quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Os velhos professores

Foram precisos dez anos anos para que os responsáveis pela Educação Regional emendassem o erro de obrigar os professores com muitos anos de serviço, nas suas horas de redução lectiva, a permanecer nas escolas. Violentados e perseguidos por campaínhas desenfreadas saídas da rigidez das fábricas, jovens ruidosos, colegas rancorosos e funcionários obedientes e prontos a marcar a respectiva falta (falta a quê?), os velhos professores foram-se retirando. Uns para a doença, outros para a morte; os restantes foram envelhecendo mais e aguentando. Estes vêem agora alguma justiça reposta (não toda porque o mal está feito e porque ainda não podem sair da escola em todas as suas horas de redução; a burocracia continua e o critério de separação entre as horas que têm que ficar na escola e as que não têm continua vago e condicionado à decisão de quem faz os horários). Assisti à violência, mas não calado (aqui). E não falo directamente de mim. Não tenho reduções e quem sabe se chegarei a velho. Comecei a dar aulas com um horário de 20 horas lectivas. Hoje tenho 22 horas (trabalhar à noite deixou de ser trabalho nocturno!) mais quatro de trabalho escolar que preencho, no exterior, praticando agricultura biológica. Não é da competência da política educativa reconhecer a importância pedagógica das hortas, dos pomares e dos jardins nas escolas. Por enquanto ainda estão ao nível do relvado que ninguém deve pisar.
Rogam-nos pela qualidade do ensino, subscrevendo tacitamente a inevitável técnica do balde (como o prova a eliminação da Área de Projecto, (aqui) disciplina do 12º ano, que incentivava a capacidade crítica, criatividade e autonomia): o professor despeja a matéria para os alunos que, depois de mastigada e resumida pelo google, a despejam nos testes. Ouvem-se, de vez em quando, vozes que assinalam a falta de empenho dos alunos; que andam apáticos, sem interesse, sem criatividade. Fechados na caverna (aqui e aqui) que outra coisa se poderia esperar? A solução, que nos deixa, por ora, descansados, vai variando nas designações e no formato, mas no essencial é a mesma de sempre: apontar em documentos oficiais o número correspondente às actividades que cada uma das partes terá que realizar para que todos tenham sucesso. Assunto encerrado.
Agora que, por aqui, se vai percebendo que humilhar e ofender não é forma de tratar professores, chega silenciosamente a permissão de passar algumas das horas de redução lectiva fora da escola. Obrigado!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Leo Haas (1901-1983), Jewish Children Marching in Terezin, 1942

Etching and aquatint on paper, 21.7 x 28.7 cm
Inscribed (in German) and dated, lower left: Terezin 1942, Für das Museum der Ghettokämpfer im Israel [to the Ghetto Fighters' House Museum in Israel]

domingo, 18 de janeiro de 2015

Salmo

Ninguém nos moldará de novo em terra e barro,
Ninguém animará pela palavra o nosso pó.
Ninguém.

Louvado sejas, Ninguém.
Por amor de ti queremos
florir.
Em direção
a ti.

Um Nada
fomos, somos, continuaremos
a ser, florescendo:
a rosa do Nada, a
de Ninguém.

Com
o estilete claro-de-alma,
o estame ermo-de-céu,
a corola vermelha
da purpúrea palavra que cántamos
sobre, oh sobre
o espinho.

 Paul Celan, citado em Bloom, Génio - os 100 autores mais criativos da história da literatura, Temas e Debates, 2014, p.889.

"MUST ONE SUFFER

and then feel death’s ice-cold breath on the nape of one’s neck in order to understand why one has been going around since earliest childhood with an ill-defined despondency close to melancholy?"

                           (Elie Wiesel, The Sonderberg Case, A knopf Book, 2010, p.3)                      

Thelonious Monk, Straight, No Chaser



sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Estados de Espírito



“Que aqueles que não sabem o que fazer nesta vida desperdicem o seu tempo a pensar na vida eterna. Se vivermos intensamente, virá o tempo em que adormecer será como uma bênção. Se amarmos intensamente, virá o tempo em que a morte será como uma bênção. (...) A vida que eu quero viver é uma vida que eu não poderia suportar na eternidade. É uma vida de amor e de intensidade, de sofrimento e de criação. (...) Do mesmo modo que merecemos uma boa noite de sono, também merecemos morrer. Porque deveria eu querer acordar outra vez? Porque deveria querer fazer aquilo que não fiz no meu tempo de vida? Todos nós temos muito mais tempo do que aquele que aproveitamos bem. (...) O sentimento de que a morte é distante e irrelevante torna a vida um desperdício. (...) Melhor seria se tivéssemos um encontro com a morte. (...) Não há nada de mórbido em pensar e falar sobre a morte. Aqueles que desacreditam a honestidade desconhecem as suas alegrias.”


(Kaufmann, W., The Faith of an Heretic, citado em Phillips, C., Socrates Café - a fresh taste of philosophy, Norton, p.160. tr. LFB)

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

domingo, 4 de janeiro de 2015

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

O mundo dos meus olhos

O futebol, a julgar pelo número de horas que a TV lhe dedica, deve ser uma coisa muito importante.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Hannah Arendt (D: Margarethe von Trotta)



"Diga-se de passagem que a linguagem administrativa se havia tornado a sua língua porque era totalmente incapaz de pronunciar uma só frase que não fosse um lugar comum." (...) A melhor oportunidade que Eichmann teve para mostrar este lado positivo do seu carácter surgiu em Jerusalém, quando o jovem polícia encarregue do seu bem-estar moral e psicológico lhe deu Lolita para se distrair. Passados dois dias, Eichmann devolveu o livro, visivelmente indignado: "um livro muito doentio" - (unwholesome) "Das is aber ein sehr unerfreuliches buch" - disse ao polícia."
            Hannah Arendt, Eichmann em Jerusalém, Tenacitas, 2003, p.105.