
(p.23)
O professor era claramente um perito na sua área. A sua mulher mostrou-me um livro que ele escreveu e, sempre que eu o cumprimentava, ela abanava a cabeça fechando os olhos em sinal de concordância profunda. Ela, mais do que sua mulher, era sua fã. Infelizmente não consigo levar um qualquer careca a sério quando ele unta o cabelo em longos fios mutantes e o penteia por cima da cabeça. E eu estava no banco de trás, o que não ajudava, pois o que eu via era um ovo cozido. Em vez de prestar atenção à vida social dos macacos japoneses, eu estava mais fascinado com a própria estratégia do pentear-por-cima. Será que essas pessoas pensam realmente que conseguem enganar alguém? Será que não têm espelhos? Ou será que os espelhos é que são o problema? Em frente do espelho da casa de banho deve ser o único modo de o estilo de pentear-por-cima parecer remotamente natural E mesmo assim, quantas vezes é quer nós vemos pessoas com o cabelo a crescer-lhes horizontalmente por cima da testa? Os japoneses, que têm um certo charme para descrições cómicas, referem-se ao estilo de pentear-por-cima como a cabeça código-de-barras, referindo-se aos preços com códigos-de-barras dos supermercados. Sentado no banco de trás, com esta vista desfavorável de um professor (pausa) da Universidade de Tóquio, apetecia-me passar a mão ligeiramente por cima da sua cabeça e ver que tipo de preço surgiria.
«E portanto, poderá deduzir o quanto a vida social dos macacos é tão importante,» disse ele em conclusão.
«Absolutamente», disse eu."
(p.31-32)
(Will Ferguson, Hokkaido Highway Blues - Hitchhiking Japan, Cannongate, Abridged ed., 2003. Tr. LFB)
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