Ele disse, "Eu sou pela lei internacional e penso que traíste a esquerda. Um neocon!"
Eu disse, "Eu sou pelo derrube de tiranos, e desde quando é que derrubar o fascismo se tornou traição?".
"Mas não é Bush uma espécie de fascista?", disse ele.
"Não fazes ideia do que é fascismo." Disse eu. "Sempre pensei que a denúncia e o combate da extrema opressão eram as características principais de um coração de esquerda." Confundir sepulturas em massa, e uma população esmagada por trinta e cinco anos de Baath, com a corrupção e os favorecimentos de Bush é ridículo."(...)
Contudo, nada disto fez sentido para ele, e nada mais houve a fazer senão acenar com as nossas respectivas bebidas.
Berman, Paul, Dissent Magazine (Winter, 2004).
(Tradução livre LFB)
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