A ser verdade, a notícia - até agora apenas dada pelo jornal A União - de que os professores terão que passar 35 horas nas escolas constitui um teste real a todos os envolvidos ( ainda que seja necessário ressalvar algum populismo anti-professores que a notícia denota e alguns pontos que ela não esclarece).
1) É um teste aos professores e à sua capacidade de resistência; será que vão anuir, como vem sendo seu hábito, sem sequer se manifestarem? Nas escolas já se ouvem alguns dizer como é que vão organizar a sua vida em função dessa nova imposição, estes já dão a medida por aceite. Todos terão que, muito por culpa própria, passar pelo vexame de serem igualados a meros funcionários que fazem fila enquanto esperam pela hora de picar o ponto. Será que vamos aguentar?
2) É um teste às escolas e seus conselhos executivos (estes, de certa maneira, são pagos para anuírem em silêncio); se no ano lectivo que decorre os professores ocuparam todos os espaços de trabalho dos alunos (bibliotecas, salas de alunos, etc), imagine-se o que acontecerá se todos tiverem que passar 35 horas nas escolas. Antevejo atropelos, empurrões, maus-olhados, aulas e correcção de trabalhos preparadas nas piores condições imagináveis: ruídos de todo o tipo (desde gritos, até telemóveis, passando pela audição das desgraças da vida privada que os/as colegas contam uns aos outros/as), campainhas estridentes de 45 em 45 minutos, etc. Em casa está-se melhor, mas se é para degradar ainda mais o ensino, se é apenas para se ser funcionário público (sem o título de professor) vamos a isso. Assim nunca mais chegamos à Finlândia, mas vejamos a coisa pelo lado positivo: assim já não se leva trabalho para casa! Até digo mais: assim já não se trabalha, tem-se um emprego. E é isso que todos queremos, não é? A ideia, ou o ideal, de haver gabinetes individuais de trabalhos para professores é do mais surreal que se possa imaginar. Nem as universidades conseguiram isso quanto mais escolas com centenas de professores. Vamos todos trabalhar ao magote, que a mais não estamos obrigados nem a mais somos capazes.
3) É um teste ao próprio idealista legislador Álamo Meneses que, tendo saído por cima do anterior conflito, voltará a ser confrontado com os agora serenos sindicatos (com os quais ele sabe bem lidar, veja-se o ponto seguinte) e, provavelmente, terá que levar mais um puxão de orelhas de Carlos César que, aquando da aplicação do diploma que obriga os professores a permanecer mais horas nas escolas não se sabe bem a fazer o quê (no meu caso fico sentado a cansar-me numa sala de alunos a vê-los entrar e a sair; dado o barulho é difícil fazer o que quer que seja), veio a público dizer que 'se os professores não têm onde se sentar não necessitam de estar nas escolas'.
4) É um teste aos sindicatos que ainda agora se revelam contentes com os resultados das negociações (a estratégia de Álamo Meneses de tirar muito com uma mão e depois dar um pouco menos com a outra tem se revelado frutífera); a componente não lectiva seria apenas de mais duas horas contra as quatro (ou serão seis?) actuais, os cargos seriam todos pagos; dar mais uns tostões aos professores é sempre uma medida recebida com agrado; o preço a pagar é que nem tanto. Este - que até ditador (se calhar com razão) chamou ao secretário - na sua última revista de informação em papel (não disponível no site) revela-se satisfeito com a "abertura" e "dignidade" manifestada pela administração. Que dirão agora?
Será a notícia verdadeira? Até agora ainda não ouvi ninguém dizer que não é.
(LFB)
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