"Fomos apanhados na armadilha de um texto, resume Fritz Lang no seu Testamento do Dr Mabuse (1933), transparente alusão à escalada do nazismo ao mesmo tempo que a interrogação sobre o texto verdadeiro que a Alemanha da época começa a aplicar à letra. O nazismo encontrou a sua eficácia conjugando a ideologia (como se diz) nacional e a ideologia revolucionária, mas ele não é o primeiro, todos os pensadores alemães do século XIX aí se exercitaram, nem é tão-pouco o último. Por outras palavras, se a «personalidade» de Hitler se enquadra num texto de que se imagina autor, este texto extravasa-a por todos os lados. E mesmo se a reverência de Hitler pelo passado se preocupa pouco com a autenticidade das referências - ele deformará sem vergonha Nietzsche e Wagner - não é menos certo que o passado antes de pretexto, é um pretexto: todo o século XIX alemão premeditou uma revolução nacional e socialista" (p.35)
E numa nota:
"O filme de Fritz Lang, O testamento do Dr. Mabuse (1993) foi proibido pelos nazis. A única actividade de Mabuse, internado como louco, consistiu em escrever: ele estabelece os fundamentos do «império do crime» concebido segundo o princípio geral de A ordem pelo caos." (p. 250)
André Glucksmann,Os Mestres Pensadores, D. Quixote, 1978.
Sem comentários:
Enviar um comentário