sábado, 27 de outubro de 2012

António franco Alexandre

Já me esqueci da água agora só vigio
os aviões que chegam ou levantam
na pista paralela ao horizonte,
pilotos sonolentos, embrulhados no frio,
a voz no microfone destrocada
por transparentes rotas rente às nuvens.

o vidro embaciado não me deixa
bem decifrar o rosto, os gestos lentos,
a boca, que beijaram os segredos.
vou ver se nesta tarde me despenho,
onde é mais fácil enganar o tempo,
onde a rocha da água se separa.

talvez regresse a mim. talvez me aguarde
o vago comité a que pertence
a sábia ciência de contar os vivos,
talvez passe a manhã ouvindo a rádio
em vastas ambições e pensamentos;
vou ver se nesta tarde me desenho.

As Moradas 1 & 2 (1987)