Tradução: o Estado quer livrar-se da solidariedade social. Como? Cortando no financiamento às Instituições Privadas de Solidariedade Social (IPSS) que não dêem lucro, transferindo simultaneamente (e ainda mais), as suas responsabilidades na área para as referidas instituições.
Perguntas: é razoável esperar que todos os tipos de IPSS dêem lucro? Que "diversifiquem o seu financiamento" numa altura de crise? Que de forma encapuçada o Estado se vá demitindo de apoiar os mais vulneráveis? Que se esperem respostas de qualidade a problemas sociais (com tendência a agravar-se, dado o aumento do desemprego) com financiamentos minguantes?
Tenho, ainda, um grande problema com a 'obsessão da inovação'. Que devamos estar abertos a novos modos de intervir? Claro. A novas populações vulneráveis? Também. Mas e o trabalho de continuidade, coerente e com resultados positivos? Não será isso o que mais interessa quando se trabalha com e para pessoas? Porque é então desprezado em detrimento de uma 'ditadura do novo'? O que é ou deve ser exactamente esse 'novo' no trabalho com os sem-abrigo, para dar um exemplo?
Propõe-se "criação de valor social". Não é já isso que fazem as IPSS - tantas vezes com orçamentos apertados e com sacrifício pessoal de quem lá trabalha -, quando melhoram a vida de pessoas que, não fosse a sua existência, dificilmente teriam acesso, por exemplo, a cuidados básicos de saúde?
Posso estar a escrever asneira, claro. Se estiver, então peço que me expliquem o que deve valorizar a sociedade.
(DO)
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