domingo, 10 de fevereiro de 2013

Patti Smith: simplesmente comíamos e fazíamos o nosso trabalho.

Defende que a Internet é uma nova ferramenta que pode auxiliar as novas gerações a fazer uma revolução?
Quando a Internet surgiu, odiei. Ainda hoje odeio telemóveis. Não uso telemóvel. Mas os meus filhos usam a Internet a todo o momento, e pareceu-me que era importante compreender o mundo deles. Penso que há muito mal na Internet, muito crime e muita corrupção, mas parece-me que é uma forma de as pessoas se exprimirem. Uma pessoa que não consegue ter uma editora para lhe editar o CD pode pôr a música no MySpace ou no YouTube e outros podem ouvir... Gosto desta democracia que abre novas possibilidades para as pessoas criativas. Podem não ser fantásticas, mas têm um meio para se poderem expressar. E acho mesmo que, por razões políticas, os jovens podem juntar-se e unir forças para boicotar, por exemplo, alguns bens chineses. Podemos boicotar as fábricas que poluem o nosso mundo. Podemos dizer: "Vão lançar químicos nos nossos rios, então não vamos comprar os vossos produtos." E podemos fazer chegar esta mensagem a todo o mundo. Os jovens podem unir-se e tomar uma posição, podem decidir dizer: "Não comprem isto e isto..."
O que poderia ter acontecido com a sua geração, nos anos 70, se tivesse este instrumento?
A minha geração cometeu muitos erros, mas uma coisa que realmente fez foi ter dito: "Não vamos alinhar no que montaram para nós." A minha geração, quando era nova, não era materialista. Não tínhamos nada. O Robert e eu não tínhamos televisão, nem rádio, nem telefone... Simplesmente comíamos e fazíamos o nosso trabalho. Quero dizer, não podíamos ir ao cinema, não tínhamos dinheiro para mais nada. Eu trabalhava numa livraria... Não tínhamos cartões de crédito. Nada. Mas éramos felizes e estávamos bem. E agora alinhamos nesta tendência consumista do nosso mundo. Acho que, de algum modo, mesmo que por um período apenas, nós éramos uma geração mais espiritual...
Mas pode-se voltar a isso? Recuperar uma vida mais espiritual e menos materialista?
Acho que nada está terminado. Julgo que, tal como as mulheres um dia decidiram, mesmo que isto agora soe estúpido, queimar os seus sutiãs, as pessoas hoje podem dizer: "Não vou mais usar o cartão de crédito, não me vou sujeitar a uma escravatura económica."
É a reafirmação da frase da sua canção "People Have the Power"?
Acho que as pessoas podem decidir. Parece-me que vai ser difícil, porque há tanta pressão, programação, exploração dos novos... Pensam que têm de parecer de um certo modo, que têm de se sujeitar a cirurgias plásticas, que têm de pôr botox, que têm de se vestir de um certo modo, que têm de ter todas estas coisas porque lhes é dito, porque lhes é dito... Isto é dito às pessoas! E eles não precisam de nenhuma desta merda. As pessoas precisam é de saber quem são. Precisam de saber que são criativas, precisam de se conhecer. Todas estas coisas são trampa. Cada pessoa precisa de ser ela própria. A tecnologia é uma das formas que os jovens têm para poderem dizer: "Eu vou tomar as minhas decisões." É como o Obama no meu país. Clinton é uma mulher inteligente, muito experiente, e tenho a certeza que pode ser uma boa Presidente, mas Obama chegou, é novo, compreende a tecnologia e motivou os jovens para se unirem. Se ele ganha, significa que são as novas gerações que o põem lá. E isto é muito excitante, mesmo considerando que ele não é tão experiente quanto a Clinton, que tem ainda muito para aprender e que cometa erros. Penso que é muito interessante, porque os jovens é que verdadeiramente vão ter o poder.