segunda-feira, 5 de março de 2012

ALEXANDRE O'NEILL (1924-1986)

AOS VINDOUROS, SE OS HOUVER...

Vós, que trabalhais só duas horas
a ver trabalhar a cibernética,
que não deixais o átomo a desoras
na gandaia, pois tendes uma ética;

que do amor sabeis o ponto e a vírgula
e vos engalfinhais livres de medo,
sem peçários, calendários, Pílula,
jaculatórios fora, tarde ou cedo;

 computai, computai a vossa falha
sem perfurar demais vossa memória,
que nós fomos pràqui uma gentalha
a fazer passamanes com a história;

que nós fomos (fatal necessidade!)
quadrúmanos da vossa humanidade.  


Alexandre O'Neill, De Ombro Na Ombreira (1969)