- Kraus, quem nos diz a verdade nestes dias que correm? Não a verdade breve dos noticiários, mas a verdade que nos sustém a todos?
- Agradeço-lhe, é uma pergunta muito pertinente; vê-se que você tem, na sombra, uma mulher gentil a apoiá-lo.
Assim de repente Don Quijote: "Nos perigos graves, atropela-se toda a razão."
Esperar-se-ía que fossem os filósofos, mas não; ou estão fechados nas suas torres a analisar argumentos intrincados ou descobriram que do que não se pode falar o melhor é estar calado. O que é, só por si, uma bela verdade.
Os cientistas também não nos dão a verdade - se bem que haja comentadores golfistas que acham que sim; mas que sabem eles? -, dão-nos as leis da natureza, o que não é pouco, mas só podem alcançar o compromisso teórico e o afastamento empírico do erro objectivo.
Restam-nos os escritores e, em particular, os poetas. Ah, os poetas! Esses sim, com os seus finíssimos e perspicazes orgãos captam, na contemporaneidade das releituras, a verdade verdadinha, mas tão propriamente sua que poucos a querem compreender, nem eles a querem dar como fruta perene. E a parte que não é criação sua, é extraída do vulgar - é uma nobre acção, don't get me wrong, é um elevador intelectual do ridículo! - e do ruído dos cafés e, portanto, demasiado particular, para servir de jangada ao humano.
Por conseguinte, eu diria que só nos resta fazer de conta que a ignorância generalizada não nos diz respeito ou então agarrarmo-nos, até um dia - e que dia para um poema -, ao sagrado profano dos prazeres alienantes.
(da entrevista a 'o Pristino')
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